terça-feira, 27 de setembro de 2011

O BÊBADO E O ENCAPIVARISTA

Uma paródia de música para uma paródia de partida. Pensei também em "O Bêbado e o Pseudo-Enxadrista", mas acho que o título representa bem o que aconteceu no "Banquinho do Xadrez" nessa noite de terça.
 Rafinha Bata Branca e Evaicair se enfrentaram pelo título de "Capivara Mor" e aos presentes no evento o que não faltou foi emoção. Evair, vale ressaltar, já havia estourado três bafômetros da PM e só com muito custo conseguiu colocar as pecinhas de pé para enfrentar seu adversário. Como Evair é parecido com carro a álcool e só fica bom após esquentar, Rafinha obteve significativa vantagem no início do match, porém, conforme o andar, melhor, cambalear do jogo, a coisa se inverteu drásticamente.
Lá pela metade da partida  a situação era tal que se Rafinha fechasse os olhos e movesse as peças ao acaso, ganharia; se colocássemos um chimpanzé da bunda dourada, desses que servem de cobaias em laboraório, mesmo que mexendo aleatóriamente, ele também ganharia. Todos comentaristas já davam por certa a derrota de Evair. Mas eis que veio um aviso do além prenunciando a tragédia Rafaeliana.
Mauricinho Karamazov, que já havia saído para pegar seu ônibus, tal qual uma avê de mau agouro voltou repentinamente com a desculpinha de que precisava de  0,15 centavos. Que nada! Capivara fareja capivarada de longe.
Em alguns lances a Central da Copa já apostava não mais em Rafinha, mas dava o empate como certo. Mais uma vez foram calados pela genialidade e criatividade de nossos enxadrístas. Não vale nem comentar, vejam as fotos da sequência Kasparoviana de lances feitos por Rafinha. E olha que ele chegou todo galudinho perguntando se eu havia perdido para postar no blog.

                                       Rafinha joga (se é que podemos usar esse termo) de pretas
                                Acho que podemos chamar essa jogada de "caminho para morte"
                                                ...ou alto suicídio de sí mesmo...
                                       Esse teria sido o fim se Rafinha não houvesse deitado o rei antes.

Méritos para Evair, que é brasileiro e não desiste nunca.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

A FÊMEA DO BONOBO

           
Com 98 % de carga genética partilhada com os humanos, os bonobos provavelmente são um de nossos “parentes” mais próximos na árvore evolutiva. A sociedade dos bonobos é centrada na fêmea e de acordo com pesquisadores, diante de uma possibilidade de conflito entre dois bandos as matriarcas de um e outro grupo esfregam as genitálias para selar a paz.
Como ainda estamos longe do dia em que Dilma Rousseff e Cristina Kirchner esfregarão suas genitálias para resolverem uma contenda internacional ou mesmo judeus e palestinos transformarão a Faixa de Gaza em uma homérica suruba pacifista, temos que conviver com a violência como uma das possibilidades para resolução de conflitos, sobretudo, quando todas as tentativas de diálogo foram frustradas pela intransigência de ao menos uma das partes.
Gostemos ou não, a violência e repressão são indissociáveis, ao menos até hoje, de nossas organizações sociais. Os romanos submetiam seus prisioneiros de guerra a condição de escravos para colocar a economia em movimento; os indianos até hoje convivem com os subprodutos da sociedade de castas, mantida também pela violência. O século XX assistiu carnificinas de proporções titânicas movidas pelo radicalismo ideológico.  Enfim, a violência não é monopólio de cristãos, comunistas, muçulmanos, capitalistas, “bushistas” ou “lulistas” e não faltam exemplos de como está emaranhada na História das sociedades humanas.
Porém, violência e repressão, tal qual Mefistófeles, assumem aspectos e graus diversos. Paulo Freire, em “A Pedagogia do Oprimido”, desenvolve os conceitos de “ser mais” e “ser menos”, que a princípio podem parecer românticos e vazios, mas que na verdade levam a importantes questionamentos. “Ser mais” estaria ligado ao desenvolvimento de toda potencialidade humana (especialmente as relacionadas ao conhecimento) e “ser menos” diz respeito aos entraves a esse desenvolvimento. A partir desse raciocínio, percebemos formas de violência bastante veladas, porém, não menos efetivas e odiosas para suas vítimas. O trabalhador constrangido a passar metade do seu dia a serviço de seu patrão pode estar sendo violentado, uma vez que é despojado das mínimas condições físicas e mentais para ter contato com a ciência, a arte, o “ócio criativo”, enfim, ele não pode “ser mais”, pois seu salário mal paga sua subsistência e seu tempo livre é usado para “descansar com o único fim de estar descansado para trabalhar no outro dia”. Inclusive a “educação” que lhe é ofertada serve mais para qualifica-lo como mão-de-obra do que qualquer outra coisa. Esse trabalhador é violentado sistematicamente pela extenuante jornada de trabalho a que é submetido e reprimido de desenvolver-se intelectualmente pela impossibilidade econômica.
Milhares de crianças já nascem condenadas a “ser menos”, uma vez que desde a tenra idade deixam de “ser crianças” para tornarem-se parte importante no sustento da família. Assim, enquanto uns poucos desfrutam de “escolinhas de futebol”, livros da série “Vaga-lume”, “das feiras de ciência da escola”, das “Barbies” e “Hello Kitty”, considerável parte de nossas crianças se transformarão em adultos mal alfabetizados aptos apenas a construírem a riqueza alheia. Isso também é violência.
Nossa legislação permite que pessoas desviem exorbitantes somas de recursos destinados a hospitais e escolas para suas casas na praia, e ainda assim continuem impunes. Isso também é violência. A violência econômica muitas vezes condena mais pessoas a miséria que granadas ou fuzis e apesar de aparentemente “mais limpa”, ela apenas tem sua carnificina encoberta por uma ideologia disseminada por instituições estatais, pelos meios de comunicação e pelo “sistema de educação” que patrocina.
Muitos pacifistas, inclusive os mais sinceros, não reconhecem essas formas veladas de violência, porém, soltam gritos de horror quando grupos organizados de setores oprimidos da população empregam certas formas de violência, as vezes as únicas disponíveis, para sacudir o jugo da violência e repressão a que são submetidos diariamente. É a violência da autodefesa, talvez uma das mais legítimas formas de violência. Por vezes, uma maioria se vê em condições tão desesperadoras de existência que precisa se levantar, sacudir o jugo e nesse processo, ou emprega formas de violência e repressão ou se vê massacrada. Em 1964, no Brasil, o “querer evitar derramamento de sangue” possibilitou a instalação do “moedor de carne” dos militares. Allende, se tivesse prendido ou reprimido uma meia dúzia a mais de golpistas, poderia ter evitado o banho de sangue da ditadura encabeçada por Pinochet.
A violência existe, gostemos dela ou não, inclusive é condição sine qua non para a existência do Estado. Enquanto não aprendermos a solucionar conflitos esfregando as genitálias, ao modo dos bonobos, ou pelo diálogo, como parece desejável, teremos que conviver com ela, tentando utiliza-la da forma mais racional e progressista para a maior parte da humanidade e apenas quando e na medida estrita das necessidades. Novos holocaustos, Gulags, massacres por motivações racistas, religiosas ou ideológicas, devem e podem ser evitados a todo custo. Porém, o pacifismo, seja o cínico ou sincero, que não enxerga a violência econômica e social e nega o direito à rebelião ao oprimido, é tão opressor quanto o mais temido dos carcereiros.
O pensamento dialético permite compreendermos as coisas de forma não absoluta e sim em sua inegável condição histórica. O egoísmo, em si, não é bom ou ruim, podendo assumir um caráter progressista ou não em determinadas condições. A mesma ciência que proporcionou a penicilina possibilitou os atos terroristas de Hiroshima e Nagazaki. O medo que paralisa também nos mantém vivos e a coragem pode estar a um passo da insanidade. O mesmo acontece com a violência.

