quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Diálogo entre Extraneus Mystikos e Cerebrum Skeptikós.

Skeptikós

- Nada, Mystikos, que não possa ser provado dentro de um rigoroso sistema de processos lógicos e reiteráveis satisfaz meu critério de verdade...

Mystikos

- Sim, entendo sua necessidade de provas. Mas, e as leis, e os valores morais e sentimentais? Como prová-los? Ou como dizer que não existem de verdade?

Skeptikós

- Certamente existem de verdade. Mas apenas no âmbito íntimo de cada individualidade, já que apenas individual e relativamente pode-se prová-los, testá-los e sentir sua validade. Veja Mystikos. Existe um mundo físico, mensurável e com leis próprias a regê-lo. Dentro deste, existem elementos químicos que reagem entre si através de leis químicas, não humanas. A dimensão biológica, na qual vivemos, também tem seus próprios meios de criar e recriar vida, adaptando-a, tornando-a mais ou menos complexa, com “projetos” que variam desde a simplicidade digestora de um verme da terra, pouco mais que um tubo digestivo; até o mais requintado dos seres por nós conhecidos, aqueles que chegam a questionar os processos naturais que os formaram. Alguns seres criam um ambiente diferente do natural para sobreviverem, são seres sociais. Apenas nesta dimensão o Homem cria leis, valores e princípios. E estas leis, princípios e valores dizem respeito aos interesses individuais, familiares ou grupais de quem os criou e de quem os acalenta e aceita como regras válidas e legítimas. Mas estas nunca são universais, pois os Homens não são iguais em seu universo psicológico, e o mesmo varia no tempo e espaço. As próprias regras e tradições sob as quais são criados podem torná-los fiéis adeptos delas; ou opositores irredutíveis contra elas!

Mystikos

- E o que dizer das leis biológicas que agem sobre a psicologia dos Homens? Os Homens não possuem então certos instintos que os fazem agir identicamente sob circunstâncias semelhantes? Os milhões de anos de processo evolutivo que os moldaram podem ser simplesmente relegados a um segundo plano dentro dos ambientes sociais? Estes imperativos evolucionários não podem ser tomados como referentes universais?

Skeptikós

- Não estou inclinado a falar de instintos no caso dos Homens. Pois, de repente, todos os comportamentos poderiam ser atribuídos aos instintos, e o Homem nunca seria “culpado” ou responsável por seus atos. O estupro estaria justificado pelo instinto reprodutivo? O assassinato estaria justificado pelo instinto de sobrevivência? O roubo estaria justificado pelo instinto de territorialidade e posse? O furto de leite estaria justificado pelo instinto mamífero do Homem? Prefiro pensar que as pessoas, e até mesmo os animais e plantas, agem de acordo com uma indistinta “lei de coerência”. Veja. A “lei da coerência” faria com que os seres vivos concebessem, em um suposto porvir, os mesmos acontecimentos, ações, fenômenos, fatos e desdobramentos que regularmente aconteceram no passado, e que acabaram por se fixar em suas mentes e sistemas nervosos devido ao longo processo de repetição, conformidade e coerência vivenciado pela espécie e pelo próprio ser individualmente no “tempo”. Explico: um agricultor conta com a chegada de determinada estação para efetivar a semeadura e plantio. Ele age de acordo com um ciclo que detectou, ou que detectaram e o ensinaram a esperar que se repita. As plantas, por sua vez, reservam água em suas estruturas, pois aguardam a chegada da seca, num mundo climático que vivenciam diretamente. Um animal “pressente” o ataque de um predador, já que este ataque supostamente é coerente com a atitude observada durante um longo processo de aprendizado desde seu nascimento. O Homem conta com a coerência física/química/climática do planeta e seus elementos para planejar seu futuro.

Mystikos

- Não é possível, a seu ver, que o mundo físico seja “englobado”, por sua vez, por um mundo “extra-físico” possuidor de leis e fenômenos que estariam muito além de nossa compreensão e previsibilidade? Ou que o universo quântico, com suas leis “exóticas” e “bizarras” esteja por trás de muitos dos fenômenos que não prevemos ou compreendemos? Estes “além” e “aquém” de nossa compreensão não poderiam nos influenciar através de um tipo de “efeito cascata”, primeiro alterando toda a rotina do tecido concreto/real, para nos alcançar na forma de eventos psicológicos, ou mesmo coletivos, que eu e muitos outros chamaríamos de “milagres”, “bênçãos” ou “prodígios”?

Skeptikós

- “Milagres?!” “Bênçãos?!” “Prodígios?!” Estes termos pressupõem um direcionamento organizativo e uma “previdência” algo antropogênicas e “cristãs” demais para meus critérios... Por que não chamar a tais eventos, que de fato eventualmente ocorrem, pelo nome de “sorte”, “acaso”, “fortuna”, ou simplesmente “destino”, uma vez que a "sorte" de hoje pode tornar-se o "azar" de amanhã? Se admito que no mundo natural e físico, mensurável e cognoscível, leis rígidas regem a ordem perceptível e quantificável, por que não posso igualmente supor que no mundo infra-natural ou ultra-natural outras categorias de leis naturais regem o que se nos apresenta como “desordem” e "caos"?

