quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

O QUE O MAURICINHO ESTÁ FAZENDO???


O DIBX (Departamento de Imagem do Banquinho do Xadrez) recebeu da CCCBX (Comissão de Controle Comportamental do Banquinho do Xadrez) essa curiosa imagem de Mauricinho Karamazov. O que os amigos acham que ele estava fazendo?

a) Orando com a face voltada para Meca implorando pela ressurreição do bispo preto.
b) Procurando o bispo preto.
c) Fazendo um ritual para ivocar o espírito de "Pai Alê-Kine de Ogum", mestre enxadrista africano.
d) O que ele estava fazendo é censurado e só pode ser dito em um blog para maiores de 18 anos.
e) Batendo a cabeça no banquinho após perder para o Achilles.
f ) Não aguentou a diarréia após comer um super macarrão do chinês.
g) Tinha acabado de comprar uma carteira do Ivair e tava procurando o zíper que estragou na hora.
h) Teve uma cefaléia após escutar os hits do Nirvana cantados por Dud's Cobain e Ivair Mercury.



Saimov

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Teacher - Do Outro Lado da Mesa


Sexta-feira à tarde eu estava na casa de papai. À noite ele teria que lecionar, então propus que me deixasse ir com ele para assistir. Fomos, e eu pude observar como era seu trabalho. Eu o vi conversar com a diretora, com os funcionários e com outros professores. Ajudei-o a preparar a aula e a sala. Por fim, assisti à aula, não como aluna, mas como visita. Como a filha do professor.
Nunca me imaginei entrando numa classe daquele jeito, sem ser aluna. Nunca olhei para os funcionários da maneira como olhei naquele dia. Nunca estive diante de uma diretora numa situação como aquela. Naquele dia eu pude observar as coisas do ponto de vista de um professor, de um funcionário. E só então percebi que quando se é aluno não se tem noção de nada. Quão limitada é a nossa visão. Quão arrogantes somos em nossas posições, sentados em nossas carteiras, olhando para os professores com desdém.
Lembrando-me agora desses últimos treze anos, não sei se rio ou se lamento.


segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Extremo trágico.



Um ser humano pode estar feliz mesmo enquanto aguarda a eletrocussão, via cadeira elétrica, no corredor da morte. Já outro, infeliz, acumula coragem para suicidar-se em um big hotel de Hollywood.



O que parece predispor cada um destes estados de consciência é a presença ou ausência de “paz de espírito” obtida ou não enquanto se alimenta a esperança ou a desesperança dentro de si. Desesperar-se mesmo tendo uma enorme gama de recursos à disposição, e não entrar em desespero mesmo quando o último recurso ao governador do Estado foi negado, depende, portanto, de um equilíbrio ou desequilíbrio interno. Dois extremos que se chocam vindos de direções diferentes: ânsia de viver, desejo de morrer. Ter ainda algo mais para falar, e nada mais ter a dizer. Históricos individuais que se julgam, condenam e sentenciam. Dramas pessoais que, conduzidos por trilhas diferentes ou mesmo antagônicas, deságuam na mesma foz, a morte. Uma trilha segue o caminho da carestia e da fome, que leva ao latrocínio, prisão, condenação e execução; outra passa pela abundância, fastio e saturação, e leva à desilusão, à depressão e ao auto-extermínio. Um dos indivíduos foi privado de tudo pela sociedade, inclusive e finalmente da vida, mas ainda assim encontrou as respostas que buscava, ou soube fazer as perguntas certas no momento critico. O outro usufruiu e consumiu de tudo, inclusive a própria vida. A fartura o levou a lassidão de espírito, e esta não lhe permitiu encontrar uma estratégia melhor para lidar com seus problemas e frustrações que a auto-eliminação.



Necessidades materiais e necessidades imateriais. Um deles obteve muito das primeiras; o outro apenas o essencial da segunda, tardiamente. Tardia também foi a conversão do ladrão crucificado com o Cristo. Mas esta conversão lhe garantiu a “paz de espírito” necessária para enfrentar a morte que chegava. O terceiro crucificado morreu rebelado, em amargura e tormento. Padrões recorrentes.