Saimov, “marxista anacrônico da  cabeça cheia de merda”

sábado, 17 de setembro de 2011

Antigas lendas revisitadas e transfiguradas.














Abaixo:Homem-leão de Ulm, escultura de 32.000 anos, período aurignaciano, paleolítico superior.Museu de Ulm, Alemanha.

Sem cápsulas, sem pílulas, sem comprimidos ou infusões. Um homem, subitamente, fazia parte da alcatéia dos leões!

“-O melhor resultado da manipulação genética a serviço do capital”; onde Deus e Ética foram sacrificados em prol da ciência puramente experimental!

Em breve, a curiosa criatura, piedade e compaixão nos devotos despertou. Mas, paradoxalmente, repugnância e horror, fobia e especismo engendrou. Da Igreja um pronunciamento incompassível se enunciou. O inerme, ao invés de batismo, excomunhão e condenação da Santa Sé suportou.

“-Até que o monstro demonstrasse compreensão pelos dogmas cristãos”, disse o primaz a bradar “-(...) entre os crentes e salvos o maldito jamais deve habitar!”. O exemplo amoroso de São Francisco de Assis, nenhuma benevolência no prior pôde evocar.

Mas “Leomem”, como foi chamado, logo manifestou natureza selvagem e independente, livre e irracional. “- Normas, regras, costumes e preceitos, aos adestrados homens é que servem de farol! Ao leão-homem não existe o Bem nem o Mal”. Lei da selva e especialismo orgânico, instinto e intuição. Somente estas disposições impeliam o homem-leão.

Semente das savanas, por tubos de ensaio transitou, e amor materno em ninguém jamais suscitou. Seu pai e criador, explodido e morto por eco-terroristas foi. Mas uma bióloga, sua cuidadora, pela aberração com ambíguo afeto se apegou.

O veloz desenvolvimento físico dos felídeos ele herdou; e logo, força e sagacidade aos dons de caça juntou. Indomável, corações deslumbrados por onde passava deixou. Mas paixão leonina por sua cuidadora subitamente sua ferocidade dominou. “-Qual Édipo e Jocasta de Sófocles!”, diziam os noticiários de modo sensacional. A reação conservadora era piegas e emocional: “-Tal qual Sansão e Dalila, essa relação imoral!”

O eleitorado julgou e a classe política embaixo assinou. Enjaulado e acorrentado o leão-homem logo se encontrou. Mas a moralidade tem suas máscaras, e como fonte de entretenimento e de lucros a desalmada criatura em shows e espetáculos explorada se tornou. Um empresário seus direitos comprou e com sua imagem vantajosamente mercadejou. A grotesca novidade do "Leomem" recordes de bilheteria bateu, pois a curiosidade de um mundo sádico e decadente em pouco tempo acirrou.

Exposto como aberração demoníaca nos centros mais civilizados do Velho Mundo, sua força e beleza, destreza e majestade, aos poucos foram drenadas em seu cárcere imundo. Maus-tratos e castração, zombaria e inanição também deram sua mórbida contribuição. Nem a ficção-aventura de King Kong prenunciava o desfecho sangrento que o episódio ocultava. Mas nada do mundo o homem-leão esperava, e apenas a atenção de sua cuidadora ainda o interessava.

E foi só quando o empresário da desumana turnê, em carícias lascivas no camarote apareceu, que o auditório do famoso ‘Mariinski’ de Petersburgo, um rugido lancinante percebeu. Era um acesso de fúria e dor. O Homem-leão viu sua fêmea ser cortejada por outro animal. A bióloga infiel sentiria na pele o que apenas em estudos de campo observou...; pois um ataque carnívoro sua deslealdade precipitou!

Bramido de dor e ira da jaula se elevou...; contudo, os sinais de perigo iminente a platéia ensandecida desdenhou. Mas toda vilania, sadismo e traição sofridos, que fizeram seu coração com sangue lacrimejar, o humanimal cruelmente enjaulado, o homem-leão duplamente explorado, iria agora plenamente vindicar!

A servir-lhe na vendeta demasiado humana que rapidamente tramou, da coragem e potência do predador se utilizou, e com a lógica e observância de engenheiro calculou. Seu trunfo deveu-se a um "anônimo admirador"*, que a jaula destrancada naquela noite de gala deixou...

O teatro estava cheio, com a platéia extasiada! Autoridades presentes por distinção, cientistas e acadêmicos em busca de créditos e comprovação. No camarote, dois pombinhos a rir da angústia do homem-leão, que em três ágeis e longos saltos, alcançou-os de assalto!!

Enquanto eram devorados pela fera, a dupla venal implorava à multidão: “-Salvem-nos, salvem-nos do animal!!”. Mas a turba urrava e aplaudia, vaiava e se escondia! A mesma sanha dos anfiteatros romanos e atenienses atiçava agora as emoções dos espectadores peterburguenses.

