sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

REVEILLON DO BIGODÓN

A ceia do Mauricinho vai ser indigesta nessa passagem do ano, principalmente após a situação que ele ficou na partida que disputou contra Saimov na fria noite dessa sexta-feira do verão francano. Mauricinho (negras), pasmem, ainda ficou uma meia hora procurando saída para o "insaível". Fumou uns cinco cigarros, tossiu até quase colocar o pulmão pra fora, coçou o bigode...e deitou o rei.
A última partida oficial do ano entre Saimov e Mauricinho só veio confirmar uma tendência que se acentuou ainda mais em 2011, quando o velho Karamazov ficou um mês inteiro sem vencer o jovem e vigoroso Saimov.
Pode procurar a saída até o próximo reveillon Mauricinho. "Fala muito"!

By: Imprensa independente do Banquinho.

domingo, 25 de dezembro de 2011

Sobre grilhões, jaulas, redomas e colméias.


As pessoas pensam e sentem, em grande medida, a partir do que lhes é fornecido pela mídia que os cerca, e pela comunidade linguística na qual se vêem inseridos, por opção ou por nascença.
Algumas tentam escapar do domo cultural que as encobre e que delimita suas ações e pensamentos esquivando-se para os ângulos mais obscuros da grande estufa que alimenta seu ethos cultural. Por vezes, desta clausura, conseguem avistar o que há do lado de fora de seu domo; ou mesmo observar o que se passa dentro de zimbórios externos ao seu. Pouco importa o que avistam. Continuarão a sentir, agir e pensar o que é típico do “clima” interior de sua “estufa” ideológica.


Não teremos, não seremos e não conseguiremos o que a alfândega de nossa redoma não permitir que entre em nosso “espaço”. A aduana mais rigorosa que existe é, a meu ver, a aduana ideológica, seguida da linguística. E ela delimita não só o que vem de redomas externas, mas pior, o que deve ou não circular entre as categorias de pessoas que habitam a mesma estufa. Ou seja, o “status quo” é preservado de acordo com a vontade de pouquíssimos poderosos- ignorantes -presunçosos que mal sabem que também são meras “plantas" cultivadas dentro da “estufa” do Estado-Nação moderno.Plantas daninhas e parasitárias...
Mas há agravantes que tornam ainda mais negra esta visão do “efeito estufa mental”. As tais redomas se sobrepõe, não sendo a do Estado-Nação a última delas, o que significa que simplesmente derrubá-lo não nos libertará ou trará ar puro às nossas congestionadas mentes. A última e mais poderosa redoma é a do Capitalismo Globalizado. Esta sim é insidiosa, odiosa, e nos dita o que vestir, o que ter, o que ver, o que comprar, o que ler, o que assistir, o que querer, o que aspirar, o que ser, o que comer e beber. Ir contra este imperativo pérfido transmitido pela propaganda midiática global é “heresia”, punida com sarcasmo, bulling, deboche, esnobismo e menosprezo pelos que podem se encaixar nos protótipos e padrões de “consumidores” ideais. Tudo muito ridículo, desditoso, hipócrita, mesquinho, artificial, desumano e falso..., e assim o é.


Telefones com câmeras; tevês com karaokê, ligadas a cabos e satélites; telefone com net e visor; celulares com MP3; carros com TV, frigobar e ar condicionado; casas com sauna, piscina, sala de musculação e mirantes; computadores com memória “giga ou tera-valente”; computadores com câmeras e velocidade de recepção de dados muitas vezes além do razoável e útil; aviões particulares; helicópteros e iates de uso individual. O que é razoável e realmente necessário é irrelevante, hoje. Quem dita os caprichos da extravagância aquisitiva são os “magnatas” do domínio capitalista setentrional, auxiliados por seus cupinchas-marionetes-imitadores meridionais.
A questão é que as “ordens” que nos chegam em forma de idéias artísticas, literárias, musicais, imagéticas, científicas, econômicas, filosóficas, militares e mesmo religiosas, alcançam-nos misturadas à novos valores, à novas leituras da realidade, à novas modalidades de vivenciar o cotidiano, ao culto a tudo o que parece moderno, pop e arrojado. Mas todo o núcleo subliminar dessa massificação de hábitos, gostos e valores é de conteúdo ideológico. São pílulas douradas, atraentes e irresistíveis, que engolimos à seco sem pensar nas conseqüências; exatamente como os “ácidos” que surgem nas Raves e Techno-festas, distribuídos como agradáveis complementos para memoráveis noites erótico-dançantes. O que não se calcula é a conseqüência da inconseqüência, o desdobramento do embotamento, a subvalorização da despersonalização.