Instigados ao consumo dos mais supérfluos bens por políticos demagogos (que prometem satisfazer estas demandas inventadas), e publicitários hipócritas (que visam apenas aumentar seus ganhos oferecendo ao consumidor os mais diversos ‘venenos’ e ‘bugigangas’), os indivíduos acreditam estarem em “desvantagem” ou em condições “injustas” por não poderem arcar com a aquisição destes produtos, que não são indispensáveis do ponto de vista das necessidades vitais. Uma vez de posse dos extravagantes fetiches sociais, o indivíduo transforma seu ‘uso’ e ‘posse’ em uma “segunda natureza”, em hábitos por vezes nocivos e dispendiosos, sem mais se dar conta de que os busca por curiosidade, vício, inveja e ciúmes.



Alimentação, vestuário, moradia, saúde, segurança e lazer são necessidades primárias. Mas a desnaturação desta última, o lazer transformado em entretenimento, tem feito dos indivíduos meros fantoches e marionetes nas mãos dos produtores de ilusões, fantasias e hábitos. As tradicionais danças folclóricas e festas populares que celebravam o solstício ou as colheitas, o casamento ou o nascimento, a vitória ou a morte, tornaram-se, nas mãos dos publicitários, o “Carnaval”, “a Festa do Peão”, o “Circo da Fórmula 1”, o “Big Brother”, a “Oktoberfest”, as “Olimpíadas”, a “Copa do Mundo”, a “Festa Junina”, o “Natal”, a “Páscoa”, o “Réveillon”, o “Dia das Mães”, “dos Pais”, “dos Namorados”, “das Crianças”, “da Consciência Negra”, “do Índio”, o “Mardi Gras”, etc.




A saturação, assim como a carestia extrema, podem predispor o individuo ao auto-extermínio. O suicídio é como uma arapuca armada pela própria pessoa. É uma idéia alimentada com regularidade, dia após dia, hora após hora. Uma vez aceita como “solução final” ou “estratégia definitiva”, é muito difícil elaborar qualquer argumento externo que modifique a convicção interior do individuo obcecado por esta triste idéia. O sociólogo Durkheim (Suicide, 1897) sugeriu diversas causas sociais para este fenômeno, e classificou-o em três tipos: A) o suicídio altruísta, que o individuo presta à seu grupo ou comunidade. Anciões que não querem se tornar um peso aos demais. Pessoas que detém segredos que comprometem a muitos de seus aliados e que devem “morrer” com ele. B) o suicídio egoísta diz respeito a uma inadaptação ou incapacidade de lidar com situações de pressão que incidem sobre a psique do individuo. Segundo Durkheim, as taxas de suicídio se elevaram muito após o advento da Revolução Industrial com seus desdobramentos e conseqüências. C) o suicídio anômico: são suicídios decorrentes de caos social, revoluções, desordem generalizada, guerra civil, depressões econômicas, catástrofes naturais, epidemias, etc.


Já alguns psicólogos como o americano Jack D. Douglas (The social meanings of suicide, 1967) e o francês Jean Baechler(Les suicides, 1975), creditam o ato do suicídio a motivações inerentemente pessoais, ou seja, à biografia do suicida. O suicídio seria sempre uma resposta do individuo a crises “internas”, já que as “externas” não determinam o auto-extermínio de todos que a suportam. Segundo estes autores, o suicida se fecha em uma armadilha psicológica estratégica, que para ele é como um consolo, a válvula de escape última, o retorno ao útero protetor da inconsciência. Quando as condições se tornarem para ele insuportáveis, eis sua forma de fuga.