Cólera e medo, vergonha e frustração, deleite e pavor, castigo e punição. Para a desvirtuada espécie dos valores em degradação, o irônico destino lembrou-lhes uma antiga e recorrente lição: a lição de Édipo e Jocasta, de Dalila e Sansão, de Dr. Jekyll and Mr. Hyde, de King Kong e Frankenstein; e agora, a do Homem-Leão...

* O próprio autor.



quarta-feira, 14 de setembro de 2011

O Netuniano.


PLANETA NETUNODEUS NETUNO

Não foi difícil afogar-se imaginariamente na nublada camada gasosa azul-escura de Netuno, o filho pródigo mais afastado do pai Sol. Fisicamente, o frágil e desadaptado Homem não suportaria seus ventos planetários de 2100 quilômetros por hora, à temperatura negativa de -218° Celsius, com sensação térmica de zero absoluto, -273,15°. Entretanto, sua mente pôde afundar-se em seu gelado mar de amônia, metano e acetato, após decair livremente por sua atmosfera plasmática, turbulenta e eternamente tempestuosa, até chegar a seu núcleo massivo de rochas derretidas a 7000 graus Celsius. Assim ele tocaria as entranhas radiantes e misteriosas do orbe; sentiria seus segredos de cinco bilhões de anos sendo desvendados. Contataria sua fabulosa e hipotética fauna, evoluída sob a pressão atmosférica de trezentos quilogramas-força por centímetro quadrado! Observaria sua improvável e despigmentada flora não-fotossintética, exuberante e pitoresca sob o peso da aceleração gravitacional de onze metros por segundo ao quadrado!

Mas eis então que, ao invés de "observador" intangível e privilegiado que se acreditava, a psique extra-netuniana percebeu-se “observada” e “psicanalisada” por inteligências alienígenas superiores! Em pavor mórbido, o temerário e temeroso imaginário humano fugiu em pânico, superando abruptamente a velocidade local de escape num hiper-impulso de 23,7 quilômetros por segundo, aterrissando em pensamento no corpo adormecido de um terrestre ordinário em pleno desvario onírico. O fez em velocidade superior a da luz, que contorna a Lua e volta em menos de dois mil milésimos terráqueos!

As criaturas bizarras que em Netuno o envolveram e abduziram, com pesadelos fantasmagóricos agora o afligiam. Pois como seres leitores de mentes se especializaram, e em devoradores de pensamentos evoluíram e se adaptaram. Em festins aparatosos nossas mentalizações degustavam, e de nossa inteligência iguarias finas e muito cobiçadas preparavam!

O efêmero cérebro humano não escaparia ileso de semelhante viagem interplanetária. Ao sabotar levianamente os prosaicos padrões físicos terrenos camuflando-se de argonauta netuniano, condenou a sede de seu intelecto, sua psique, imergindo fundo demais naquelas pavorosas e sublimes condições, infectando-se por micro-criaturas psico-parasitárias. Por entregar-se inconseqüente a tais devaneios geo-cósmicos, sofreria irreversíveis dissociações com a realidade, tal qual havia sido compreendida por seus ancestrais, desde tempos imemoriais... E tendo sido fatalmente contaminado e ferido pelas afiadas lanças tridentadas, embebidas nas poções mágicas dos deuses de Neptuno, foi desde então assediado por utópica e primeva fixação pelo astro azul marinho sem estações da periferia solar, tendo seu inconsciente para sempre sugado para o interior de seus corações negro-azulados.




sexta-feira, 9 de setembro de 2011

GAZETA DO BANQUINHO

MEDICINA COMPORTAMENTAL

Após os dois renomados psiquiatras do “Banquinho do Xadrez”, Dúd’s Tozinsky e Rafinha Bata Branca, terem constatado traços de Megalomania Sanguinária Crônica em Saimov e o diagnosticado com o atualmente raríssimo Mal de Stalin, fica claro a todos porque Saimov perde tão prematuramente sua Dama, Bispo e Rei nas partidas de xadrez. Saimov não resiste ao cheiro do sangue azul e como marxista anacrônico que é, quer a todo custo mandar monarcas e eclesiásticos para a guilhotina. Prefere os trabalhadores, no caso os peões, do que os agentes das classes dominantes (Rei, Rainha, Bispo). Bom, a estratégia não tem dado muito certo.

PROGRAMAS SOCIAIS

Nesse mês o “Banquinho do Xadrez” lança seu novo serviço comunitário, o Aprenda a Jogar Ganhando, com Mauricinho Karamazov. Se você quer aprender a jogar xadrez, mas não quer passar pelo constrangimento das derrotas e dos deboches, venha participar. Aprenda a jogar ganhando com Mauricinho. É molim, molim!

POLICIAL

Mauricinho Karamazov tem sofrido frequentes derrotas nos últimos tempos em razão de uma patologia popularmente conhecida “fominhagem por peão”. No afã de pegar um peão desprotegido, vulgo boi de piranha, nosso grão mestre perde dama, torre, bispo...e as estribeiras. Cruzando informações com agências internacionais descobrimos que nosso querido Mauricinho Karamazov é conhecido internacionalmente como o “maníaco do peão”, ou em algumas outras sociedades mais conservadoras como o “tarado do peão”.

Saimov Correa Neves. Editor fuhrer.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

RESPOSTA AO ANÔNIMO

Já tinha dado por encerrada a discussão sobre meu pequeno “textículo” quando eis que aparece o famoso anônimo: Dúd’s Tozinsky. Dada a novidade gostaria de tecer mais algumas considerações.

burguês hipócrita, safado e covarde”
“Burguês hipócrita! Fariseu picareta”
“Tenha certeza fulano que, se tivesse de lutar, iria ser contra você e o bosteiro que tem na cabeça”

