segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Ávidos e vorazes.









Ávidos, afoitos e vorazes. Assim são os homens do século XXI, quase que pelo planeta inteiro.
Um leve verniz de “civilidade cidadã” associado a um tênue idealismo romântico, com metas e objetivos pequeno-burgueses a alcançar, em geral na forma de posse de bens materiais, confortos domésticos e distinções sociais caracterizam-nos de modo geral...; respeitando-se as exceções.

O “que” fazer, “como”, “onde”, “quando” e “porque” são perguntas que não se fazem com vistas ao aperfeiçoamento pessoal, mas visando a apropriação de mais e mais bens de consumo e status pessoal, inculcados pela ideologia predominante que prega o consumo desenfreado, a prosperidade material e o desenvolvimento técnico-industrial em detrimento de todo o resto: do equilíbrio da natureza, da manutenção do meio ambiente, da sobrevivência dos demais seres que habitam o orbe, da decadência e superficialização dos valores humanos mais elevados... Pouco lhes importa se o planeta já se exauriu e estertora em agonia anêmica, mórbida. Infestam-no como vermes parasitando um corpo esgotado... Há mesmo uma "maravilhosa sordidez" na Natureza que nos desconsubstancia, fazendo-nos meras emanações cotidianas e rotineiras no processo evolutivo da espécie, como afirmam alguns? Ou podemos ser, individualmente, algo mais que isso e ignorar heroicamente todos os rótulos, nomenclaturas, etiquetas, adesivos, emblemas e estigmas que o processo “histórico” gerou a nosso próprio respeito, lutando contra o instinto paradoxalmente reprodutivo/autodestrutivo de nosso gênero animal?











“(...) - Ele, o planeta, suporta mais um pouco!”, pensam, em auto-ilusão. Mais um carro novo, uma casa maior, eletro-eletrônicos de última geração, mais plástico, mais isopor, mais dióxido de carbono na atmosfera, mais monóxido de carbono no ar, mais “espaço urbano”, mais produtos industrializados e enlatados, mais carne a devorar, mais “madeira de lei”, mais prazeres a experimentar, mais drogas a tomar, mais luxo! Mais lixo! Mais ostentação! Mais luxuria! Mais fausto! Mais pompa! Mais aparatos! Mais abundância! Mais esplendor e profusão! Mais requintes e sofisticação! Mais! Mais e mais!!












Resultado: seres desorientados, confusos, frustrados, neuróticos e perdidos, ansiando sempre por “algo mais”. Extenuados pela cornucópia aquisitiva e permissiva pregada pelas mídias, e mesmo pelas religiões, se arrastam solitários pelas noites atrás de um pouco mais de prazer, um pouco mais de atenção. Correm feito loucos pelos dias em busca de lucros, de economias e de oportunidades!! Ludibriam e se corrompem por um pouco mais de riqueza, um pouco mais de poder sobre os outros. A insaciabilidade é a qualidade preponderante. A moderação, a simplicidade e a frugalidade são virtudes antiquadas, deslocadas. “- Aos quintos com a humildade, com o altruísmo, com a gentileza e a simpatia!”, ouvi dizerem...









Imersos neste Ocidente pós-industrial decadente, o homem chafurda no lixo e refugo cultural pornográfico-sexista, seviciado no que mais lhe alienar a mente..., alentos tóxicos e degradantes. Vivencia a violência de um trânsito assassino e mutilador, e surfa nas marés das “modas” transitórias que prometem promoção, distinção e salvação.

Superficialismo e artificialismo, desperdício e libertinagem, modismo e consumismo ameaçam tornar o homem um ser tão descartável quanto os frascos, sacolas, embalagens e pacotes que depois de vazios e murchos vão parar nos lixões, nos leitos de nossos rios, riachos e vias públicas.










O Homem parece ainda não ter se dado conta de que pode optar por não ser um “porta-voz” deste estado de coisas; que não tem de ser uma testemunha silenciosa e condescendente deste estado de coisas; que pode evitar se tornar uma vítima/cúmplice deste estado de coisas; que não precisa necessariamente ser um operário/construtor deste estado de coisas; que não é solução ser um reprodutor/propagador deste estado de coisas; que o estereótipo de "consumidor", criado pelos detentores do poder econômico associado a governos e meios de comunicação, pode ser estilhaçado com um simples ato de vontade; ou que ele pode ser um crítico/ativista contra este estado de coisas paranóico.

Ele não sabe se comunga ou excomunga o sacramento da eucaristia materialista e mundana! Ele não sabe se celebra ou difama a deusa/meretriz que o faz gozar e sofrer! Ele não sabe se é certo ou errado seguir as multidões ao abatedouro de catástrofe ambiental! Ele não sabe se é feliz ou miserável diante da fatal iminência da extinção! Não sabe se ri ou chora no circo bizarro da existência terrena.

Ele não sabe temperar e colorir a vida com moderação, sapiência e tolerância. Ele faz dos temperos mais picantes e das cores mais extravagantes o centro e a “razão” da própria Vida. A permissividade o desnaturalizou e esterilizou.


















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