Segundo o escritor francês Albert Camus: “não há mais do que um problema filosófico verdadeiramente sério: o do suicídio. Julgar se a vida vale ou não ser vivida é responder à questão primordial da filosofia”(Le mythe de Sisyphe, 1954). Já seu contemporâneo e ex-colega Jean Paul Sartre expressou-se assim diante do dilema: “Se estou mobilizado em uma guerra, esta guerra é minha guerra: ela é à minha imagem e eu a mereço. Mereço-a antes de tudo porque podia tê-la esquivado com o suicídio ou com a deserção: estas possibilidades extremas devem sempre estar presentes para nós quando temos de encara-las em uma dada situação”(L’être et néant, 1943).

Em geral, os filósofos de origem religiosa condenam o ato suicida por diversas razãos, dentre as quais: é contrario à vontade Divina, assim em Platão, "Fedro", cap. 62, e em Santo Agostinho, "Cidade de Deus", cap. I, p, 20; é contrário ao destino em Plotino, "Enéadas", cap, I, p, 9; é contrário à lei natural em São Thomás de Aquino, "Summa Theologiae", cap. II, 2, p, 64-65.

Outros filósofos de formação mais secular são mais simpáticos ao fenômeno. David Hume chega a dizer que, como nada escapa à vontade divina, o mesmo ocorre com o suicídio( Essays, of Suicide, 1741-2). Para Kant, trata-se da transgressão de um dever, pois como ele mesmo o diz: “o homem é obrigado à conservação da vida somente porque é pessoa”(Met. Der Sitten, II, parte I, artigo 6). Para Schopenhauer: “ o suicídio não é em absoluto a negação da vontade, mas um ato de forte afirmação da mesma vontade, pois o suicida quer a vida e só não esta contente com as condições que tem”( O Mundo como Vontade e Representação, I artigo 69, 1819). Para Fichte, era ao mesmo tempo um ato de covardia quanto de coragem. Ele argumentava: “ em relação ao homem virtuoso, o suicida é um covarde; em relação ao miserável que se submete à desonra e à escravidão para prolongar por alguns anos o sentido mesquinho da própria existência, é um herói”(Sittenlehren, 1789, p, 268). Walter Benjamim, filósofo judeu/alemão disse: "A personalidade destrutiva vive a sentir, não que a vida é digna de ser vivida, mas que o suicídio não vale o incômodo"(O caráter destrutivo, 1931).

Para Aristóteles o suicídio é injusto para com a comunidade à qual o suicida pertence( Ética à Nicômaco, V, 11, 1138
-9).



Certos filósofos consideraram lícito ou mesmo necessário o suicídio. Assim achavam os estóicos, entre eles Cícero. Disse ele: “ Quem possui em maior número as coisas segundo a natureza, tem o dever de permanecer em vida; quem , ao contrário possui ou crê-se destinado a possuir em maior número as coisas contrarias tem o dever de sair da vida. Disso resulta claramente que o sábio tem às vezes o dever de sair da vida apesar de ser feliz e o tolo de permanecer na vida apesar de ser infeliz”(De Finibus, III, 18-60).

Epicuro e Sêneca também não desaprovavam o ato. O primeiro dizia: “ É desventura viver na necessidade, mas viver na necessidade não é em absoluto necessário”. E o segundo: “Agradecemos à Deus que ninguém pode ser segurado na vida contra a própria vontade: é possível esmagar a própria necessidade”(Epistulae Morales ad Lucilium, cap. XII.64DC).

Alguns literatos também opinaram lúgubre e espirituosamente a respeito do suicídio. Por exemplo, George Borrow(1803-1881), novelista e viajante inglês disse certa vez: "Se eu tiver de cometer suicídio, devo sempre encontrar meios de fazê-lo o mais decorosamente quanto possível; a decência, tanto na vida quanto na morte, nunca deve ser negligenciada" . Arthur Miller, dramaturgo norte-americano, dotou seu personagem "Quentin", da peça "After the Fall", de 1964, da seguinte fala:" Um suicídio mata duas pessoas, Maggie. Isto é o que ele faz" . O poeta, novelista e tradutor italiano Cesare Pavese escreveu certa vez a um jornal, em 1950: " Por grandes períodos você sente , profundamente dentro de si, a tentação de cometer suicídio. Você se entrega a isto rompendo suas defesas. Você era criança. A ideia de suicídio era um protesto contra a vida; morrendo, você escaparia deste ardente desejo pela morte" . Uma interessante colocação também se encontra no discurso do estadista e advogado norte-americano Daniel Webster durante sua argumentação, em 1830, sobre o assassinato do capitão americano White:" Não há refugio da confissão exceto o suicídio, e o suicídio é a confissão".