Quanto à essas ofensas pessoais feitas anonimamente a mim pelo meu amigo Dúd’s Tozinsky, eu bem poderia responder com uma porção de outros adjetivos tão ou mais ofensivos, mas não farei. Primeiro porque acho que o blog não seria um lugar para isso. Segundo, seria hipocrisia “inventar” calúnias apenas para ofender um amigo de mais de dez anos. Só não entendo como durante esses anos ele não teve ânsia por ter amizade com alguém tão desprezível assim.
Em relação às interpretações que fizeram do meu texto, quanto ao Rafinha não tenho mais nada a dizer, já em relação ao ex-anônimo, me reservo o direito de algumas palavras. Primeiro acho que o que fez foi pura provocação, sem subsídio algum para me interpretar como interpretou, ainda mais por me conhecer há tanto tempo. Em nenhuma parte do que escrevi dei subsídios para me chamarem de autoritário, sanguinário, intolerante...Ou mesmo para me imputarem determinada interpretação caduca do marxismo. Já publiquei alguns artigos sobre a Revolução Russa e qualquer um pode ler as críticas que faço em relação ao autoritarismo, a carnificina...O "anônimo" achou por bem distorcer minhas palavras e fez ao seu bel prazer.
Quanto às principais críticas feitas a mim por Dúd’s Tozinsky, acho que elas cabem melhor ao próprio texto dele, uma espécie de “Receita da Palmirinha para Felicidade” ou “Trocentos mandamentos do homem feliz”, denominado pelo autor de “Manifesto do século XXI”:

“A cartilha a ser seguida é conhecida desde os estóicos gregos, há 2500 anos! Pouco se pode acrescentar de novo a ela. Livrar-se dos vícios, manias e taras.”
“Para que o Homem não seja despojado de uma vez por todas de sua essência natural pela “cultura” niveladora das massas que escoa dos setores dominantes da economia-política, o novo homem secular deve, desde já, velar por si mesmo, esperando o mínimo do Estado e suas instituições corrompidas pelos cupins da ambição e do descaso ao próximo”.

Que bom, temos agora a recita da felicidade!!! São Tozinsky nos deu.

“A salvação das armadilhas comportamentais montadas pela parte já deturpada da sociedade e do Estado passa pelo autoconhecimento e conscientização voluntária do novo homem. Sem a revolução íntima, não haverá revolução coletiva; esta só emergirá da coletividade portadora de valores e princípios que não se combinam ou coadunam com os degradantes valores prevalentes.”

Veja caro Dúd’s, você diz que existem no Estado os “deturpados e não deturpados”. Sou eu que polarizo e simplifico as coisas? E que “revolução íntima” é essa? Vivemos em coletividade, me parece utopia supor que as pessoas, um belo dia, se levantarão e através de vossos mandamentos procederão a tal revolução íntima.
Só espero que leia seu próprio texto e se de conta que todas as críticas que me fez cabem melhor a você. Um texto colocado em forma de receita, como se esses preceitos morais que citou fossem universais, válidos pra toda a sociedade. Seu texto está carregado de julgamentos morais, opondo os “deturpado”, entre os quais acho que você me inclui, e os portadores da verdade, os não deturpados, os que levarão a cabo essa “revolução íntima”, seja lá o que isso signifique na prática.
Por fim, será que você mesmo foi coerente com suas receitas morais? Utilizar o anonimato para ofender pessoalmente um amigo; apertar sua mão e depois denegri-lo moralmente pelas costas; interpretar suas palavras da pior maneira possível apenas para denegri-lo...Tudo isso faz parte da tal “revolução íntima”? Me parece que sua atitude não se encaixa muito bem na parte dos mandamentos em que diz: “Ser fiel aos que nos depositam confiança”.
E mais, não acha que é baixo demais dizer que teve que postar um texto para alguém porque eu estou cerceando a liberdade de publicação? Quando e como fiz isso? Desafio a encontrar um colega do blog que já tenha sido alvo de algum tipo maligno de censura de minha parte. Acho que deveria começar a tal “revolução íntima” retirando isso, pois de acordo com sua receita pra ser feliz, não devemossujar reputações imaculadas” e nesse sentido, você está fazendo justamente o oposto que prega.

“Postado por Dúdis e por um amigo que prefere ficar anônimo. Aproveito para alertar que estamos em vias de ter nossos direitos de postagens anônimas restringidos por um tipo de censura que se disfarça sob o " sistema saimoviano de lidar com as coisas burguesas!".

Enfim, ao menos seja coerente com o que diz e tenha hombridade para assumir o que escreve. Não aperte a mão de um amigo com a faca em suas costas. Não invente coisas para denegrir a reputação de alguém. Novamente lanço o desafio, se algum colega do blog, que se identifique, provar essa afirmação do Dúd’s, ou seja, que eu censurei tal ou qual pessoa de escrever no blog, retiro-me imediatamente do mesmo.
Quanto a infeliz citação acima, basta ler todos os textos para ver que sempre defendi o direto à publicações anônimas.

Saimov

Comentário censurado pela VSB (Vigilância Saimoviana do Blog).

