sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

VEM SER FELIZ

Confesso que gosto dessa frase. Não por carregar uma beleza inerente ou por constituir uma expressão filosófica de uma humanidade angustiada. Definitivamente não. Gosto dela porque, sem querer, uma importante empresa brasileira conseguiu expressar muito bem nossa modernidade capitalista.
Vem ser feliz. Compre no Magazine Luiza e acabe com suas angustias, sejam elas materiais ou existenciais. Eis a síntese de nossos tempos. O conceito de felicidade umbilicalmente unido ao de consumo. Se estou deprimido, compro. Alegre, também compro. Entediado, compro mais ainda. Comprar, comprar, comprar...Eis a receita que os filósofos a serviço da Dona Luiza exprimiram tão bem.
Na crise econômica que afetou os Estados Unidos ano passado, o governo brasileiro cortou impostos e colocou dinheiro no mercado para incentivar o consumo. Resultado...A crise virou “marolinha”. Estimular o consumo, produzir, consumir... e ser feliz. É a dinâmica capitalista. Mercado saudável, povo feliz, cantaria Zé Ramalho. 
É inerente ao moderno modo de produção global o estímulo ao consumo. O crescimento da economia é sinal de sucesso e sintoma de que todos continuam comprando. O último celular, que está nas Pernambucanas, o último modelo de carro, o tênis do momento...
Porém, a cada percentual de crescimento, a cada barriga cheia em uma churrascaria, a cada iPod ou “iFode” comprado, NOSSO PLANETA DEFINHA. Florestas viram pastos, animais perdem seu lar, rios são transformados em esgoto e as chaminés esboçam a catástrofe iminente.
A lógica: PRODUZIR, CONSUMIR E SER FELIZ, logo deMONSTRA sua verdadeira face: PRODUZIR, CONSUMIR...DESTRUIR...AUTODESTRUIR.
Há solução para esse impasse sob o sistema capitalista? Acho que essa é uma questão crucial que a humanidade precisa se colocar. O espectro do Armageddon ronda o planeta azul.

SAIMOV

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Programas oficiais de incentivo, oferecido aos enxadristas do “Banquinho do Xadrez"

1.     1.  Programa “Poupa Tempo”: sua finalidade é óbvia. Veja, se a desvantagem material é enorme e definitiva, ou o mate é iminente, então poupe seu tempo e o dos outros aderindo ao programa e abandonando voluntariamente o jogo. A vantagem adicional é evitar o vexame catastrófico que se avulta.
2.      2.  Programa “Conciliação”: sua finalidade é fazer com que jogadores desencorajados,  e sem o instinto kamikaze para se lançar ao ataque por temor de que o tiro saia pela culatra, proponham empate ao sujeito que esta na mesma situação do outro lado do tabuleiro. Uma saída elegante para quando o  impasse for enfadonho, indigno de se assistir e de mediocridade gritante.
3.      3.  Programa “Faça uma criança feliz, faça uma doação”: este programa, na verdade, é compulsório, e aplica-se quando o caboclo faz uma lambança das grandes, entregando de lambuja uma peça, e fazendo feliz com a doação o menininho adversário. Trocas desfavoráveis de material também contam como uma "variante" do programa. Ex: Dama por Torre; Torre por Peão; Bispo por Peão; Cavalo por Peão, etc.
4.      4.  Programa “Amizade sincera”: proposto pelo mui vilipendiado enxadrista Pedrinho Tortoise.O expert em questão sugere que o programa seja direcionado principalmente aos amigos que, ao perderem a partida por razões puramente enxadrísticas, admitam-no sinceramente, ao invés de colocarem a culpa do resultado em fatores "extra-cálculo enxadrístico",  como por exemplo: o demorado raciocínio do adversário;  o clima instável da cidade; as formas curvilíneas das francanas que desfilam pelo calçadão;   as doenças crônicas não debilitantes ou mesmo debilitantes que só são comunicadas após a derrota; o fumacê fedorento dos tabagistas; os barulhos ou ruídos com decibéis em níveis perfeitamente aceitáveis; a cantoria desafinada do Dud's e do Vair;; a gozação ininterrupta do Déd's;  o estarrecimento psicológico causado por catástofres e atentados ocorridos no outro lado do planeta;  as dores de cabeça súbitas e mal explicadas; os romances mal resolvidos que deixam o caboclo caidáço; as ressacas; a iluminação inadequada; o abatimento causado pela morte de parentes desconhecidos; a aparência sinistra, bisonha e repugnante dos adversários;  os comentários e palpites da galera da Central Permanente da Copa, o fato do tabuleiro ser de propriedade do vencedor, e etc. Enfim, pede-se que deixem de apontar os fatores extra-tabuleiro diversos, que todos sabem, mas ninguém comenta, não interferiram de modo algum no fracassado resultado do infeliz queixoso. Afinal, "quem move as peças no tabuleiro são os jogadores, e só eles são responsáveis pelas conseqüências destes".(Savielly Tartakower).
5.       5. Programa “Pensem nas criancinhas!!”: a adesão é voluntária e apela ao senso de caridade e compaixão dos enxadristas membros do grupo. Foi criado pela "central de providências" do grupo (seja lá o que for isso...) e é direcionado ao  "bem-estar" das "criancinhas" enxadristas do calçadão. É quase um serviço social ou um conselho tutelar enxadrístico. Configura-se quando se deixa vencer um ou mais amigos que se encontram em lastimável estado melancólico ou amargurado; ou em deplorável pindaíba financeira; ou na fossa; ou os que foram traídoscorneados recentemente e/ou constantemente; os que estão deprimidos ou/e em crise existencial; os convalescentes de doenças psicossomáticas;  ou os que simplesmente estão “pra baixo”, e que precisam dessa "força” (colher de chá) pra sair do negro túnel da depressão pós-moderna. É necessário discernir os realmente necessitados dos "falsos decaídos", mas os critérios são tão relativos quanto as interpretações críticas poéticas... Apenas almas “elevadas” e angelicais, como a do enxadrista Klaus Célsius e a do Dud’s Tozinsky são capazes de tamanho desapego... Vê-se o programa aplicado quando, por exemplo,  Klaus Célsius esta com pressa e deita o rei, deixando bem claro que sua vitória estava garantida não fosse sua desistência; ou quando  Dud’s Tozinsky deixa o “Racional Superior” (vulgo “Evaircair”) ganhar, simplesmente para não perder um amigo... Uma nobre ação, um  ato cristão que pode salvar a noite de um enxadrista combalido pelas mazelas da vida. Não esperem tal desprendimento supra-humano de enxadristas materialistas como Rafinha  "VIP" Carpa Mansa, Déd's "Khan"Rafa "Físico", Léozinho "Psycho Killer", Célsão Kinder, Uédson "Bixííím"(Édião), Leila "Cabra Macho", Tiaguinho MTVPedrinho "Tortoise", Fernandinho "Físico",  Profº Maurilão "Karamazov", Mauricín "Karamazov", Zappa Zaparolli"Monsignore" Manoel, Fabiano "Bibí" Palhacín, Ebola Víruslento, Saimov Kasparento, Alexandre Magnopirol, Carlinhos "Barba-Negra",  Ivair "Racional Superior", Bandana, Luquinha "Vôo cego", "Night", Marcelo "Rafa's Brother", Américo, Aquilles "Aquilo", Maurão "Vovô", "Seu" Lélio, Danilo, Sérjão, Japa "Cavalin Loco", Slovick, Berbél, Matheus, Vandré "Gafanhoto", Rodrigo "Carteiro", Rodrigo "Matemático"Renatinho "Mate-Aqui", Alex Miguelópolis, Zé Maria Miguelópolis, e demais colaboradores. Esse pessoal aí é cruel...
6.      6.   Programa "Desça da Gilette, Capivara!": no melhor espírito democrático, um projeto que visa desestimular os candidatos a "parafuso" no banquinho do xadrez. Como no mundo político, com seus ditadores vitalícios do tipo  Muammar al-Kadafi, Stalin, Pol Pot, Hosni Mubarak, Kim II Sung, Kim Jong II, Sadan, Putin, Papa Doc, Baby Doc, Fidél, Idi Amin Dada, Mao Tsetung  e congêneres[1], nenhum dos "tiranos do banquinho" adere voluntariamente ao programa, visto que este busca "socializar" o assento ("trono"), afastando do "poder" os déspotas,  para que todos possam ter a oportunidade de derrotar e vexar o Mauricín Karamazov. O problema é que, com o tempo, o próprio Mauricín Karamazov se tornou a mimese, o exemplo e o paradigma mais ilustrativo do "enxadrista ditador parafusado no banquinho". Um caso sócio-patológico-enxadrístico extremo!! 
           Forte inclinação à aparafusamento também se manifestam no "Racional Superior", no Carlinhos "Barba-Negra", no Uédson "Bixííím" no Profº Maurilão Karamazov, no "Slovick", no "Seu” Lélio, no Bibí "Palhacín", no Pedrinho Tortoise, no Déd's Khan e no Célsão Kinder; em menor gravidade no Klaus Célsius, no Ebola Viruslento, no Saimov Kasparento, no Luquinha "Tiro no escuro", no Rafinha "VIP" Carpa Mansa, no Serjão, no Léozinho "Psycho Killer", no Dud's Tozinsky, e demais capivaras.
      A idéia informal é criar um esforço coletivo, empreendido pelos já derrotados e pelos "aguardantes" (no caso do Vair, 'aguardente') em forma de "torcida", para ajudar o candidato ao papel de "chave de fenda" a desparafusar o pequeno tirano do tabuleiro que não quer deixar o poder!!
    