E como as pessoas passam a acreditar que este “modus vivente” é o único viável e válido? Através do “número”. O peso do “número” dos envolvidos na engrenagem de produção/consumo da modernidade é tão abrangente que não se cogitam modos alternativos de vida. Ou não se cogitam seriamente, sendo estas tentativas relegadas ao marginalismo e ao opróbrio de alcunhas depreciativas como “superado”, “obsoleto”, “atrasado”, “terceiro-mundista”, “desvairado”, “contraproducente”, “inviável”, “aloprado”,"utópico", etc.
A doutrinação, aceite-se ou não, começa na infância, no seio familiar, apoiada pela onipresente mídia; e se desenvolve exponencialmente na escola, na religião, no trabalho e na sociedade. E enfim, têm-se mais uma “abelhinha operária” submissa e lobotomizada a serviço das “benevolentes rainhas” setentrionais da grande colméia ...
Inverdades são engolidas como soluções; explorações são suportadas como desígnio divino; humilhações são subentendidas como resultado de diferenciações “naturais” entre os homens; indignidades são sofridas em silencioso amedrontamento; a mente é lavada e ensaboada com a espuma tóxica e fantasmagórica do "politicamente correto e conveniente"...Poucos "zangões" escapam deste hipnótico e zoófago estado de coisas, só para morrerem solitários em pleno vôo libertário!




Dividir e subdividir para melhor controlar estes exércitos de trabalhadores alienados e estranhamente satisfeitos. Eis o método. Criam-se modas, clubes, manias, esportes, entretenimentos e estilos de vários gêneros de bens de consumo cultural para que os indivíduos percam seu tempo em altercações de pequeno porte, esmagados sobre as unhas micóticas do gigante, sem nunca suscitarem a imensidão de seu verdadeiro tamanho, e nem a enormidade da guerra a travar.






“- Não deixemos que pensem, distraiam-nos com brinquedos!”.
“- Não deixemos que se rebelem! Dêem-lhes as quinquilharias digitais hipnóides que tanto apreciam, e que nos enriquecem mais e mais!”.
“- Não os incentivem a liberar seus potenciais energéticos, mantenham-nos no ócio para que a inércia os apodreça”.
“- Forneçam-lhes as quimeras fictícias tradicionais, céu para os bons, inferno para os maus, recompensas no “além”, eternidade para os eleitos, haréns para os mártires, etc.”
“- Paguem-lhes sempre o mínimo possível, mantendo-os em subjugação econômica dissimulada em independência e autonomia”.
“- Sejam implacáveis na arrecadação de impostos! Assim trabalharão mais para arcarem com a carga deles”
“- Não deixem, nunca, que se aliem em grandes multidões a reivindicar direitos ou ‘justiça’, para que nunca venham a conhecer o poder que detém”.
“- Tirem o máximo proveito das festas, dos carnavais, das gratificações, dos direitos concedidos, dos jogos e distrações populares para que pareçam dádivas de um Estado benfeitor e paternal que sempre acudirá os ‘desesperados’ nos momentos de crise”.
“- Criem uma capital distante dos grandes centros industriais, para que o operariado não marche nunca em direção ao congresso e ao palácio do governo nacional”
“- Deixem que rezem, que orem, que peregrinem, que cultuem, que venerem. Quanto mais poder atribuírem ao sobrenatural, mais poder natural exerceremos sobre eles”
“- Que se entreguem aos vícios e jogos, contanto que controlemos os preços e a oferta dos primeiros e a contabilidade, regras e prêmios dos segundos”
“- Que se acomodem com suas supostas soluções simplistas e metafísicas; que sejam obtusos e ignorantes. Importante é que mantenhamos as rédeas do domínio”
“- Crucifique-os !”. “- Enjaulem-nos !”. “- Às masmorras com eles !”. “- Jogue-os aos leões !”.
“- Queimem-nos nas fogueiras !”. "- Apedrejem-nos !". “- Enforque-os !”. "- Fuzilem-nos !". "- Bombardeie-os !". "- Empalem-nos !". "- Emudeçam-nos !". “- Eletrocutem-nos !”. "- Entorpeça-os !".
“- Desumanize-os !”...