A questão não se resume à falta de afeto entre os homens, posto que isto existe aos montes pelos cantos já não tão escondidos! Poxa! Fui cínico novamente! Que a danação dos céus e das baixadas sinistras caia e suba contra mim, não tenho corrigenda... Oh, o fogo eterno que me aguarda!!
A questão não se resume também a falta do abstrato "amor", a chave teórica do jovem (?) revolucionário em seu opúsculo, já que o “amor”, um sentimento subjetivo, tem inumeráveis, díspares e contrastantes definições na tradição filosófica, na qual o jovem trotskista pretende-se inserido (cinismo presunçoso)¹ . O problema maior foi o dogmatismo, a soberba e o matiz "autoritário" com que o filósofo das massas francano apresentou, no Blog, sua suposta “brincadeirinha” com o Guerreiro. A mesma postura nojenta e prepotente de muitos estadistas do mortífero século XX. Como anônimo furioso que sou, odeio quando ouço algum mal-informado querendo apresentar de forma simplista e muito mal elaborada e confusa o trabalho teórico que Karl Marx e Engels dedicaram a vida inteira para definir, delimitar, clarear, desvendar e explicar(sarcasmo). É uma atitude caduca, não democrática, típica dos que acham tem "a" solução para o problema dos outros..., para os problemas do mundo! Isto é fruto de uma perspectiva encarcerada, como aquelas hérnias horrendas e esclerosadas à que todos estamos sujeitos. Portanto, combater estas atitudes e posturas com cinismo e fúria contida é o mínimo que se pode fazer antes que a péssima idéia se difunda ou seja acatada como messiânica.
Mas há uma solução para a deformada “visão de mundo” de “nosso” filósofo, que a esta altura já deve estar se perguntando que merda tinha na cabeça na hora em que postou aquele ultraje fascista as famílias brasileiras. Basta que ele inicie uma leitura, de mente aberta, dos críticos do marxismo ortodoxo o qual ele defende como “reposta definitiva a tudo de podre que há por aí” (cinismo). É difícil? Digo-lhe que é! Não nos agrada ouvir argumentos de peso contra aquilo que viemos acreditando no decorrer de determinado tempo. Isto exige “tolerância”, ou seja, dar ouvidos aos que discordam de nossa “visão prevalente”. Pense nisto como um desafio. Já o conheço (eu, Dúdis), já o vimos no calçadão com seus amigos de jogo várias vezes, e sabemos que é pessoa inteligente e altamente perspicaz, para além do comum. E veja: "misoneísmo" é o nome que se dá ao medo e aversão a tudo que é novo ou contém novidade... Portanto, não seja um misoneísta fossilizado por temor ao que pode "abalar" suas convicções! As convicções, querendo-se ou não, são postas à prova constantemente por vários meios e expedientes alheios a nossa vontade! Misoneísmo ideológico não é diferente de superstição religiosa!
Comece lendo os pós-marxistas europeus e norte-americanos não alinhados com os soviéticos. Pode ser por Claude Lévi-Strauss, Jean Paul Sartre, Louis Althusser, Cornelius Castoriadis, Claude Lefort, Antonio Gramsci, Karl Mannhein, Jürgen Habermas, Friedrich von Hayek, Martin Heidegger, Maurice Halbwachs, Marcel Mauss, Max Horkheimer, Jacques Lambert, Axel Honneth, Ulrich Beck, Teodor Adorno, Raymond Aron, Franz Boas, Gaston Bachelard, Jean Piaget, Paul Ricoeur, Michel de Certeau, Maurice Merleau-Ponty, Pierre Bourdieu, Herbert Marshall McLuhan, Edgar Morin, Jacques Lacan, Bertolt Brecht, Karl Jaspers, Gyorgy Lukács, Christopher Hill, Gilles Deleuze, Mário Bunge, Walter Lippmann, Hannah Arendt, Henri Bergson, Roland Barthes, Walter Benjamin, Michel Foucault, Nicos Poulantzas, Jacques Derrida, Júlia Kristeva, Pierre Macherey, René Balibar, Charles E, Winick, Herbert Marcuse, Friedrich Meinecke, Lucien Goldmann, István Mészáros, István Todorov, Ludwig Wittgenstein, Gunnar Myrdal, Thorstein Veblen, Éric Weil, Bertrand Russell, Gustave Le Bon, José Ortega y Gasset, Karl Polanyi, Karl Popper, Mircea Eliade, Edward Saïd, Erich Fromm, Melanie Klein, Margaret Mead, George Santayana, Umberto Eco, Edward Sapir, Sándor Ferenczi, Vilfredo Pareto, François Simiand, Georg Simmel, Oswald Spengler, Leo Strauss, Carl Schmitt, Hans Georg-Gadamer, Norbert Elias, Domenico de Masi, Alfred Radcliffe-Brown, Bronislaw Malinowski, Thomas Kuhn, Willard van Quine, Donald Davidson, Richard Rorty, Stanley Cavell, Hayden White, Arthur Danto, Northrop Frye, Hilary Putnam, Robert Nozick, Ernest Gellner, Pierre Teilhard de Chardin, Georges Gurvitch, Samuel Phillips Huntington, Carl J. Friedrich, Harold Laski, Lucien Lévy-Bruhl, Edward E. Evans-Pritchard, Jean Starobinsky, Jean Baudrillard, Michel Löwy, Terry Eagleton, Noam Chomsky, Harold Bloom, Mikhail Bakthin, Steven Pinker, Serge Moscovici, Daniel C. Dennet, Richard Dawkins, Isaac Asimov.
Leia também os clássicos Max Weber, Edmund Husserl, Ernst Cassirer, Eugen von Boehm-Bawerk, Joseph Schumpeter, Émile Durkheim, Isaac Deutscher, Carl Gustav Jung, Benedetto Croce, Sigmund Freud. A lista é imensa e citei estes nomes para ficarmos apenas nos mais conhecidos e de fácil acesso no Brasil. E por falar em Brasil, temos Caio Prado Júnior, Florestan Fernandes, Sérgio Buarque de Holanda, Adauto Novaes, Raimundo Faoro, José Murilo de Carvalho, Nicolau Sevcenko, Edgard De Decca, Fernando Novais,Miguel Reale,Leandro Konder, Bento Prado Jr.,Benedito Nunes, Oswaldo Porchat, José Arthur Giannotti, Carlos Nelson Coutinho, Nelson Werneck Sodré, Ruy Fausto, Paulo Arantes,Tércio Sampaio, Renato Janine, Carlos Guilherme Mota, Vianna Moog, Gilberto Freire, Marilena de Souza Chaui, Octavio Ianni, Gerd Bornheim, e muitos outros.
Garanto-lhe que estas leituras lhe abrirão horizontes novos, pouco explorados e interessantíssimos. Não são mistificadores irresponsáveis e alienados, ou replicadores robotizados do dogmatismo ortodoxo. Nem todos são sistematizadores geniais como Marx, mas todos têm algo a acrescentar com relação à filosofia política e crítica do século XIX, XX e XXI. Todos têm suas dívidas para com o marxismo e para com a obra de Marx. Muitos têm sólida formação marxista, muito maior e melhor que a sua. Não faz sentido ignorá-los à priori por puro preconceito ou arrogância. Eles, em sua maioria, não se fecharam em uma idéia fixa de materialismo histórico e dialético, na utopia da ditadura do proletariado, ou na do advento inevitável do comunismo. Eles lêem Marx dentro de seu contexto histórico, aproveitando suas ricas experiências de vida e pesquisas pessoais para ofertar contribuições valiosas para o pensamento crítico mundial.
Mas a opção é sua. Heterodoxia ou ortodoxia. Tolerância ou intolerância. Hermetismo, ostracismo ou obscurantismo. Ou claridade, aceitação e mansuetude. Todos optamos, e respondemos posteriormente por estas opções. Isto será sempre cobrado de você, que se coloca como um intelectual. Nada de errado nisso. Precisa-se de intelectuais. Há carência deles em nossa sociedade. Mas a ortodoxia e o dogmatismo à maneira do “sabe tudo”, aos quintos com eles!! Causaram milhões de mortes desde sua primeira aparição sobre a superfície do planeta. E sabe por quê? Justamente porque cria uma acirrada oposição, desune, desarmoniza, é egoísta, é tacanha, é mesquinha, é reificante, é falsificação, e é ignorante “in extremis”! E ocasionalmente leva os debatedores para o campo das acusações pessoais..., fazer o quê? Odiei quando propôs o "fim da família burguesa"! Foi algo estúpido, impensado, fascista, insensível e pior, hipócrita, pois és um mamador nas tetas do governo, como bem o sabemos, beneficiando-se de uma "superestrutura jurídica" que privilegia a classe da pequena burguesia, seu berço, ninho, morada e remanso.
Termino com a citação de um cara bem distante destes pensadores citados. Um artista morto aos 35 anos, chamado Layne Staley: “If you let yourself go and opened your mind, I’ll bet you’d be doing like me. And it ain’t so bad!” (“Junkhead”, Alice in Chains. Álbum CD: Dirt, 1992).