*Palavras de sabedoria: "O poder, como o THC, sempre sobe à cabeça." (Dud's).  


[1] Ver: Mundo Contemporâneo. Editora Terceiro Milênio.2007.

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PEDRINHO VS SAIMOV

ESSA FOI APENAS UMA DAS TRÊS DERROTAS CONSECUTIVAS QUE SOFRI. UM DOCE PARA QUEM ADIVINHAR QUEM ESTÁ COM AS BRANCAS. SAIMOV OU PEDRINHO? ENQUETE.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Para que mesmo serve o dinheiro? A quem mesmo serve o dinheiro?

                                           “Não, rico não. Eu sou um pobre homem com dinheiro, o que não é a mesma coisa” (Gabriel García Márques, Amor em tempo de cólera, 1985)
    O dinheiro, a meu ver, é bem vindo como conseqüência de trabalho honesto, digno e produtivo socialmente, pois na própria trajetória para produzir, conscientemente e com qualidade, é que nos aprimoramos como seres gregários que somos, e o aprimoramento pessoal por si só já vale o trabalho, mas não enche a barriga. O dinheiro é um meio, uma medida de valor para podermos efetuar a troca de nossa força de trabalho por bens e produtos. Numa metáfora mais crua, dinheiro é o sangue social do qual precisamos nos suprir para viver e atuar em sociedade, principalmente em sociedades assumidamente capitalistas, como a nossa. Mas nem por isso precisamos nos tornar sanguessugas, morcegos sanguinários em busca cega e desenfreada pelo vermelho vital do sangue social.  Uns se transformam em verdadeiros parasitas, outros em verdadeiros canibais, alguns em zumbis vivendo do sonho de enriquecer ou tornar-se  patrão, e a maioria, na qual me incluo, em mero gado domesticado, ou  "proletário-conformado". Raríssimos são os que têm a coragem para "chutar o balde" e viver de forma alternativa
     Mesmo nessa perspectiva o dinheiro é dispensável ou substituível, pois existiram, existem e existirão comunidades que vivem da permuta de bens e serviços (como indica o termo pecúnia, cuja origem latina é o substantivo pécus, gado, significando que em tempos remotos, mesmo em Roma, o gado era usado como meio de troca), ou da simples divisão do trabalho tribal.
   Prefiro colocar como meta a utilidade ou satisfação que o produto de nosso trabalho oferece às pessoas, e quanto mais pessoas se servirem do fruto dessa atividade virtuosa, acredito que maior será a sensação de missão cumprida, de pacífico contentamento e paz interior que nos invade nestas situações. Novamente, para minha pessoa, não há maior recompensa para um trabalho bem feito do que esta.
   Entretanto, estou ciente de que o próprio dinheiro tem o poder de comprar quase tudo nos dias de hoje. Inclusive pessoas. Mas não amigos! Indivíduos alienados, que nunca produziram nada e que nunca serviram a ninguém, desfilam por aí exibindo seus fetiches de consumo, causando inveja nos infelizes que ainda não perceberam que o maior dos bens possíveis sobre a superfície desse grão de poeira cósmica perdido no espaço sideral, para nossa espécie, não esta em nada externo ou alheio a nós, e sim em nosso íntimo, em forma de paz, alegria, harmonia com cosmos e satisfação de espírito.
                                                        “A paz é mais importante que toda justiça; a paz não foi feita para o bem da justiça, mas a justiça pelo bem da paz”.  Martinho Lutero, 1530.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

RIO 40º E MARX DE PALETÓ


Em 1998 chegou à ABIN (Agência Brasileira de Inteligência) uma estranha carta endereçada, mais estranhamente ainda, ao Monte Olímpo. Os peritos brasileiros tiveram grande dificuldade em decifrar o conteúdo da carta, uma vez que a mesma estava grafada em alemão e com péssima caligrafia. A priori pensaram tratar de espionagem estrangeira, porém, até agora nada foi comprovado. O mais intrigante disso tudo é que a carta tinha como destinatário o grande pensador Friedrich Engels e estava assinada por ninguém menos que Karl Marx.
Corre entre os peritos da ABIN, e não se sabe se isso tem algum embasamento, o boato de que após suas respectivas mortes Marx e Engels, por serem considerados semi-deuses (ao menos para alguns marxistas), foram parar no Monte Olímpo. Após algum tempo de adaptação começaram a fazer sérias críticas ao despotismo de Zeus, atribuindo á esse acusações de abuso de poder e opressão aos outros deuses. Teria havido muitos atritos entre os dois alemães e o alto executivo olímpico, porém, nunca foram tomadas medidas mais severas por parte de Zeus. O estopim da crise teria sido em 1997 do calendário cristão, quando Marx, e não foi provada ainda a co-autoria de Engels, publicou e distribuiu por todo Olímpo o ofensivo “Para Crítica do Zeus do Olímpo”, com prefácio de Homero e tudo mais.
Prontamente o filho de Cronos decretou estado de sítio e expulsou Marx, que ao que tudo indica teria recebido asilo político no Rio de Janeiro.
Segue a integra da carta já devidamente traduzida:

“Querido Engels.