Mystikos

- É possível que assim se dê. Mas como negar que sua própria existência, por exemplo, dependeu de uma “vontade” alheia a sua? Como negar que ela dependeu, em um momento crítico, da decisão de “seres-superiores” e "anteriores" a você no tempo e no meio social? Sua fecundação, gestação e vinda a este mundo não foi escolha sua, foi? Você teria como provar que sim ou que não? Ou teria como provar que o meio social, não é, afinal, tão natural quanto era o meio nos primórdios da Vida?!

Skeptikós

- Não. Definitivamente não há como provar que escolhi quando, como e onde desembarcar neste mundo... Mas também não há como demonstrar que os meus ancestrais escolheram deliberadamente a “mim” exclusivamente!! Não poderiam “prever” nem mesmo se seus planos dariam o resultado que esperavam... Como eu disse, eles agiram dentro da “lei da coerência”! -“Agindo assim”, “fazendo isso ‘agora’”, fazendo “deste jeito”, é possível que coloquemos mais um ser humano no mundo; caso algum “imprevisto” não interrompa o processo! E mais. Muitos milhões de outros seres em potencial entraram na mesma corrida que o “eu em potencial” entrou! Num universo microscópico como o mundo dos gametas, só agora os Homens estão tendo acesso e fazendo intervenções!

Certamente houve uma “vontade” ou “coerência” da parte de meu “eu em potencial” em alcançar o “grande ovo”, isto sem falar que parte deste “ovulum” já era parte do “eu em potencial”... Já quanto ao meio social como meio natural, nota-se a diferença essencial nas estruturas que nós e outros animais sociais erigimos, e as estruturas naturais! Uma tenda, uma colméia, um edifício, um formigueiro ou uma térmita são produtos do "trabalho" destes seres vivos, e não produtos do trabalho da natureza inanimada, como uma caverna, uma gruta ou uma fenda na arvore, por exemplo, que podem abrigar diversas ordens de animais não gregários. Além disto, existe no meio social certa "ordem simétrica, geométrica e econômica", que são características dos animais sociais.

Mystikos

- Este raciocínio apenas consegue me convencer de que “vontades” estão em disputa no tabuleiro da vida. E, em se tratando de “vontades em jogo”, há sempre uma vontade que é precedente a anterior, que é precedente à anterior e assim retroativamente ad infinitum no tempo.

Skeptikós

- Não creio. A mim, a vida, a existência, assemelha-se mais a um cartão premiado na loteria cósmica. É algo tão improvável estatisticamente, algo tão aleatório que chega a nos iludir com aparências de ser algo banal... Talvez mais um artifício do próprio processo evolutivo para que não nos atemorizemos diante de sua raridade e, ao nos aterrorizarmos, tornarmo-nos presas mais vulneráveis aos outros seres que transitam pelo processo.

Mystikos

- Negas então, Skeptikós, que tenha havido uma vontade superior que imprimiu o movimento inicial ao “processo natural”, como você o chama; que tenha havido um primeiro motor aristotélico? Ou que haja uma vontade superior exterior ao processo cósmico que gerou-te, um “Deus ex machina”?

Skeptikós

- Não apenas nego esta ilusão, como nego que a “vontade”, seja ela o que for, consiga produzir o que concebeu inicialmente, já que teria de ser a mais poderosa das forças existentes para superar todos os obstáculos impostos pelos multifatores determinantes pelas forças já constantes do Universo físico. E certamente a acanhada vontade humana não é capaz de alcançar “integralmente” suas metas primordiais, mas apenas “satisfatoriamente”, quando muito. É desconcertante! O que “desejamos”, na maior parte das vezes, mal nos oferece o que nos inspirou o desejo. Acomete-nos, às vezes, a triste conclusão de que o que desejávamos era justamente o que não precisávamos!

Mystikos

- Podemos retomar esta discussão em momento mais oportuno Skeptikós? Estou com “vontade” de disputar algumas partidas de xadrez ainda hoje!

