sexta-feira, 15 de julho de 2011

Um manifesto do século XXI.

As velhas utopias revolucionárias e a racionalidade iluminista naufragaram. Os referentes morais, éticos, estéticos e epistemológicos antes tidos como eternos e universais evaporaram. Esperar de um Estado corrompido e falido a solução dos aflitivos problemas sócio-ambientais do século XXI é ingenuidade. A globalização se mostrou apenas mais uma forma insidiosa de dominação ideológica e alienação que demanda precaução e força de vontade potente para se resistir a seus atrativos. O relativismo e o niilismo imperam como emanação natural do caótico e neurastênico mundo presente. O novo homem secular só pode se salvar do falso arrebatamento material e da falta de consciência dos problemas políticos que o envolvem por
todos os lados adquirindo um grau de autocontrole e abnegação nunca exigidos anteriormente aos homens na história. Todas as faculdades intelectuais são diariamente ameaçadas de obliteração pelos meios de comunicação e pelas obviedades degradadas do senso-comum. Para que o Homem não seja despojado de uma vez por todas de sua essência natural pela “cultura” niveladora das massas que escoa dos setores dominantes da economia-política, o novo homem secular deve, desde já, velar por si mesmo, esperando o mínimo do Estado e suas instituições corrompidas pelos cupins da ambição e do descaso ao próximo.
   O novo homem secular pode alcançar o céu, mas não o “paraíso”; ou pode cair nas masmorras, hospícios, reformatórios e prisões infernais que os mandatários criaram para segregar os ‘indesejáveis’. Vejam. Os maiores ladrões (leia-se políticos, executivos, figurões da high society, empresários e grã-finos), não estão e nem vão ser presos. Os estupradores de batina (leia-se padres, pastores, gurus e sacerdotes religiosos), também não. Os grandes usurários e agiotas (leia-se banqueiros, financistas e especuladores), propagandeiam seus “serviços” com a aprovação do Estado. Os responsáveis pelas carnificinas causadas pelo consumo desenfreado de álcool estão pouco se lixando para as famílias destroçadas nos lares e nas estradas, ou para as cadeias desumanizantes onde os infelizes embriagados vão parar depois da farra alucinada homicida e das demais confusões etílicas que causam, das quais mal se lembram depois.... Os magnatas dos armamentos, dos fast food (fast death), dos psicotrópicos, da cerveja, do cigarro, da pornografia, da prostituição e da exploração se comprazem com a desgraça alheia. Literalmente!! E o Estado se beneficia com a mortalidade e a morbidade populacional que lhe é conveniente, pois se não o fosse, nada disto estaria regulamentado ou “legalizado”.
   A salvação das armadilhas comportamentais montadas pela parte já deturpada da sociedade e do Estado passa pelo autoconhecimento e conscientização voluntária do novo homem. Sem a revolução íntima, não haverá revolução coletiva; esta só emergirá da coletividade portadora de valores e princípios que não se combinam ou coadunam com os degradantes valores prevalentes.
   A cartilha a ser seguida é conhecida desde os estóicos gregos, há 2500 anos! Pouco se pode acrescentar de novo a ela. Livrar-se dos vícios, manias e taras. Buscar conhecer à si próprio. Informar-se por variadas e conflitantes fontes antes de formar juízos ou conceitos. Ilustrar-se com noções de Direito, Medicina, Artes, Filosofia, Ética, História, Epistemologia, Hermenêutica, Lógica, Semiótica, Ontologia, Geografia, Retórica e Oratória, Biologia, Literatura, Música, Ciência e Política. Ser humilde perante a Vida, perante a Natureza  e perante o próximo. Ser adepto ou praticante de esportes. Engajar-se em desafios intelectuais. Buscar a participação na arte política ao invés de rejeitá-la como um todo putrefato e odioso. Ser cumpridor dos deveres de cidadão. Ser cidadão exigente quanto a seus direitos e quanto a decência política de nossos representantes. Reformar hábitos, atitudes, costumes, impulsos e obsessões que drenam a dignidade humana. Preservar a família constituída. Preservar e fazer amigos. Respeitar e cuidar com carinho das novas gerações e das antigas. Ser fiel aos que nos depositam confiança. Admirar e proteger a vida em todas as suas matizes,  gradações, variedades e formas. Contatar a natureza e criar vínculos entre os homens e ela. Manter a riqueza natural do planeta como herança coletiva de “todas” as espécies, presentes e futuras, com a responsabilidade que nossa liderança e sucesso como espécie exige. Entender que somos somente mais “um” dentre muitos bilhões e que compartilhamos com estes necessidades, anseios, temores e sonhos; exigindo para nós apenas o que é justo, necessário e vital, admitindo que geralmente esta parte é sempre menor do que nos dita nossa ambição, cobiça e voracidade. Buscar transmitir aos que nos cercam um otimismo arrazoado pela reflexão sadia. Demonstrar juízos sóbrios, consoladores, afáveis e amigáveis com relação aos desajustes do próximo. Ajudar sempre aos desvirtuados, desaventurados e desorientados a encontrar um caminho que os torne mais felizes, sem ostentar superioridade, sem constrangê-los, sem humilhá-los, sem coagi-los, sem rebaixá-los, sem obrigá-los. Não impor condições aos que não podem cumpri-las. Não oferecer ilusões como se fossem coisas reais: “felicidade eterna”, “paraíso”, “fim das preocupações”, “extinção da dor e do sofrimento”, “a Verdade”, “o gozo perene dos prazeres”. Não ameaçar o próximo com punições reais como a delação, a culpa, o opróbrio, a desonra, a tortura física ou psicológica, a morte...; ou irreais, como o inferno, o apocalipse, a danação eterna, o limbo, o umbral ou o purgatório, representações tétricas remanescentes da mentalidade medieval. Respeitar o livre arbítrio dos outros, mesmo sabendo que este arbítrio pouco ou nada tem de verdadeiramente livre. Não poluir mentes e corpos, recintos e ambientes. Não sujar reputações imaculadas. Não contaminar ambientes moralmente assépticos. Não manchar com a desonra. Não ofender. Não machucar ilegitimamente. Não desperdiçar. Não menosprezar a sabedoria dos mais simples. Ter tolerância, paciência e aceitação para com as coisas e pessoas que não estão prontos para a mudança que os tempos demandam. Como diziam os estóicos: coragem, amizade, fidelidade, franqueza, bondade e simplicidade.Como disse Paulo da Tarso e John Lennon: amor. Em resumo: virtudes. Eis do que o homem de sempre necessita.
Dúdis Tozinsky Sinatra Cobain Capivarovsky, o calhorda preocupado.

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