Terra estranha essa que me serve de exílio, por onde ando parece que todos me observam. Crianças param para zombar de mim, dão-me tapas e até já roubaram meu chapéu, aquele, que você me deu. Não suporto mais esse calor infernal, não é a toa que as pessoas por aqui andam quase nuas. Sinto-me sufocado nesse terno de lã. A propósito Engels, será que você poderia me emprestar algum dinheiro para comprar algo mais adequado ao clima?
Que cena horrível presenciei ontem a tarde! Estava passeando pelas ruas da cidade quando de repente um jovem de camisa vermelha, devia ser o uniforme do sindicato ou do partido comunista local, era perseguido por quinze outros com camisas brancas adornadas pela cruz de malta. Esses últimos provavelmente pertenciam a alguma organização burguesa. Por sorte o garoto de vermelho era esperto e conseguiu fugir.
Horas depois passou uma caravana de homens com camisas iguais ao do garoto que lhe falei. Estavam indo se concentrar em um enorme prédio em forma de círculo que chamavam de Maracanã. Deve ser o nome do sindicato.
Ah, e que fervor revolucionário tinham esses homens! Todos gritavam palavras de guerra... Mengo! Mengo! Mengo!  Não imaginava que nessa terra o movimento operário era tão organizado. Penso eu Engels, que este país esta a beira de uma revolução comunista, pois nessa mesma tarde, ao passar por um bairro operário sobre uma colina, avistei bandeiras vermelhas com a sigla de algum grupo revolucionário. C.V. Deve significar algo como “Comunismo Vivo”, “Comuna Vermelha” ou “Colina Vermelha”.  O mais impressionante é que os trabalhadores enfrentavam de armas nas mãos a guarda contra-revolucionária que tentava subir a colina
Ah, caro Engels, acho que estou em um momento crucial da História, sinto que logo o proletariado desse país tomará as fábricas e fazendas capitalistas. Basta sair ás ruas para sentir o cheiro da revolução. O espectro do comunismo ronda essa cidade e quero dar minha contribuição a esse povo.
Companheiro, não mais me estenderei, pois tenho uma revolução pra fazer. Saiba que nem mesmo a distância pode tirá-lo do meu coração. Até breve.
Karl Marx.
Rio de Janeiro, 1º de maio de 1998.”

Sabemos através de depoimentos de populares que na noite do 1º de maio um homem barbudo, já com seus sessenta anos de idade e trajando roupas um tanto chamativas, subiu em cima de uma mesa em um boteco da zona norte e começou a xingar o dono de “porco capitalista”, “explorador”...Quebrou copos e garrafas até que a Polícia Militar chegou e delicadamente o levou para o D.P.
Contam os que estavam presentes em seu depoimento que o homem, quando perguntado seu nome, disse que era Karl Marx. Sabe-se que hoje ele está em um hospital psiquiátrico todo machucado por ter brigado com outro interno, um tal Napoleão.

SAIMOV

OS MESTRES

MAIS UMA VEZ

SAIMOV KASPAROV VS MAURICINHO

A tarde do 24/01 estava ensolarada. Mauricinho transbordava autoconfiança após vencer Zappa. Chamou Saimov de o “Bragantino” dos tabuleiros, colocando a si próprio como Santos. Debochou, deu a risadinha sarcástica...
Saimov iniciou com a abertura do PD, Mauricinho fez o mesmo. O jogo se concentrou no flanco direito das negras, fortemente atacado. Após alguns movimentos o semblante sorridente de Mauricinho mostrava preocupação, pois Saimov obrigou o adversário a entregar o cavalo para evitar mal maior.
            Mais alguns movimentos... Cai o bispo preto. Nuvens negras pairam sobre Mauricinho, a tempestade não tardará. A defesa de Saimov é consistente, as negras estão dispersas e mal organizadas, o colapso é inevitável.
            Tal qual um pequinês rosnando na boca de um rottweiler, Mauricinho ameaça, mas apenas verbalmente. A partir daí Saimov usa a teoria da simplificação, exposta por Capablanca. Logo fica evidente a inutilidade da resistência. As negras abandonam. Saimov vence Mauricinho.
            Mais uma vez...
            
Eis o momento derradeiro, onde Mauricinho percebe a inutilidade de continuar se debatendo.

texto e fotos: Saimov, jornalista imparcial

sábado, 22 de janeiro de 2011

SUGESTÃO DE TEMAS PARA DEBATE

O Maurício sugeriu alguns temas para debater. Mandem mais sugestões ou escolham algum dos tópicos abaixo. Escolheremos por maioria simples e depois começamos os debates.
Continuem mandando notícias do xadrez e postando fotos também. Sugiro o tempo de um mês, pelo menos, para cada debate. Assim, teremos tempo para escrevermos textos de qualidade e refletirmos sobre os mesmos, ainda mais tendo em vista que todos trabalham.  Continuo defendendo a necessidade de divulgarmos mais o blog e trazermos novas pessoas. O que acham? Essa é apenas minha opinião e me submeto a vontade da maioria. Segue os tópicos sugeridos pelo Maurício.

SAIMOV KASPAROV

Sugestões de Temas: (Por Maurício Mendes)
1-      Análise critica da “Constituição brasileira”
1.1- Levantamento das principais contradições.
1.2- Sistema econômico e seus desdobramentos.
1.3- Sistema político
1.3.a- Análise histórica para compreensão dos principais condicionantes da situação atual.
               1.4- Sistema tributário.
               1.5- Questionamento do “Estado”
                       1.5.a- Bases da estruturação jurídica.
                       1.5.b- Bases da estruturação burocrática
                      1.5.c- Sistemas de privilégios (estratificação social)
                      1.5.d- Sistema de distribuição das riquezas nacionais
                      1.5.e- Custo do Estado.
                 1.5.f- Histórico cultural da desvalorização do trabalho como fonte de riqueza.
              1.6- Interesses do povo versus interesse do Estado?
              1.7- Democracia?
              1.8- Acessibilidade e interatividade (meios de informação/comunicação).
              1.9- Educação.
              1.10- Saúde.
              1.11-(...?)

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Réplica à crítica eufemisticamente chamada de “autocrítica”.