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

O VELHO CONTO DA TORRE GRÁTIS

Tem gente que ainda hoje cai no conto do bilhete premiado, outros se perdem no golpe do celular, no do prêmio do Faustão, no conto do vigário e mesmo no conto da carochinha. Existe inocente pra tudo nesse mundo. Mauricinho, a raposa velha do Banquinho do Xadrez, caiu no velho e manjado truque da torre grátis. Como de costume já ensaiava o Allegro ma non troppo da risadinha irritante. Contava aos quatro ventos como daria o mate em Saimov. Mas jogou olhando apenas seus próprios movimentos, ignorou as manobras do adversário. Quando tinha todas suas peças no ataque, exceto a torre que defendia o rei negro (e que de uma forma bastante efetiva também atacava), foi acometido por uma verdadeira epifania, se sentindo o Todo Poderoso Zeus do Olimpo e adjacências.
Eis que Saimov “entrega” sua torre em um gesto magnânimo. O tarado das torres não pensou duas vezes e com aquele tom debochado disse: “eu tomo”. Tomou! E tomou mesmo! Só não posso dizer onde, mas imaginem o quanto doeu. Quando tomou a torre de Saimov com sua torre da coluna do rei, Saimov simplesmente desceu com a dama. É interessante a capacidade “camaleônica” da fisionomia humana. “De repente do riso fez-se o pranto/ De repente, não mas que de repente”. As bochechas coradas desbotaram-se, o bigode em riste ficou como orelha de vira-lata abandonado e a risadinha irônica transformou-se em um “não entendi de onde veio a porrada”.
-” Fala Muito Mauricinho. Fala muito criança”.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

VIAGEM A OURO PRETO



Ouro Preto é um pedaço do século XVIII encravado na modernidade. O ronco dos automóveis, o trânsito meio que bagunçado e as modernas agência bancárias combinam-se harmonicamente com a arquitetura colonial, com o calçamento de pedras e com a onipresença da Igreja Católica. Símbolo da opulência do ouro e da grandiloquência do barroco, é hoje uma cidadezinha aprazível, uma boa e agradável síntese da mineiridade.
Mergulho na     Ouro Preto de hoje e logo sinto os odores do passado. Vejo as “Marílias” ricamente adornadas, os jovens e apaixonados poetas da Arcádia, os distintos e vistosos homens da guarda, mercadores, artesãos, engenheiros, padres...Ouço os cânticos alegres das procissões e os típicos sons de uma vigorosa cidade que se ergue sobre o áureo brilho.  Enfim, uma atmosfera vivaz e resplandecente como o ouro das minas turva meus sentidos.
Mergulho um pouco mais e conforme o faço, essa exuberante Ouro Preto vai se desvanecendo, dando lugar a um outro mundo, um mundo lúgubre, onde os anjos, arcanjos, querubins e toda hierarquia celestial cede espaço a Mefistófeles. Onde Ariel sucumbe a Caliban. O que toca meus ouvidos agora são os gemidos dos escravos e o tilintar das correntes; os odores que impregnam meu Ser são os da senzala e o do sangue vertido pelo açoite. Sinto o fedor da carne lacerada e vejo o espectro da morte obumbrando por sobre as montanhas. Acabaram-se as ternuras, os amores e a bucólica poesia se transforma em cântico de horrores. Nas vielas escuras os sussurros da conspiração é o prólogo de mais sangue e os santos homens de negro aguardam sedentos por mais e mais...
Os portugueses se foram. Os escravos permanecem sepultados, os poetas calados e os mártires enforcados. Ouro Preto permanece e não permanece. Agora as “mãos de aço” da Vale rasgam as montanhas ávidas pelo “novo ouro” e os herdeiros dos escravos empunham novas armas, erguendo-se contra a nova e velha opressão.

Saimov



segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Ávidos e vorazes.









Ávidos, afoitos e vorazes. Assim são os homens do século XXI, quase que pelo planeta inteiro.
Um leve verniz de “civilidade cidadã” associado a um tênue idealismo romântico, com metas e objetivos pequeno-burgueses a alcançar, em geral na forma de posse de bens materiais, confortos domésticos e distinções sociais caracterizam-nos de modo geral...; respeitando-se as exceções.

