quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Brasil: um país de todos (mas uns mais todos que outros)



Um socialista alemão ou russo, do início do século XX, que de alguma forma pudesse viajar no tempo através dos famosos “buracos de minhoca” descritos poeticamente por Stephen Hawking, ou que talvez fosse conservado por “criogenia” como o Fry, de Futurama, enfim, que de alguma forma aparecesse instantaneamente no Brasil de hoje, ficaria extasiado.
            PTB (Partido Trabalhista Brasileiro), PCB (Partido Comunista Brasileiro), PSDB (Partido da Social Democracia Brasileira), PDT, PSB e por fim, mas não menos importante, o supra-sumo, o baluarte da esquerda brasileira, o Partido dos Trabalhadores, que inclusive tem como símbolo a estrelinha vermelha.  Teria o socialismo triunfado? Haveria no Brasil espaço político apenas para os legítimos representantes da classe trabalhadora?
            Ao passar em frente as Casas Bahia, tarde da noite vale frisar, ver as portas abertas e por uma tela de LCD, espiar o noticiário político, nosso visitante do tempo não entenderia nada. Tantos partidos representando os trabalhadores e as condições de vida da classe nem mencionadas são. Provavelmente o Brasil conseguiu resolver todos os dilemas dos obreros e questões como jornada de trabalho e salários estariam ultrapassadas, pensa nosso amigo do passado.
            Um fala em construir o “aerotrem”, seja lá o que isso signifique; os parlamentares aumentam o próprio salário em mais de 60%; uma gostosa com nome de fruta pede votos; por fim, um simpático palhaço é a figura política mais comentada da república. É o paraíso socialista!!! A Revolução triunfou nos trópicos e agora é só o tédio da sociedade sem classes, pensa.
            “Caminhando e cantando” nosso amigo vai conhecer melhor essa Utopia tropical. Na primeira esquina crianças esfarrapadas, pele escura, cheirando cola. Mais a frente um pronto-socorro público, onde “qual nun sonho dantesco, um de raiva delira, outro enlouquece, outro, que de martírio embrutece, cantando geme e ri”. De um lado casas ricas, jardins bem cuidados, altos muros e bem protegidos. Do outro, nem casas são, apenas um teto sustentado por míseras paredes cobre a vida desgraçada dos que madrugam pela pátria que os pariu.
            Os trabalhadores, trabalham, pois é esse seu papel. Agora, obedecendo a uma nova lógica, que nem é tão nova assim: não trabalham pra viver, mas sim, vivem pra trabalhar. Uns trabalham outros enriquecem, eis a divisão do trabalho.
Quando baixam as portas, quando os falsos sorrisos são vencidos pelo cansaço, a verdade se desnuda. “O dono do dinheiro marcha agora á frente, como capitalista; segue-o o proprietário da força do trabalho, como seu trabalhador. O primeiro, com um ar importante, sorriso velhaco e ávido de negócios; o segundo, tímido, contrafeito, como alguém que vendeu sua própria pele e apenas espera ser esfolado”.
            “Auriverde pendão de minha terra, que a brisa do Brasil beija e balança”, que país é esse? Que país é esse?
            É a porra do Brasil!!!

                                                                     

Saymon de Oliveira Justo
                                                                      Dezembro de 2010

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