Réplica  à critica eufemisticamente chamada de “autocrítica”.
    Bem, pediram-me, e o editorial esta aí. Pensei, escrevi e encorajei outros a escreverem. Não li  nenhum rearranjo, nem correção, nem  comentário que o tornasse mais sucinto, mais sintético ou mais “adequado”. E olha que o enviei a diversos amigos. Mas observo que  há uma nítida tendência interna "centralizadora e autoritária", que “quer porque quer” achar um "caminho certo", "uma via construtiva", "um nexo intertextual", uma “inserção social”. Ora! Deixe que cada um pense por si e que escrevam de acordo com suas aptidões e preocupações! Com o tempo, gradualmente, os grupos, os interesses e as ações se coadunarão. OU NÃO!!  Isso aqui não é partido político, não é agremiação política, não é o PSTU! É um Blog de enxadristas que gostam de discutir e debater temas diversos!  Se tens a ‘consciência pesada’ por nada fazer pelos desfavorecidos, então aja, faça, atue, voluntarie-se! Existem inúmeras formas de ajudar o próximo. Agora mesmo, por exemplo: estão recolhendo donativos aos desabrigados da região serrana do Rio nas sedes dos DP'S da PM, no Janjão, nos Bombeiros. Eu já o fiz, não como obrigação, não porque estava constrangido por nada fazer a respeito de meus contemporâneos. Conheço o valor da caridade, sei de minhas ações, respondo por elas e não preciso que me lembrem de que vivo em sociedade! Não sigo religiões, nem partidos, nem "ordens", nem ideólogos, nem modas, nem tendências, nem idolatrias ou ícones de qualquer tipo que seja. Tenho ojeriza a ordenamentos, leis, normas jurídicas, regras, prescrições, preceitos, diretrizes, conselhos "bonzinhos" e coisas desta lavra. A autoria de minha vida é minha, e das imposições sociais, econômicas, políticas, profissionais, históricas e geográficas sob as quais vivo. Elas já são mais do que o suportável como determinações e condicionamentos. Não preciso de mais correntes atadas à meus calcanhares. Não sou escravo nem servo de ninguém, além de mim mesmo.
    Quando Vossa Eminência diz que “ninguém” lê além do que escreve, comete um ledo e infantil engano. Esta generalizando, provavelmente querendo refletir e atribuir um comportamento seu aos demais. Tenho lido diariamente tudo o que vem sendo escrito. Achei muito interessante os textos sobre a descriminalização do aborto, esclarecedores. O esforço esta sendo feito. Não fui eu quem colocou “futilidades” no nome e no corpo do Blog. Tenho feito o melhor possível com o pouco tempo que tenho de sobra. Agora, se o senhor não esta satisfeito, que publique neste privilegiado espaço coisas que não sejam vômitos ou futilidades.
   Outra coisa. O termo “vomitar os próprios textos” é um vergonhoso plágio intelectual do Profº Drº Gigante; pois era assim que ele “recomendava” a seus alunos que fizessem com seus escritos, a princípio. Escreva algo que preste como modelo, já que o que foi escrito e postado é vômito egoístico/asfixiante para o senhor.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

AUTOCRÍTICA

"Pretendemos constituir um fórum de debates aberto. Debates que busquem respostas e soluções que amparem, sustentem e auxiliem a edificação de uma sociedade mais justa e igualitária. Utópico? Talvez... Mas “um sonho que se sonha junto é realidade” (Raul Santos Seixas)"

Sejamos sinceros. Seria bom se realmente estivéssemos nesse caminho. Porém, debate é a única coisa que não sai por aqui. Cada um só quer "vomitar" seus próprios textos de forma totalmente desconexa. Pelo que percebo raramente alguém lê com atenção o que não é postado por si mesmo. O blog está virando um verdadeiro entulho de vaidades.
Pior, continua totalmente restrito e sem inserção social alguma. Novamente faço um apelo aos amigos para que divulguemos mais o blog, ampliando o número de seguidores e trazendo “ar fresco” para nossos virtuais pulmões.
Apelo também no sentido de escolhermos algum tema mensal ou bimestral para discutirmos, pois essa me parece a única forma de estabelecer um debate organizado e produtivo. Do contrário, continuaremos escrevendo para ninguém ler e isso me parece perda de tempo.
Proponham uma lista de temas para votarmos. Claro que paralelamente aos debates seria legal continuarmos com os comentários do xadrez.
Um abraço a todos

SAYMON

PS. ME DESCULPO POR HAVER ESQUECIDO DE ASSINAR ESSE TEXTO, ASSIM COMO FAÇO COM TODOS OS OUTROS

Enquete com os seguidores.