Por último, mas não menos importante para a discussão, temos os dizeres de Zaratustra, por Nietzsche: “Eu louvo a minha morte, a morte livre, que vem porque quero. E quando quererei? Quem tem uma meta e um herdeiro, quer a morte na hora certa, e para a sua meta e seu herdeiro”(Assim falou Zarathustra, I, Da livre morte, 1883-5). Tem-se também do mesmo pensador a seguinte frase:"O pensamento do suicídio é um poderoso consolo: por meio dele consegue-se atravessar muitas noites ruins" (Máximas e Interlúdios, pg 4 ).
Em vista dos exemplos da complexidade do tema, nada tenho a acrescentar que contribua para a discussão no momento. Posso apenas dizer que o sofrimento evitado por uns no morrer, se transfere imediatamente, nesta ocasião, para outros que permanecem no viver.
Dúdis Tozinsky Cobain.




domingo, 12 de fevereiro de 2012

HOMO SAPIENS

E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança (...). E criou Deus o homem à sua imagem: à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou.
Gênesis.



Despertou antes mesmo que os primeiros raios do sol lhe pousassem sobre a face. Na escuridão da caverna as pulgas o atormentavam, porém, não foi por isso que se levantou antes de todos do bando. Seu estomago doía, a sensação do ácido lacerando suas entranhas dizia que era hora. Não avisou ninguém, e mesmo que quisesse não o poderia fazer, pois o dom da fala ainda não lhe pertencia, apenas ao criador, sua imagem e semelhança. Não podia esperar.
Caminhou com desenvoltura pela planície, não porque o luar o favorecia, pois o astro que mais tarde seria motivos de tantas estrofes teimava em se esconder. O bando já vivia ali há um bom tempo, desde que a grande seca o havia levado para aquelas paragens. Conhecia cada pedra, cada galho fora do lugar...cada pormenor daquele arrabalde. Uma hora depois, por nossos modernos relógios ainda desconhecidos naqueles idos, sentiu certo desconforto. Sem o menor movimento de pescoço que indicasse qualquer preocupação em verificar a presença de um observador, e não sendo um voyer a procura de diversão, tão somente se agachou e colocou para fora o que lhe angustiava.
O sol já lhe queimava a rala pelagem e ele continuava caminhando. Pouco depois cerrou os olhos para perceber melhor o que estava em seu caminho. Sem que nenhuma música do Air Supply lhe viesse à mente...Lá estava ela. Com sua pelagem quase imperceptível, os lábios rubros e protuberantes, os mamilos róseos e quase nus, a genitália avermelhada como sangue fresco...Não foi amor a primeira vista, apenas impulso incontrolável. Sem flerte algum, sem rosas e nem vinho...Pegou-a pela cintura, de costas...No começo ela resistiu, debateu-se, mas logo que teve certeza da desproporção de forças e do impulso titânico que tomava sua carne, entregou-se satisfeita ao chamado da natureza. Alguns segundos depois...sua segunda necessidade estava satisfeita. Seguiu caminho.
A cada passo aumentada a dor que lhe rasgava o estômago e logo um barulho despertou sua atenção. Apertou o passo e seguiu na direção indicada aos ouvidos. A saliva inundou-lhe a boca quando viu o aquele animal cambaleando logo à sua frente. O perfume do sangue atiçava ainda mais a fome. Olhou a procura de algo que lhe servisse para a ocasião, mas só encontrou um grande pedaço de pedra. O animal, percebendo o perigo que lhe rondava, e mesmo naquela situação, ainda tentou fugir. O primeiro golpe não o matou, mas o grito agonizante não deixava dúvidas que seu fim estava próximo. O segundo golpe atingiu em cheio a fronte, fazendo com que o sangue esguichasse abundantemente.
Quando agachou para dilacerar a carne sentiu que não estava sozinho. A luta ia ser dura, pois o outro macho era bem mais robusto. Contudo, não sentiu medo. A coragem vinha de milhares de anos de evolução e de três dias e três noites sem alimento. Olhares se cruzaram, gestos, rituais, ameaças...Em alguns segundos os filhos de Deus debatiam-se no chão. O mais robusto conseguiu asfixiar o rival, julgando-o abatido. Levantou-se e foi recolher os despojos da batalha.
O movimento do sol, que ainda não havia matado Galileu, queimou a face do nosso herói, lembrando-o de que ainda estava vivo. Levantou-se vagarosamente, um pouco pela fraqueza e outro tanto por astúcia. Vendo o rival fartando-se sobre o animal morto, serenamente pegou uma rocha de tamanho médio e o golpeou na cabeça. Cambaleou, estremeceu, as babas de sangue saiam pela boca, os olhos pareciam cada vez mais inertes...Continuou golpeando, alucinadamente, até que a cabeça do rival se transformasse em uma massa disforme e arroseada pela mistura do sangue com a massa cerebral. Cansado, conseguiu ainda levar o alimento para debaixo de uma sombra. Saboreou com sofreguidão a carne misturada ao sangue da luta.
A terceira necessidade estava satisfeita. Encostou-se na sombra da árvore e adormeceu tranquilamente o sono dos justos.