O “que” fazer, “como”, “onde”, “quando” e “porque” são perguntas que não se fazem com vistas ao aperfeiçoamento pessoal, mas visando a apropriação de mais e mais bens de consumo e status pessoal, inculcados pela ideologia predominante que prega o consumo desenfreado, a prosperidade material e o desenvolvimento técnico-industrial em detrimento de todo o resto: do equilíbrio da natureza, da manutenção do meio ambiente, da sobrevivência dos demais seres que habitam o orbe, da decadência e superficialização dos valores humanos mais elevados... Pouco lhes importa se o planeta já se exauriu e estertora em agonia anêmica, mórbida. Infestam-no como vermes parasitando um corpo esgotado... Há mesmo uma "maravilhosa sordidez" na Natureza que nos desconsubstancia, fazendo-nos meras emanações cotidianas e rotineiras no processo evolutivo da espécie, como afirmam alguns? Ou podemos ser, individualmente, algo mais que isso e ignorar heroicamente todos os rótulos, nomenclaturas, etiquetas, adesivos, emblemas e estigmas que o processo “histórico” gerou a nosso próprio respeito, lutando contra o instinto paradoxalmente reprodutivo/autodestrutivo de nosso gênero animal?











“(...) - Ele, o planeta, suporta mais um pouco!”, pensam, em auto-ilusão. Mais um carro novo, uma casa maior, eletro-eletrônicos de última geração, mais plástico, mais isopor, mais dióxido de carbono na atmosfera, mais monóxido de carbono no ar, mais “espaço urbano”, mais produtos industrializados e enlatados, mais carne a devorar, mais “madeira de lei”, mais prazeres a experimentar, mais drogas a tomar, mais luxo! Mais lixo! Mais ostentação! Mais luxuria! Mais fausto! Mais pompa! Mais aparatos! Mais abundância! Mais esplendor e profusão! Mais requintes e sofisticação! Mais! Mais e mais!!












Resultado: seres desorientados, confusos, frustrados, neuróticos e perdidos, ansiando sempre por “algo mais”. Extenuados pela cornucópia aquisitiva e permissiva pregada pelas mídias, e mesmo pelas religiões, se arrastam solitários pelas noites atrás de um pouco mais de prazer, um pouco mais de atenção. Correm feito loucos pelos dias em busca de lucros, de economias e de oportunidades!! Ludibriam e se corrompem por um pouco mais de riqueza, um pouco mais de poder sobre os outros. A insaciabilidade é a qualidade preponderante. A moderação, a simplicidade e a frugalidade são virtudes antiquadas, deslocadas. “- Aos quintos com a humildade, com o altruísmo, com a gentileza e a simpatia!”, ouvi dizerem...









Imersos neste Ocidente pós-industrial decadente, o homem chafurda no lixo e refugo cultural pornográfico-sexista, seviciado no que mais lhe alienar a mente..., alentos tóxicos e degradantes. Vivencia a violência de um trânsito assassino e mutilador, e surfa nas marés das “modas” transitórias que prometem promoção, distinção e salvação.

Superficialismo e artificialismo, desperdício e libertinagem, modismo e consumismo ameaçam tornar o homem um ser tão descartável quanto os frascos, sacolas, embalagens e pacotes que depois de vazios e murchos vão parar nos lixões, nos leitos de nossos rios, riachos e vias públicas.










O Homem parece ainda não ter se dado conta de que pode optar por não ser um “porta-voz” deste estado de coisas; que não tem de ser uma testemunha silenciosa e condescendente deste estado de coisas; que pode evitar se tornar uma vítima/cúmplice deste estado de coisas; que não precisa necessariamente ser um operário/construtor deste estado de coisas; que não é solução ser um reprodutor/propagador deste estado de coisas; que o estereótipo de "consumidor", criado pelos detentores do poder econômico associado a governos e meios de comunicação, pode ser estilhaçado com um simples ato de vontade; ou que ele pode ser um crítico/ativista contra este estado de coisas paranóico.

Ele não sabe se comunga ou excomunga o sacramento da eucaristia materialista e mundana! Ele não sabe se celebra ou difama a deusa/meretriz que o faz gozar e sofrer! Ele não sabe se é certo ou errado seguir as multidões ao abatedouro de catástrofe ambiental! Ele não sabe se é feliz ou miserável diante da fatal iminência da extinção! Não sabe se ri ou chora no circo bizarro da existência terrena.

Ele não sabe temperar e colorir a vida com moderação, sapiência e tolerância. Ele faz dos temperos mais picantes e das cores mais extravagantes o centro e a “razão” da própria Vida. A permissividade o desnaturalizou e esterilizou.