 Enquete baseada em uma ficção pós-moderna sobre elementos tradicionais e contemporâneos da cultura ocidental herdada.
 The Big Boss’ tale.
   Imagine, através de uma experiência mental, que você tem um patrão ao qual nunca viu o rosto. Você, por varias vezes, e por motivos diversos, “pediu as contas” a esse patrão, o qual parece ser surdo aos seus pedidos. Seus insistentes pedidos de melhores condições de trabalho, de aumento de salário, de “promoções” caem em ouvidos moucos. O tal Patrão se encontra, segundo dizem, à incomensuráveis distâncias no estrangeiro, mas também, dizem, tem escutas por toda a firma, vigiando cada um de seus passos. De fato, ele tem o registro de todos os seus feitos, de sua produtividade, de sua obediência as normas estabelecidas por “Ele”, e confiadas à funcionários comissionados que as interpretam, acreditando que você não é capaz de compreender a essencial do que o Big Boss vocifera.
   O que pensaria você deste Big Boss se ele, ao invés de lhe enviar ajuda nos momentos mais difíceis de sua missão à trabalho, aumentasse constantemente seus fardos com exigências totalmente alheias ao andamento de sua obra? O que pensaria se, além de ignorar seus rogos, “Ele” vivesse lhe imputando “culpas” e temores de punição por intermédio de seus diretores e de outros funcionários que juram ter contato freqüente com “Ele”? O que pensaria se, ao pedir satisfações acerca destas patentes injustiças aos “diretores”, eles dissessem que, se tentasse com mais empenho e pureza de coração, você conseguiria perceber as melhorias implementadas pelo patrão em seu ambiente de trabalho e que, com um pouco de paciência, poderia até mesmo falar diretamente com ele no momento propício? O que pensaria se, após deixar inúmeras mensagens no mural da firma, e nas caixas de reclamações, constatasse que nenhuma foi respondida até o momento, e que é provável que nunca sejam? O que pensaria se, de repente, quando não mais precisasse, aquele velho pedido fosse atendido de forma inconveniente e sem aviso algum, causando-lhe mais transtornos que benefícios, aumentando suas tarefas, aflições, sacrifícios e preocupações? E se percebesse que, tanto com os funcionários improdutivos e preguiçosos, quanto com os produtivos, o Big Boss tivesse a frieza de dispensá-los sem nenhum sinal ou aviso prévio? Justamente quando a família mais precisava deles?
   Responda uma das opções em relação ao texto:
1)      Você acharia que esta trabalhando para um megalomaníaco sem coração, que não merece seus préstimos?
2)      Você começaria a achar que o tal patrão é só uma ficção bolada pelo conselho executivo da firma, desconfiando que “eles” é que são os “donos” da firma, e que só “estão nessa” pelo prestígio e pelo ganho financeiro, pouco se importando com os que lhes são subordinados, inventando toda a estória de Grande Chefe para acalmar seus ânimos?
3)      Você passou a não pensar na hipótese da existência ou inexistência do Chefão, pois acha que, além de enfadonha, as conclusões podem ser muito desalentadoras para você neste momento; e de qualquer forma, você tem de trabalhar como todo mundo?
4)      Você acharia que pode haver algo no ambiente de trabalho que intoxica as mentes, levando-as a acreditarem em um ilusório Big Boss paterno e atencioso?
5)      Você pensaria que, na verdade, o que existe é um grande complô por parte da cúpula administrativa para induzir os trabalhadores à ilusão coletiva de que o Patrão existe e que vela por eles, tornando-os assim confortados, conformados e comportados como ovelhas, trabalhando sem questionar a utilidade dos produtos que fabricam e nem sobre os lucros e direções que o comércio de tais bens gera?
6)      Você poderia pensar que a razão de o Big Boss não se manifestar e não lhe atender é que, como dizem os “diretores”, você é importante demais, e o Chefão, além de ocupadíssimo, não quer nem aventar a possibilidade de perder ou de ter de substituir tão valioso operário, deixando o seu caso, e os de mesmo tipo relacionados aos demais empregados, aos cuidados dos funcionários de “cargo comissionado” da empresa, para ganhar tempo com você em atividade?  
7)      Você pensaria que deve ser desimportante demais como indivíduo para que o tão poderoso Patrão se ocupasse com seus pedidos e queixas infantis; e que “Ele” sabe muito bem do que você precisa, pois conhece a história de inúmeros funcionários, e que só age quando sabe que seus esforços reverterão em prol de seus subordinados.
8)       Você se permitiria pensar que “Ele” não o demite porque reserva a você um ótimo prêmio de aposentadoria pelos anos de bons serviços prestados a “Ele” e que, se Ele não se desfez de você até agora é porque suas chances de se enquadrar em Seus desígnios auspiciosos de retiro são grandes?
9)      Você acharia justo pedir ao Grande Chefe benesses e tratamento que você, já tendo uma boa colocação na “firma”, não dispensa aos que lhe são hierarquicamente inferiores?
10)   Você já notou que muitos de seus camaradas são exonerados justamente quando mais estão satisfeitos com o serviço, após décadas de aprimoramento e um lento e árduo processo de adaptação?
11)   Você já percebeu também que nenhum dos supostos “bem-aposentados” nunca voltou para lhe contar das maravilhas que vivenciam na ilha de descanso, paz e prazeres prometidos pelos porta-vozes do Big Boss?
12)   Você pensaria que os boatos de uma aposentadoria feliz serão confirmados quando sua hora chegar?
13)   Você notou, após alguns anos de trabalho assíduo, pontual e produtivo, que a categoria dos diretores recebe salários que correspondem a varias vezes o seu, e que eles trabalham um décimo do que você trabalha?
14)   Você começa a desconfiar seus chefes imediatos sabem de algo que você não sabe; algo que eles não querem que você saiba?
15)   Você continua acreditando que os bandos de chefes viciados, pedófilos, corruptos, falsos e debochados são mesmo o melhor que o Grande Chefe pôde escolher para lhe retransmitir Suas ordens e elogios?
16)   Você já chegou a cogitar que o Big Boss seria uma fantasia criada por uma turba de medíocres administradores que só estão em seus cargos por uma injusta e inflexível lei do mais forte e mais “bem-nascido”?
17)   Você já parou e pensou que esta louca fantasia se tornou uma lenda dentro da empresa, e um tabu muito forte para ser discutido? E que os diretores continuam amamentando os de baixo escalão com o leite deste “conto de ninar” para que tenham a sensação de que serão recompensados “um dia” por sua disciplina, apoio e bons serviços?
18)   Isto tudo é uma alegoria inventada por um ateu?
19)   Isto tudo é uma parábola cruel e fria sobre a experiência existencial?
20)   Isto é nada mais do que mais uma cínica ficção pós-moderna que busca alienar ainda mais os fracos de opinião?
21)   Isto é uma analogia profana, que desrespeita as fronteiras éticas entre o sagrado e o secular?
22)   Isto é uma metáfora desconstrutivista, elaborada com a finalidade de confundir e chocar?
23)   Isto tudo é uma tentativa tacanha de demonstrar as similaridades entre as estruturas do mundo religioso e as do mundo do trabalho, para demonstrar algo que não ficou claro no texto?
24)   Isto é desencanto de uma mente fodida e atormentada, que provavelmente perdeu, há tempos, a fé no que se convencionou ser digno de crença.
25)   Isto é sujidade imunizante; ou seja, é o medo de que algo realmente importante esteja acontecendo e que dele não estejamos participando. Por isso criamos visões trágicas, pessimistas e desalentadoras sobre artigos de fé.
26)   Isso é coisa de um merdinha amargurado, infeliz e anormal?

27) Você notou que o conselho executivo da grande firma é composto por indivíduos  notóriamente promíscuos e imorais; que exigem de você o contrário do que fazem?  
   Responda nos comentários. Divulgaremos a resposta vencedora e a comentaremos.

As cabeças coroadas.

                                             As cabeças coroadas.