Saymon
 
 

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Sampa


Nasci no núcleo de uma cosmopolita hiper-aglomeração.
Concreto e metal, asfalto, vidro e tijolo, varanda, lixo e varal.
Cabos, fios e tubulações em quilométricas extensões. Prédios e presídios, manicômios e hospícios. Fábricas e indústrias. Imóveis cheios de lamento e desencanto, provas e expiações, lucros e produções, assédios e extorsões.
Arranjo urbano do caos humano, paisagem de geométricas edificações.






Nasci no olho de um furacão, nas entranhas de um monstro demográfico.
Modernidade sem limite e miséria sem termo, riqueza ostensiva e cultura intensiva.
Hospitais e escolas, catedrais, favelas e restaurantes. Moradas do saber, da arte e do sabor, da fé, da morte e da dor, do tráfico, dos Mutantes e do estupor.




Nasci no ponto zero de uma bandeirante civilização.
Fumaça e poeira, esgoto e vertigem, barulho, náusea e fuligem.
Aparelhos que rugem e hipnotizam, máquinas que gritam e robotizam. Oitocentos metros acima do oceano. Milhões de térmitas num corre-corre insano.
Uma pessoa por metro quadrado, mentes sufocando em franca descerebração.




Nasci no centro de uma colméia em agitada atividade.
Rainha das regras e das leis, da repressão e da tortura.
Princesa do crime e da extorsão, da propina e da usura.
A mafiosa do Terceiro Mundo. A defensora da clandestinidade.
A urbe da fartura e da fome, da liberdade e da censura.







Nasci no coração da teia surreal fiada por operários migrantes.
Na cidade dos corações transplantados, dos cemitérios assombrados; dos carcinomas confirmados, dos políticos processados.
Cidade dos estádios lotados e dos condomínios trancafiados.
Lugar de águas escuras e céu cinza. Terra de esperanças e ambições delirantes.







São Paulo, pai dos rostos pálidos e preocupados, frios e enrugados.
São Paulo granítico e implacável, gigante soberbo, tirânico e aloprado.
São Paulo, pai de todos os que querem ser seus filhos.
São Paulo, locomotiva veloz que ameaça sair dos trilhos.