¹Ver: Abbagnano, N. Dicionário de Filosofia. Verbete “amor”. São Paulo: Editora Mestre Jou, 1970, pp, 36-47. Como se percebe, o conceituado filósofo italiano Nicola Abbagnano dedica dez páginas à discussão do termo; tão destratado e negligenciado por “nosso” revolucionário.
Postado por Dúdis e por um amigo que prefere ficar anônimo. Aproveito para alertar que estamos em vias de ter nossos direitos de postagens anônimas restringidos por um tipo de censura que se disfarça sob o " sistema saimoviano de lidar com as coisas burguesas!". Dúdis e Anônimo Barraqueiro.
*** Aguardamos ansiosamente seu metralhadora cheia de mágoas, acusações e justificativas, Srº Saimov. Não esperávamos por outra coisa de tí, pois sabemos o quanto é combativo e polemista. Mas garantimo-vos: és o menor de nossos problemas teóricos e pessoais.










SOBRE O DEVER DA IDENTIDADE

(O texto abaixo é o mesmo comentário que faço ao texto do Saymon, sobre o anonimato. Preferi ambém publicá-lo, devido à relevância do tema).


Não ficaram claros em seu texto logo abaixo, caro Saymon, os motivos pelos quais o anonimato deveria ser preservado. Eu já me posicionei acerca do assunto há tempos atrás, e mantenho minha visão de que o anonimato não deveria existir em nosso blog.
Depois de mim, os anônimos são os mais perseguidos aqui no banquinho. Mas dou razão a isso pelos seguintes motivos que passo a elencar.
A liberdade da qual dispõe o nosso blog não pode ser confundida com o direito ao anonimato. Em um meio de comunicação como o blog, onde impera a escrita como principal forma de nos comunicarmos, deve haver o respeito ao conhecimento da fonte que escreve. Do contrário, incorremos nos excessos já presenciados aqui das mais variadas maneiras, onde pessoas se utilizam da máscara do anonimato para abaixarem o nível das discussões e proferir ataques desagradáveis e muitas vezes mal-educados.
Na democracia em que vivemos, temos o direito de ser livres para expressar nossas opiniões, seja qual a forma que desejarmos utilizar. Mas isso não significa estarmos despojados do dever de responsabilidade que paira sobre todos os maiores de 18 anos de responder pelos atos que praticam.
O contexto em que nos deparamos aqui neste humilde blog não é diferente. Até mesmo porque se apenas nos posicionarmos a favor do direito ao anonimato, corremos o risco de sermos injustos e omissos com o direito do qual dispõe a pessoa que sofre a crítica de saber suas razões e sua origem.
Se alguém deseja se comunicar com outra pessoa através dos Correios, p. ex., necessariamente deverá apôr em sua carta a origem da correspondência, sob pena de não a ver devidamente encaminhada ao seu destino. E isso não representa qualquer censura, antes, denota segurança e respeito para com quem recebe a correspondência.
Aqui no blog lidamos com correspondências eletrônicas, seja na forma de uma publicação, endereçada ao público em geral (leitores), ou tão somente como um comentário (endereçado ao escritor de certa publicação). Sinceramente, não vejo razões práticas para tratarmos essas modalidades de correspondência de forma distinta das tradicionais cartas.
Recentemente, eu fui mais uma vez mal interpretado pelo nosso querido e anacrônico marxista de plantão, quando este jovem e mais promissor detentor da verdade universal me acusou de praticar censura em meu blog particular (www.ficcoesdoespirito.blogspot.com). Só o Ivan, criado, diga-se de passagem, por este mesmo marxistazinho, para ser mais tosco que isso.
Oras, se me dou ao direito de criar um blog, nada mais normal do que criá-lo da forma como desejar, afinal, sou o único responsável pelo seu conteúdo e manutenção. E mais normal ainda que eu deseje saber a natureza e a origem das opiniões que se formam ao redor das ideias ali por mim publicadas.
O grande problema que presencio por aqui é justamente o excesso de zelo de alguns por um, de certa forma, anômalo conceito de liberdade de expressão, o qual essas mesmas pessoas adoram defender com unhas e dentes, porém, sem as devidas críticas e, sobretudo, sem analisar corretamente os dois polos da questão. Olha-se com muita facilidade e com toda empolgação das doutrinas libertárias para esta suposta liberdade de expressão, mas nem de longe analisam a outra extremidade da discussão, o escritor que sofre passivamente as pedradas anônimas. O mais interessante é que os mesmos que defendem este anonimato quase sagrado, são os mesmos que choram quando são atacados e depois instigam os anônimos a dizer seus nomes. Não me parece uma medida das mais razoáveis e lógicas!