Existiram e existem ainda hoje muitos tipos de reinos e monarquias. Aristóteles, filósofo grego que viveu no século IV A.C, já havia classificado as formas de governo em três tipos principais, a saber: a Monarquia (o governo de um só), a Aristocracia (o governo de alguns), e a Democracia (o governo de muitos). Na Monarquia absoluta, muito difundida na Europa nos séculos XVI, XVII e XVIII, todos os poderes políticos do Estado se concentravam na pessoa do Rei. O exemplo mais representativo deste tipo de reinado foi o exercido pelo rei Luis XIV (1661-1715), da França, chamado Rei Sol. Este rei costumava dizer que “o Estado sou Eu”, deixando claro que todas as decisões políticas importantes deveriam passar por sua avaliação e aprovação.
    Ainda segundo Aristóteles, quando um monarca se desvia das leis pré-estabelecidas e passa a governar com desprezo pela vida e pelos direitos individuais de seus súditos, a Monarquia se transforma em Tirania, ou seja, o rei governa apenas em beneficio próprio. Na prática do governo monárquico o que se observa nos dias de hoje são monarquias mistas, ou seja, monarquias onde os poderes do rei são contrabalançados por outras fontes de poder estatal, como o Parlamento (na Inglaterra), a Constituição (em Antígua, Estado independente, integrante da Comunidade Britânica; em Barein, no Golfo Pérsico; na Bélgica; na Dinamarca; na Espanha; na Holanda; na Jordânia, país do Oriente Médio; no Kuwait; no Luxemburgo e em Liechtenstein, países europeus; na Malásia, país asiático; no Marrocos, país africano; no principado de Mônaco; no Nepal, país centro-asiático; na Noruega; na Nova Zelândia, súditos da rainha Elizabeth II, da Inglaterra; em Papua Nova Guiné, país da Comunidade Britânica, em Samoa, na Oceania; na Suazilândia, país africano; na Suécia; na Tailândia, país asiático; no Reino de Tonga, um conjunto de ilhas da Oceania), e o Estado de Direito (como em Andorra, na Europa, que possui um príncipe, mas é governada por representantes do governo espanhol e francês, com o consentimento dos representantes do Conselho Geral de Andorra).  Mas ainda existem monarquias absolutas como no Butão, país asiático a leste do Himalaia; no Catar, país do Golfo Pérsico; no Lesoto, país africano; em Omã, na península arábica; na Arábia Saudita, onde não há constituição escrita e o rei escolhe o conselho de ministros.
    O poder dos reis foi justificado pela “doutrina da natureza divina dos governantes”, sustentada por filósofos e pensadores europeus dos séculos XVI e XVII, como Jean Bodin (Os Seis Livros da República) e Thomas Hobbes (O Leviatã), e vigorou até o advento das idéias iluministas e a eclosão da Revolução Francesa, que extinguiu o chamado Antigo Regime, baseado no poder absoluto dos reis, e nos privilégios dos nobres e do clero católico em detrimento das classes populares. A doutrina do poder divino dos governantes é muito antiga, e foi tomada ao “pé da letra” em algumas épocas e lugares. Por exemplo, os Faraós do Egito, os Imperadores Romanos, Os Reis Carolíngios[1], os Príncipes Orientais (da Babilônia, da Assíria, da Pérsia, da Índia, da Armênia, e outros), os Príncipes Bizantinos, os Czares Russos[2], os Imperadores Astecas, Maias e Incas, e até o Imperador do Japão até o final da Segunda Guerra Mundial eram considerados Deuses Vivos, ou Seres Divinos. Duvidar desta condição celestial dos reis era incorrer em blasfêmia, geralmente punida com a pena capital (execução pública). Alguns reis da Idade Média, chamados “reis taumaturgos” [3] eram mesmo considerados milagreiros, e acreditava-se que um toque ou um simples olhar do soberano era capaz de curar as mais diversas e fatais moléstias.  Com o decorrer do tempo novas doutrinas políticas vieram a contestar o poder divino dos reis, mas ainda hoje se encontra pelo mundo a mistura de religião e política que faz parte da História da humanidade a milênios.


[1] Ver: Halpen, Louis. Carlos Magno e o Império Carolíngio. Editorial Inicio. Lisboa, Portugal, 1970.
[2]  Ver: Romanoff, N & Payne, R. Ivan , o Terrível. Trad. Aurélio de Lacerda. Editora Nova Fronteira. RJ, 1975.
[3] Ver: Bloch, Marc. Les Rois Thaumaturges.(1924) Ou: Bloch, M. The Royal Touch: Sacred Monarchy and Scrofula in England and France. Trad. J.E. Anderson. Londres: Routledge & Kegan Paul, 1973.

Editorial.

   Este não é, nem será, um Blog de acadêmicos nerds. Entretanto, postará textos acadêmicos, literários, filosóficos ou científicos que se comprometam com os princípios expostos nesta apresentação. Este não é, nem será, um site para especuladores comerciais e investidores a procura de lucros e vantagens obscuras na net (rede). Aqui não imperará a “Lei de Gerson”!  Contudo, estará aberto aos que quiserem contribuir com soluções aos problemas nele discutidos.  O Blog também não foi criado para propagandear o nome de nenhum autor em particular, nem para divulgar as obras que fazem a cabeça de um ou outro dos membros do grupo do “Xadrez”. No entanto, sempre que possível, serão oferecidas as referências bibliográficas dos trabalhos consultados por seus membros para fundamentarem seus argumentos; o que significa que aqui serão respeitados os direitos autorais e leis de propriedade intelectual vigentes no país. Este Blog não surgiu para veicular lixo eletrônico, e muito menos plágio de refugo cultural. Não obstante, isto não quer dizer que haverá ‘censura prévia' de material para publicação. Entendemos que: (a) Seus membros serão esclarecidos o suficiente para evitarem as vulgaridades e banalidades dispensáveis, que só fazem por ferir a sensibilidade de pessoas, gêneros, grupos religiosos, etários e raciais; (b) Que estarão cientes do respeito devido às tradicionais e as novas identidades sociais; (c) Que cuidarão de evitar o desperdício de valiosos recursos informacionais, como o presentemente oferecido, sabedores da inacessibilidade informativa generalizada vivenciada pela maior parte de nossa população; sabedores da carestia e marginalização sofrida por nossos povos nativos; da miséria em que vivem os desabrigados, os indigentes, os idosos de baixa ou nenhuma renda, as famílias empobrecidas, os “meninos de rua”, os migrantes e imigrantes de nossa terra, os presidiários escondidos do resto da população por um asqueroso apartheid social de causas históricas.  
   Quase todos estes foram vítimas de um sistema econômico/político explorador e torturador, cujos propagadores não se envergonham de se apresentarem nos nossos plenários e câmaras legislativas com suas contas bancárias recheadas com nossa riqueza nacional, de desfilarem em nossas avenidas com seus carrões importados, de planarem em nossos céus com seus jatinhos e helicópteros, de fincarem raízes em nossos campos com seus latifúndios usurpados, e de boiarem em nossos mares e litorais com seus iates, lanchas e sobre suas ilhotas particulares! Estes, que não se ressentem do contraste marcante entre suas inúteis viagens internacionais, cujo proveito, se existe, é o mais egoisticamente imaginável possível, e a visão dos lamentáveis e indignos transportes oferecidos pelo Estado aos nossos trabalhadores rurais, aos nossos estudantes, aos nossos operários metropolitanos, aos nossos doentes...  Aqueles que, além da desfaçatez explícita de nos roubarem sob nossos narizes, não se cansam de lembrar-nos autoritariamente sobre “com ‘quem’ estão falando!”. É sobre eles, com eles, e com a classe política comprometida com este ‘status quo’ que os representa, que falaremos da exclusão e injustiça social geral que grassa em nosso país. Nossos membros hão de entender que usuários de recursos como este Blog, por mais banal que o serviço possa parecer hoje, são privilegiados em vista da condição em que vive e se comunica a maioria alienada de nosso povo, e que estes internautas estão também endividados com estes que contribuem compulsoriamente, pela força opressora do monolítico, jurássico e voraz Estado brasileiro, com seu suor, seu sangue, seus filhos e sua energia vital para a manutenção desse enorme Leviatã enfermo...
   Este Blog, portanto, não foi idealizado para incentivar ainda mais o consumismo desenfreado e extasiado que caracteriza nossa sociedade atual. Isto tudo já esta sendo feito agora mesmo, nos moldes capitalistas e em ritmo alucinante, por meios mais rentáveis, otimizados e eficazes, por toda a sociedade contemporânea, e seus reflexos na web (teia) são muito óbvios para serem comentados, e muito mesquinhos e repugnantes para serem aqui reproduzidos.
   Pretendemos constituir um fórum de debates aberto. Debates que busquem respostas e soluções que amparem, sustentem e auxiliem a edificação de uma sociedade mais justa e igualitária. Utópico? Talvez... Mas “um sonho que se sonha junto é realidade” (Raul Santos Seixas)
   Portanto, estaremos sempre abertos aos leitores que desejem criticar, debater e contribuir para a elaboração de uma arena democrática de diálogos.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Rumo ao fim

