Ela se achega com sua cadeira
espaçosa e se põe no meio da gente e nem pede licença.
Vem escondida no dia-a-dia, na
cadeira de sol e no banco da praça, no espelho e nas escovas de dente. Vem por
si mesma diluída naquilo que ousamos chamar de razão, no senso nada bom criado
a troco de nada.
E todo mundo tem um pouco dela
como semente. Nada lhe foge aos ouvidos, não há nada capaz de recusar seu
autógrafo. No seio da gente ela brotou, como uma irmã gêmea, tão nossa quanto
nós mesmos, e se de um lado a razão que criamos parece nos indicar o caminho,
por ela brota a dúvida e a certeza num mesmo cálice doce e amargo no qual
bebemos do cotidiano alucinado de tantos argumentos toscos quanto nossa
imaginação pode criar.
É um disparate, mas é nós mesmos,
oras bolas. É ela quem negamos, mas que desejamos assim tão forte nos sonhos,
como orates que somos.
Pois é, se de um lado a razão nos
beatifica, por outro, a loucura, companheira nossa, trata de calcificar a vida,
mesclando sonhos com cimento e ilusões com lágrimas aqui mesmo dentro da gente,
de onde brota o sorriso e choro, tão nossos quanto é a nossa capacidade de chorar
quando queremos rir e rir quando queremos chorar.
Rafael Guerreiro