Rafael Guerreiro

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

ENSAIO SOBRE O ANONIMATO

O coronelismo foi uma prática bastante característica em algumas regiões do Brasil até o século passado, sendo que de certa forma e com algumas modificações, subsiste até os dias de hoje em alguns rincões do país. Grosso modo, o coronel (geralmente um proprietário de terras) constrangia seus apadrinhados ou seu curral eleitoral a votar nos candidatos que apoiava, seja por meio de violência física, econômica, moral...Em um contexto desses o direito ao voto secreto, ou anônimo, é uma medida altamente progressista de aprimoramento democrático.
            Em um regime autoritário, como o instituído no Brasil pelo golpe militar de 1964, o anonimato, mais que uma garantia de se conseguir expressar certas idéias, era também condição para a manutenção da própria vida. A panfletagem, a pixação e várias outras formas de manifestação contra o regime podiam ser punidas com as medidas mais repugnantes possíveis e o que preservava a integridade física dos dissidentes era justamente o anonimato.
Atualmente, em nossas casas parlamentares, seja senado, câmara dos deputados, dos vereadores, o direito ao voto secreto, ao anonimato, pode assumir um caráter bastante retrógrado e nefasto, posto que preserva os interesses corporativos em detrimento das demandas públicas. Se em determinados regimes políticos o voto secreto serve para proteger o parlamentar dos constrangimentos de um executivo, em outras ocasiões funciona como escudo da corporação contra o controle popular.
Em um blog onde não há nenhuma forma de constrangimento aos comentadores, a não ser as próprias tréplicas; onde qualquer um com acesso a internet pode postar sua opinião sem nem mesmo os inconvenientes daquelas letrinhas chatas de verificação; onde não existe qualquer tipo de represália ou moderação, o anonimato pode assumir a forma de covardia, vilania, baixeza das mais baratas. O comentador anônimo pode, em alguns casos, usar desse expediente para passar da crítica à provocação e às ofensas pessoais, escondendo-se covardemente por detrás de sua megalomania. Tal qual o pedófilo virtual, esse anônimo priva seu interlocutor dos meios necessários para se defender. O “atacado” não pode conhecer a totalidade dos argumentos do anônimo, não consegue utilizar suas próprias contradições e muitas vezes nem mesmo sabe se dois textos são do mesmo anônimo. O anônimo pode incorrer nas mais absurdas contradições e ficará protegido por sua covardia. É uma luta injusta e covarde, tal qual o bandido armado contra o cidadão desarmado.
Apesar disso o direito ao anonimato deve ser preservado, podemos ser contra o uso do anonimato, mas não contra o direito dos comentadores escolherem entre se mostrarem ou não. Em muitas ocasiões o anonimato é apenas um expediente inocente para poupar trabalho de se identificar, ou um lapso ou mesmo fruto da legítima timidez. Nesse sentido, o anonimato não é bom ou ruim a priori, podendo assumir desde a face da auto-preservação e timidez até a covardia e a vilania.

SAIMOV

P.S. Por favor, não estou propondo executar os anônimos, mesmo porque seria difícil identifica-los (rsrsrssrrs) e muito menos propondo acabar com o direito ao anonimato, bem ao CONTRÁRIO. Acho que deixei isso claro no texto, mas...Nunca se sabe como um anônimo pode entender.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

da Arte da Controvérsia de Arthur Schopenhauer

Nº 1. Leve a proposição do seu oponente além dos seus limites naturais; exagere-a.
Quanto mais geral a declaração do seu oponente se torna, mais objeções você pode encontrar contra ela. Quanto mais restritas as suas próprias proposições permanecem, mais fáceis elas são de defender.

Nº 2. Use significados diferentes das palavras do seu oponente para refutar a argumentação dele.
Exemplo: a pessoa A diz: “Você não entende os mistérios da filosofia de Kant”.
A pessoa B replica: “Ah, se é de mistérios que estamos falando, não tenho como participar dessa conversa”.

Nº 3. Ignore a proposição do seu oponente, destinada a referir-se a alguma coisa em particular. Ao invés disso, compreenda-a num sentido muito diverso, e em seguida refute-a. Ataque algo diferente do que foi dito.
(...)

Nº 16. Quando o seu oponente apresenta uma proposição, considere-a inconsistente com as declarações, crenças, ações ou omissões do oponente.
Exemplo: Se o seu oponente defende o suicídio, pergunte imediatamente: “Então porque você não se enforca?”
Se ele observar que a sua cidade não é um lugar bom para se viver, pergunte: “Então por que você não parte no primeiro avião?”

Nº 17. Se o seu oponente pressioná-lo com uma evidência contrária, você pode com freqüência safar-se defendendo alguma distinção sutil.
Tente encontrar algum significado subjacente ou ambiguidade na idéia do seu oponente.

Fonte :http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=7221498017774633008