Caro Saimov
Ao ler seu texto, percebi um ótimo espaço para divagar um pouco pela filosofia do Direito.
O Direito norte-americano possui dois institutos que em muito nos ajudam a compreender o que eu propus nas linhas anteriores.
Tratam-se de duas expressões latinas: malum in se e malum prohibitum.
Atos definidos como malum in se são maus por sua própria essência, não necessitando de qualquer aparato legal para justificar sua repreensão pública e moral, p. ex. estupro ou assassinato. São atos que a própria noção cultural humana entende com naturalidade tratar-se de algo nocivo, pelo menos dentro dos limites culturais em que vivemos.
Atos definidos como malum prohibitum são aqueles entendidos como maus tão somente porque a Lei assim o quis, p. ex. dirigir na contra-mão.
Perceba que o Direito, seja de qualquer país, não se preocupa com as intenções que levam aos atos, mas se preocupa sempre com os atos propriamente ditos, já exteriorizados para o plano concreto. Um bom exemplo disso é que o Direito jamais poderia condenar a intenção silenciosa de alguém que deseja tirar a vida de seu desafeto. Primeiro, a ação ocorre, e depois o Direito avalia quais os contornos do ato.
Dessa forma, no exemplo por mim citado, o ato de dirigir na contra-mão é considerado malum prohibitum porque as leis de trânsito assim o definem, mas o Direito não questionará as intenções que levaram determinada pessoa a cometer tal ato até que de fato o plano concreto seja modificado pela ação ou omissão da pessoa, p. ex. se em decorrência de dirigir na contra-mão ocorresse um acidente com vítimas fatais ou meros danos materiais. Aí sim as intenções do sujeito serão levadas em consideração, mas sempre buscando saber se a natureza do ato é culposa ou dolosa.
Após essa breve introdução, acredito que o ato de abortar é malum in se, pois interrompe a vida ainda no ventre de sua mãe, não permitindo à vítima qualquer voz perante seus algozes covardes.
Acreditando nessa mesma perspectiva, a Constituição de 1988, em seu art. 5º, caput, inicia o que chamamos de “Cláusulas Pétreas”, pois são imutáveis, mesmo se novo Poder Constituinte Originário refizer os contornos da CF vigente.
E no referido artigo, a CF determina que TODOS têm direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade. Falaremos sobre o que nos cabe, o direito à vida.
O novel Código Civil de 2002, em seu art. 2º, preleciona que: A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro.
Perceba que a personalidade civil, para o Direito Brasileiro, começa com o nascimento com vida. Contudo, como ficou claro, a Lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro, ou seja, do feto.
Pelo exposto, pode parecer uma séria contradição de minha parte ou até mesmo dos políticos afinados com a ideia da descriminalização do aborto proceder a tal alteração nos moldes da legislação vigente, tendo em vista ser clara e lídima a preservação da vida pela Lei desde a sua concepção.
Mas a questão que ora propus transcende os limites da lei. Questiona atos malum in se, fora, portanto, da esfera de proteção abstrata que a Lei proporciona.
Não se trata, portanto de subjugar os direitos do nascituro em favor daqueles afetos à mãe. Não há qualquer desnível hierárquico que consiga justificar diferenças de valores entre os direitos de um ou de outro. São todos direitos, em mesmo patamar de importância para a legislação, porque todos tutelam vidas humanas de forma equânime.
Contudo, quando falamos em aborto, o agente é sempre a gestante. É ela quem toma a fria decisão de interromper a vida nascente em seu ventre. Mesmo praticado sob as permissões legais do art. 128, CP, o aborto continuará a ser ato malum in se, pois não permite ao feto qualquer artifício de defesa. É um ato covarde por excelência, não tenho dúvidas, mas ainda assim é um ato praticado com frequência assustadora, e quem determina se ele acontecerá será a gestante e não o feto. Daí extraio a ideia de o aborto ser sempre entendido, em sede primeira, pelo prisma do corpo da gestante.
Sobre a questão de ser mais positiva uma política de planejamento familiar e conscientização, não tenho dúvidas de que seria bem melhor. Mas estamos falando do plano concreto em que vivemos. Se pensássemos assim, com certeza a melhor solução é a idealizada. Quando eu propus discutir a descriminalização, pensava no material que temos hoje e não em soluções insondáveis por ora. Seria muito melhor votarmos apenas em políticos conscientes de seu papel público e que não jogassem a favor da corrupção, mas não é o que temos. Seria muito melhor que a renda e a terra fossem distribuídas de forma mais justa, mas não é o que temos. Seria muito melhor não precisarmos lidar com questões como a do aborto, mas hoje é algo impossível. Confesso que não entendi muito bem o oitavo parágrafo do seu texto, porque ele não traz uma solução viável para o problema que estamos discutindo.
Sobre quando começa a vida, bem, como bom católico que sou, penso que ela começa com a concepção. E digo isso porque acredito que ali já há movimento, há uma essência que se não for interrompida, chegará ao seu ponto máximo, o indivíduo humano.
Por fim, sobre a questão das relações de trabalho que você tanto se preocupa, tenho a dizer que isso não pode ser vinculado a questão da descriminalização. Trata-se de uma hipótese generalizante, uma conseqüência que não se relaciona diretamente ao problema do aborto. Uma coisa é tratar diretamente do tema em questão, outra coisa são os reflexos do tema em outras questões. Se levarmos a discussão por esse lado, criaremos tantas variantes que nos perderemos sem nos posicionar efetivamente sobre nada.
Bem, é isso.
Acho q podemos propor outro tema, não é?