Skeptikós

- Certamente amigo Mystikos! Apenas lembra-te de que o que deseja a tua vontade pode vir a frustrar-lhe completamente os resultados e expectativas de teus planos iniciais! Mais vale que sigas a “lei da coerência”, tanto neste caso como nos demais que lhe sobrevierem ao acaso.

sábado, 27 de agosto de 2011

O MÊS DO CACHORRO DOIDO

Estava eu desfrutando do meu descanso nessa tarde de sábado quando recebi uma ligação ameaçadora. Nos termos mais revanchistas possíveis Mauricinho Karamazov me desafiava para uma nova partida. Como ainda não cansei de bater nele...As quatro horas estavámos no encardido Banquinho do Xadrez.
Antes da partida o interroguei sobre suas condições e ele me garantiu que estava ótimo. Intestino ok, sem dores nas costas, nada de incontinência urinária e nem reumatismo...Enfim, não havia desculpa.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

SAIMOV: A VOLTA OLÍMPICA

A noite dessa sexta feira foi frustrante para as tradicionais Hidrochoerus hidrochoeris (capivaras) que apareceram lá no Banquinho do Xadrez, exceto para Saimov, que deu a volta olímpica no banquinho após bater o trio de três Evaicair, Déds Khan e Mauricin Karamazov.
Invicto, Saimov ainda teve que escutar a tradicional ladainha sobre os motivos de sua vitória e pasmem, a justificativa dessa vez foi a sorte. O trio de três, querendo fazer sombra a Theodor Adorno, Herbert Marcuse e Walter Benjamin, está em vias de fundar a Escola de Frankafuck, que tem por tese central a importância da sorte no jogo de xadrez.

domingo, 21 de agosto de 2011

A desnaturalização humana.

Será que podemos dizer que um dos “sentidos” é salvarmo-nos de nós mesmos? De nossa crescente idiotice? De nossa elevada cretinice? De nossa superior etapa de estupidez? De nossa expandida fase de asneira? O tempo passa e nos multiplicamos como micróbios sobre o planeta. Mesmo sabendo que praticamente já exaurimos os recursos energéticos do orbe e que já avançamos até o limite dos recursos naturais disponíveis, não paramos para medir com a lógica necessária os custos da exaustão total destes bens naturais sobre o equilíbrio demográfico e social. Ou fingimos não medir e não saber, velhacos que somos. Velhacos e espertalhões que somos, vamos deixar um mundo esgotado, que mal supre as necessidades de nossos sete bilhões de habitantes, para que as próximas e ainda mais numerosas e ávidas gerações resolvam a questão ambiental, provavelmente engalfinhando-se em horrendas guerras fratricidas em torno de alguns poços de petróleo, jazidas de minérios e fontes de água potável. O mesmo velho e previsível comportamento belicoso, bem conhecido do "Homo Sapiens". O cálculo malthusiano[1] é inexorável. A explosão demográfica sem precedentes acarretará mortandade também sem precedentes!

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

NOTA DE FALECIMENTO

Faleceu ontem, por volta das 24:00, no PSCF (Pronto Socorro Canino de Franca), o morador de rua Totó da Silva. Totó, 2 anos de idade, morador de rua e sem raça definida, atuava com sua gangue no centro da cidade latindo atrás dos carros. Conforme depoimento de outro membro da gangue, o também menor P.S.G, Totó teria se estranhado com um figura de origem oriental, ainda não identificado. O pobre cão teria mordido esse senhor e 40 minutos depois começou a se debater, espumar pela boca, até que deu entrada no P.S.C.F. Com FMOPD (Falência Múltipla dos Orgãos por Patôgeno Desconhecido), o jovem cão faleceu na unidade hospitalar canina após mais de 2 horas aguardando atendimento na fila de espera.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

ETIQUETA

Eu na rede...
Ela na teia...
Eu tão vazio e verde,
Ela madura e cheia.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

ONDE O EVAIR ENFIOU O TACO???

A noite de sexta foi movimentada para alguns capivaras do "Banquinho do Xadrez". De última hora resolveram ir para o costumeiro bar do Miguelzinho. Achilles foi convocado via msn, mas...provavelmente estava assistindo o "Ultimate   Fighting  Championship de Tartarugas Marinhas". Rafinha Beata Branca nem atendeu ao celular, certamente assistia ao "Pergunte ao Bolsonaro", programa de purificação moral exibido por sua Igreja. Ebola Víruslento declinou do convite, pois pasmem, prefiriu escutar Air Supply falando palavras de amor ao pé do ouvido de sua amada.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Poema em desventura. Inspirado na postagem de Saimov.

Um sub-poeta convencido em delírio de que era profeta, iniciou desértica peregrinação em busca de sua intima redenção. Procurou por segredos, chaves, oráculos e desígnios, tudo obviamente em vão.
Vagando sem destino e desprezando qualquer atenção, evitou todos os riscos da midiática e globalizada exposição; preferindo as veredas estreitas com os pés descalços no chão.
Passou a escrever contra as formas de opressão, encontrando na sociologia o significado de sua própria e mísera exclusão. A ciência pareceu-lhe a panacéia derradeira, pois estava sem eira nem beira.
Já bêbado de sobriedade estatística e farto de insaciável fome numérica, viu-se ofuscado pela negra luz do esclarecimento súbito, caindo como Saulo em Damasco do cavalo de Tarso. Interrogado sobre a "quem" perseguia, respondeu que na verdade misteriosamente não sabia.