Ivan e a Revolução

O jovem Ivan cansou da letargia que o cercava. Devorou em algumas poucas horas “A Revolução de Outubro” e decidiu que havia tempo de iniciá-la, já que ainda estamos em setembro.
Iluminado pelas letras sagradas daqueles poucos seres abrilhantados como Trotsky, jurou que deixaria para trás toda a alienação de anos de estudo pelos corredores de sua faculdade, preso aos grilhões acadêmicos de um sistema imundo e desigual. Era chegado o momento: de agora em diante toda forma de desigualdade seria combatida em nome de um bem maior, o amor. Sim, o amor que ele trazia sem qualquer definição. Ivan estava convencido de que o amor era o amálgama pendente capaz de dar liga à Revolução de Outubro.
De súbito, levantou-se da confortável cadeira onde se sentava até esta nova etapa de sua iluminação, fechou o seu livro sagrado e o guardou em sua mochila Nike, não sem antes arrancar a vírgula nikeana capaz de macular sua trajetória irretocável rumo ao desfecho feliz para o qual conduziria a humanidade a partir de agora.
Abriu a porta de seu quarto, olhou atentamente para o seu passado e para a sua mochila, onde guardava o tesouro do novo mundo. Resignado, pôs-se para fora do quarto num soluço seco, pronto para levar a boa nova a este mundo carente de amor, igualdade e liberdade.
No corredor até a sala, pensava, indignado, como era possível ao mundo ainda não ter escutado tamanho Evangelho do amor e da igualdade. Não havia tempo a perder, e sua responsabilidade ganhava corpo a cada passo marchante até a porta da sala de sua casa.
Pelo caminho, passou por seus pais e pensou: “Deixe que os mortos enterrem seus mortos”. Ninguém acende uma lanterna para pô-la em baixo da mesa. E passou por eles quase em marcha atlética, sedento por ganhar o portão de sua casa e posteriormente o mundo.
Lançou-se do portão para fora na maior empreita de sua vida, e logo se deparou com a primeira injustiça. Observou que em frente a sua casa um grupo de oito garotos corria atrás de uma única bola, todos famintos por conquistá-la. O sangue brotou-lhe nos olhos ardentes. Percebeu o quão dura seria a sua luta. Na porta de sua casa a injustiça brotava a céu aberto!
 Não poderia ser conivente com tamanha injustiça. Lembrou que possuía alguns poucos dinheiros em seu bolso guardados para se alimentar. Mas resolveu que sobreviveria apenas de amor. Aqueles dinheiros não lhe pertenciam, nunca foram seus, eram fruto da mais-valia, da ideologia da propriedade privada. Basta! Pôs-se em direção ao mercadinho da esquina e comprovou outras 8 bolas.
E quando um dos garotos marcava um gol entre os espaços de tijolo na rua, o jovem Ivan correu ensandecido e tomou-lhe aquela bola. Os garotos já preparavam pedras para lhe acertar, mas Ivan mostrou-lhes aquelas 8 bolas novas. Conclamou a todos para uma breve reunião, e após algumas horas de árdua doutrina, entregou a cada garoto uma bola em meio a uma cerimônia que mais lembrava um batismo, por onde os garotos deixavam a morte para entrar na vida eterna de seu conceito particular de amor. Rasgou-lhes a bola antiga, de plástico surrado, como símbolo da eliminação da propriedade privada.
Todos agora eram iguais. Todos tinham uma mesma bola e não haveria mais competição!
Caminhou até a esquina de sua rua limpando as lágrimas de alegria que escorriam-lhe pelo rosto. Foi quando presenciou a segunda injustiça, ainda mais escabrosa e lancinante! Percebeu que um cadeirante tentava subir a calçada pela rampa de acesso para deficientes. - Aberração!!! – gritou ensandecido. Todos são iguais, não pode haver privilégios. O espírito de igualdade logo tratou de oxigenar suas têmporas e correu desenfreadamente pondo-se a chutar o cadeirante com toda ira guardada contra os oligárquicos e detentores de privilégios!
O cadeirante não entendeu muita coisa, pois só lhe restava tempo para, com uma mão, se defender dos socos e pontapés que levava e com a outra tentava empurrar sua cadeira toda esculachada. Ao final, Ivan conseguiu impedir mais aquela injustiça e um sorriso libertário abriu-se em seus lábios dourados de glória por ter preservado a igualdade de condições para todos e lutado contra os privilégios.
Ainda ofegante após a luta de capoeira que travou com o cadeirante, Ivan, em sua incansável luta escutou o sino da igreja matriz que fica em frente à praça de sua cidade. Era o final da missa, aquele ritual macabro mantenedor do capitalismo e destruidor das mais augustas revoluções.
Olhou indignado para tamanha quantidade de pessoas que saia alienada pela porta da Catedral. Os olhos vermelhos transmutaram-se em um rubro mixado ao negro do luto e da guerra contra o cristianismo.
Entendeu que a guerra chegava ao seu ápice. Era a luta contra o maior de seus inimigos, a Igreja!
Abriu sua mochila, sacou seu livro sagrado e marchou contra o povo que saía despercebido da missa. E no meio da multidão, sem nome, sem lenço e sem documento, pôs-se a bravejar injúrias contra Cristo, o padre, a Igreja, a família e todas as categorias católicas. Em apenas um minuto justificou a necessidade de se pegar em armas, fazer a revolução, matar e aniquilar os inimigos da liberdade, exterminar os mantenedores do Status quo vigente!
Era a ele a quem todos deveriam escutar, era ele o augusto portador da verdade, da verdadeira liberdade, do amor em sua acepção excelsa.
E após espumar a boca por tantos gritos e falatórios libertários, notou que o semblante do povo em nada mudou. Nenhuma verdade escutaram, nada, absolutamente nada.
E a começar pelos mais jovens, aos poucos todos foram se retirando, em silêncio, humildes, até que o mais idoso, antes de se retirar, caminhou até ele e disse-lhe em tom suave:
- Filho, neste mundo não há paz, quebram até as flores[1].
  


[1] Filha de Henrique Dussel, com 7 anos de idade.


Rafael Guerreiro

sábado, 3 de setembro de 2011

O FIM DA FAMÍLIA BURGUESA

Essa é uma obra de ficção, qualquer semelhança é mera coincidência. Mera mesmo.

Personagens.
Mr. Warrior - advogado inglês, católico e proprietário de terras.
Camarada Ivan - torneiro mecânico russo, comunista.

Mr. Warrior - Ora Ivan, como posso concordar com isso? Vocês querem destruir instituições universais como a família, a propriedade privada e a religião.

Cmd. Ivan - Mr. Rafin...digo, Warrior, há alguns equívocos nisso tudo. Primeiramente nada disso que citou é universal, são instituições históricas, surgidas em determinado tempo e lugar e ligadas a interesses específicos de grupos. Em segundo lugar, não queremos acabar com a família, mas sim com a família burguesa.

Mr. Warrior - Como família burguesa? Família é família, Deus fez assim, é tudo igual. Explique-se.

Cmd. Ivan - Caro Mr Warrior, queremos acabar com a família fundada sobre a propriedade privada e o direito à herança. Não desejamos essa família onde as mulheres são oprimidas pelos homens por razões econômicas, onde as pessoas se ligam cinicamente pela herança, por status...Queremos uma família de um novo tipo.

Mr. Warrior - E que família seria essa?

Cmd. Ivan - Uma família fundada na união de pessoas livres sob todos os sentidos, onde não exista herança, propriedade privada...(interrompido pelo interlocutor)

Mr. Warrior - Mas como pode ser? E o que vai constituir o elo dessa família? Isso é absurdo.

Cmd Ivan - Mr Warior, as pessoas se unirão ou viverão juntos apenas por afinidades, projetos em comum, por amor, é isso. Uma família fundada no amor, pessoas livres, sem nenhum interesse econômico se unindo por amor. Essa é a família que nós comunistas queremos.
 A mulher poderá se separar do homem quando desejar, sem medo de passar necessidades; o filho do pai; os casais não se formaram por interesses financeiros, enfim, uma família de novo tipo.
.
Mr. Warrior - Absurdo! Mil vezes absurdo! E vai ter essa baderna de casamento de homem com homem e mulher com mulher?

Cmd Ivan - Ora Mr. Warrior, como disse, será uma união de pessoas livres em um estado laico, camaradas iguais perante a lei, independente de sexo, cor da pele, orientação sexual, e iguais de fato, não apenas em teoria. As pessoas se unirão conforme melhor aprouver, cada um será feliz a sua maneira.

Mr. Warrior - Pecado! Blasfêmia! Criminoso contra as leis dos homens e as leis de Deus! Absurdo! Não posso mais tolerar. Guardas, prendam-no!

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

PEÕES DO NADA

"Eis a verdade única: — Somos os peões da misteriosa partida de xadrez, jogada por Deus, que nos desloca, nos pára, nos põe mais adiante e depois nos recolhe um a um à caixa do Nada."
(Omar Khayyam. Poeta Persa. 1040-1125)

Contribuição do amigo Silvio Domingos