Rafinha Capa Blanca
19/01/2011

AINDA SOBRE O ABORTO

Camarada Rafinha
Pra falar a verdade, ainda não tenho uma opinião formada sobre a descriminalização do aborto. Ao contrário do que dei a entender (em razão do enfoque que escolhi), não sou contra por princípio.
Concordo plenamente com você no sentido de que a descriminalização, acompanhada por uma “estrutura institucional mais capacitada a promover maior suporte médico, psicológico e social às mulheres que optaram pelo aborto”, preservaria bem mais vidas do que o lamentável estado em que nos encontramos hoje.
Porém, ainda me sinto incomodado com a tomada de decisão sobre abortar ou não levar em consideração, primeiramente, a mulher. Gostaria que dissertasse mais sobre isso. Por que o direito da mulher tem primazia sobre o do bebê? Ainda mais que, como bem você colocou, o bebê é um ser indefeso e dessa maneira, o Estado deveria zelar ainda mais por sua vida. Ainda penso que nem a mãe e muito menos o Estado tem o direito de decidir sobre a vida ou a morte do feto.
Salvo quando a mãe corre risco de vida com a gravidez, penso que ela e o Estado devem garantir o melhor desenvolvimento possível ao feto. Se a mãe não o quiser, depois é outra história.
Quanto a outra questão, sei que o aborto é, na maioria das vezes, extremamente traumático para a mulher e que a descriminalização provavelmente não seria acompanhada pela banalização do aborto. Entretanto, trabalho desde a mais tenra idade e já vi todo tipo de constrangimento que a classe patronal é capaz de impor. Não acredito ser tão kafkaniano assim a pressão de empresas para que suas funcionárias abortem. E nesse sentido, posto o quão traumático o aborto é para a mulher, visualizo o trauma da trabalhadora pobre, caminhando para o aborto como um boi para o abate.
Concordo com Marx de que a primeira ação humana é para obter a subsistência e assim, é a existência concreta que determina (condiciona) a consciência, e não o contrário. Por mais pudor e traumas que o aborto traga à mulher, a pressão da subsistência, a necessidade do emprego falará mais alto. A voz do patrão será a sentença de morte do bebe. Não duvide de um patrão, meu caro. Já vi coisas que horrorizariam até mesmo Lúcifer (se ele existisse é claro).
Gostaria de saber se em sua opinião, que defende a descriminalização do aborto, esse poderia ser feito até qual mês de gestação. Quando você considera que já há uma vida no ventre da mulher? Qual o mês de passagem entre a vida e a “não vida”?
Por fim, concordo e partilho de sua preocupação com o atual estado das coisas, onde centenas de mulheres morrem em verdadeiros açougues em busca de um aborto clandestino. Uma política efetiva de planejamento familiar e de conscientização, aliada a uma condição mais digna de vida, não teria um impacto mais positivo e menos problemático?
Bom, vou ficando por aqui, mas gostaria de contribuição dos colegas para o debate levantado pelo Rafinha. Do contrário, cada um ficará postando seus textos, desconexos uns dos outros, e não chegaremos a lugar algum. Assim, faço também um apelo para que o Pedrinho entre no debate.

SAIMOV KASPAROV

Ao amigo Saimov

Caro amigo Saimov,
Suas indagações mais uma vez tornam-se extremamente positivas e bem-vindas.
Sobre quais os países optantes pela descriminalização, não posso lhe passar a lista completa, mas tenho de antemão que Portugal, Espanha, França, Bélgica e Itália já caminham sob essa nova forma de conceber a questão do aborto. Mas o rol por mim elencado não é exaustivo. Parte dessa informação pode ser encontrada de forma rápida e informal no site: http://www.acessepiaui.com.br/blog-do-oscar/paises-cat-licos-aprovam-a-descriminaliza-o-do-aborto/9205.html. Tenho certeza que uma pesquisa rápida no Google lhe trará boas informações complementares.
Em recente entrevista no jornal Folha de S. Paulo, o Frei Beto, religioso católico defensor da Teologia da Libertação, abordou a presente questão de forma muito lúcida e conseguiu, a meu ver, conciliar o discurso religioso com uma visão social e política verdadeiramente progressista. Segue o link da entrevista: http://www1.folha.uol.com.br/poder/819034-frei-betto-responsabiliza-igreja-por-ter-introduzido-virus-oportunista-na-campanha.shtml.
Sobre a questão de ser ou não o ato de abortar uma decisão que diz respeito apenas à mulher, necessito fazer algumas considerações.
Primeiramente, quando eu afirmei que a decisão cabe apenas à mulher, não excluí a perspectiva do ser humano indefeso que ainda habita as entranhas femininas. O que quis ressaltar é que a tomada de decisão leva em consideração, em sede primeira, o corpo feminino e não o do feto. Trata-se de um prisma que sempre terá em primeiro plano a visão do agente que pratica o ato.
Mas ouso discordar veementemente de você quanto ao argumento de o Estado promover a morte de indefesos ao legalizar o aborto.
Descriminalizar o aborto implica, como eu já mencionei no artigo anterior, em salvar um sem número de vidas, poupadas pela implantação de uma estrutura institucional mais capacitada a promover maior suporte médico, psicológico e social às mulheres que optaram pelo aborto.
Dessa forma, o Estado não promoveria a morte de indefesos, mas antes, agiria no sentido de contê-las ou até mesmo diminuí-las.
Devemos sempre ter em mente que o aborto ocorre e sempre ocorrerá, é um fato social que independe da posição adotada pelo Estado ou pela Igreja. O que devemos pensar é em como diminuir os casos existentes e salvar vidas!
Sobre a sua desconfiança marxista, acredito ser possível tranqüilizá-lo. É importante ressaltar que o aborto sempre foi e é uma ação extrema para uma mulher e que, acredito, afeta consideravelmente sua estrutura psicológica.
Não podemos tratar a questão como de fácil aceitação para o universo feminino. Não se trata de um ato simples e banal para quem aborta.
Tenho certeza que o Pedrinho poderia nos abrilhantar ainda mais sobre a questão trazendo a este caloroso debate a perspectiva da psicologia, principalmente sobre as representações simbólicas que o tema exerce sobre o universo feminino e os traumas decorrentes de uma ação como esta.
Por isso, acho um tanto kafkiano acreditar que a sociedade capitalista em que vivemos criará uma estrutura trabalhista capaz de impor a força dos detentores dos meios de produção contra mulheres indefesas obrigando-as a praticar o aborto.
Por fim, falando sobre seu último argumento, não vejo uma boa analogia entre a progressão continuada adotada na Holanda e a descriminalização do aborto que porventura fosse adotada aqui na Terra de Santa Cruz. Acredito que são experiências muito distintas. E também não ajuda muito acreditar que o Brasil não teria o suporte cultural e estrutural capaz de comportar as mudanças que o tema necessita.
Apenas para ilustrar, quando ocorreu a Reforma do Poder Judiciário, que se consolidou pela Emenda Constitucional nº 45/2004, o Brasil, com a reforma conseguiu implantar um órgão de controle administrativo do Poder Judiciário, o Conselho Nacional de Justiça, que age como fiscalizador dos comandos institucionais adotados por todos os tribunais do Brasil. E de quebra, implantou junto um outro que controla o Ministério Público, o Conselho Nacional do Ministério Público, ambos tendo como membros juízes, promotores, advogados e pessoas comuns do povo, com notável saber jurídico. A França, escandalizada com a proeza brasileira, enviou uma delegação de juristas para tentar entender como os tupiniquins conseguiram implantar com tanta maestria um sistema tão inovador e eficaz como este, que para eles ainda estaria a anos-luz de ser alcançado.
Força Brasil!!!!!
                Abraços!

Rafinha Capa Blanca
19/01/2011