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A comunicação de massas, e outras mídias controladas por poderosos conglomerados, têm circunscrito o desenvolvimento intelectual de gerações inteiras dentro de estreitos parâmetros pré-determinados, que atendem aos interesses políticos e econômicos de pequenos grupos dominantes.
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Esta afirmação é antiga, é anônima e implica que poderíamos estar vendo e vivenciando o mundo de forma mais bela e agradável do que vemos e vivenciamos hoje. Ela significa também que poderíamos compreender as pessoas e a mente humana de forma mais sensível e mais profunda do que o fazemos hoje. Que poderíamos entender melhor a complexidade da dinâmica social e resolver de modo mais simples e eficiente seus problemas. Que poderíamos ter uma linguagem mais adequada para discursar sobre as amplidões cósmicas e outra mais apta para lidar com as ínfimas estruturas quânticas que podem desatar muitos dos “nós” que atravancam a compreensão da realidade.
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Que poderíamos ver melhor as distorções, as simetrias, os detalhes e as cores dos objetos ao nosso redor. E finalmente que poderíamos ser mais sábios, esclarecidos e felizes do que somos, não fosse à compactação pedagógica que nos achata, tornando-nos muito parecidos onde deveríamos nos diferenciar - dando expansão aos nossos dons, talentos e virtudes individuais especiais -, ao mesmo tempo em que nos diferencia justamente nos quesitos em que poderíamos nos sair melhor com maior grau de igualdade.
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Poucos dentro da atual onda de baixa amplitude cognitiva que envolve a todos são capazes de perceber o próprio lugar que nela ocupam, dado a limitada instrução e informação que nos é “permitido” obter. Felizmente, algumas mentes poderosas por natureza escapam da mediocridade e da conformidade induzida pela escolarização, pela socialização e pela religiosidade. São como meteoros que nos cativam o olhar e a reflexão, espíritos mais livres e conscientes que não se detém diante dos obstáculos ameaçadores que se interpõe entre as verdades que tentam nos esconder e suas mentes inquisitivas e aguçadas. Estes sim são os mentores anônimos da humanidade, e não os factóides musculosos, plastificados e “comprados” que a mídia nos apresenta como “fenômenos”, “imperadores”, “superastros”, “feras”, “supermodelos”, “gênios”, "heróis", "deuses", "musas" e outros adjetivos que impressionam os mais desavisados dentre nós.
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Os “luminares” da sapiência humana raramente nos são indicados para leitura ou apreciação de suas idéias. Já dizia Nietzsche: “As maiores idéias são os maiores eventos”
Poderíamos ao menos estar em uma fase superior de idiotice; num nível mais elevado de cretinice, em outra dimensão de estupidez e numa etapa mais adiantada de nossa natural macaquice. Mas nem isto nos foi permitido. Permitem apenas que nos intoxiquemos com os estupefacientes que são convenientes ao “Estado”: festas seculares e religiosas, carnavais, esportes, tele séries, telenovelas, romances e auto-ajuda que em nada nos ajudam.
A própria academia, que supostamente deveria prover liberdade de pensamento, apoio a criações originais e autonomia intelectual aos que nela ingressam, acaba por engessar docentes e discentes através de exigências burocráticas e técnicas. O volume de produtividade é um critério que pesa mais que o critério qualitativo. Ignora-se ou esqueceu-se que certos frutos demoram muito a amadurecer. Que certas obras primas levaram uma vida inteira para serem concebidas, e que o valor qualitativo delas equivale ao valor de muitos milhares de obras medíocres reunidas.
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Dentro desta mediocridade hipermoderna em que chafurdamos, percebo seis alternativas possíveis:
1) O futuro sob a proposta capitalista em vigor, onde certo bem-estar social e razoável nível de consumo de fetiches restringem a agressividade natural e as pulsões danosas à coletividade, enquanto houver conformismo entre as massas e comodismo com o status quo vigente.
2) O futuro sob a proposta neo-socialista, com seus dogmas de inversão do poder das mãos das minorias para as maiorias, com melhor repartição dos bens naturais e sociais, e com todo o corolário de reformas, readaptações e consequente comoções sociais que destes processos se originam.
3) O futuro sob a proposta ambientalista, dos que pregam um refreamento radical no consumo, com a seqüela do desemprego às portas, com a contenção demográfica que fere direitos adquiridos, com o retorno a níveis de exploração ambiental pré-industrial, com os programas de “desenvolvimento sustentável” e preservacionismo das espécies vegetais e animais a todo custo.
4) O futuro sob a proposta neo-cientificista de globalização humanitária e democrática, integração dos esforços humanos em prol da erradicação da pobreza e das guerras, em prol da exploração espacial, formação de grandes unidades federais de nações cooperativas, desarmamento nuclear imediato e investimentos em pesquisa.
5) O futuro sob a proposta filosófica de busca de valores e princípios éticos e morais realmente universalistas, a busca do autoconhecimento e da reforma pessoal, a busca da sabedoria como meta dos esforços de governos e suas instituições, inclusive as educacionais; o estoicismo, o epicurismo e o existencialismo aplicados de forma consciente e razoável em substituição aos superados dogmas nacionalistas, racistas, especistas, sexistas e supersticiosos.
6) O futuro sob a perspectiva religiosa. Por estranho que possa parecer, as propostas deste gênero de saber são as mais prováveis ou plausíveis de se concretizar. E porquê ? Elas são escatológicas ( do grego éschatos, postremo ), apocalípticas, e falam do devir humano sobre a Terra com total pessimismo, com poucas exceções. Falam do "Final dos Tempos", do "Juízo Final", do "Nirvana", do "Paraíso", do "Inferno", do "Além". O sistema conceitual da religião foi todo construído a partir da ritualização do cotidiano, sobre a observação dos fenômenos naturais. Observando o nascer e o morrer; o dia e a noite; o bem e o mal; o prazer e a dor; a "sorte" e o "azar"; as regularidades e os imprevistos da vida; os amores e os ódios; os inícios e os fins dos processos naturais, o Homem elaborou grandes estruturas teológico-explicativas para estes fatos e fenômenos. Não encontrando as "razões naturais" que respondessem "convenientemente" aos seus questionamentos e anseios, buscou no mundo da imaginação,onde reside o sobrenatural, as crenças intuitivas e os arquétipos arcaicos herdados, as explicações que se "adequassem" as suas expectativas, propósitos, interesses e esperanças. Uma vez que todas estas estruturas explicativas se tornaram monopólio do sacerdócio letrado, passaram a ter utilidades políticas além de religiosas; e assim o é ainda hoje. O estranho então, mas não inexplicável, é que o Homem caminha de forma quase deliberada para a auto-extinção, fazendo das previsões religiosas a aposta acertada!! O "Armageddon" hebraico/grego ( grego Ἁρμαγεδών Harmagedōn ) pode mesmo estar próximo devido aos cenários de auto-destruição da espécie que o Homem vem industriosa e aceleradamente arquitetando! Quais as possibilidades de uma verdadeira catástrofe final ocorrer? Segundo o cientista e escritor Isaac Asimov, temos vários "panos de fundo" probabilisticamente possíveis : o místico "Ragnarok", que corresponde a qualquer das "batalhas finais" entre os deuses e os homens rebelados pregadas pela doutrinação religiosa mundial(?); o aumento da entropia cósmica; o colapso gravitacional das galáxias; a morte solar; o bombardeamento da terra por meteoros ou asteróides; a colisão da Lua com a Terra; o cataclismo tectônico do interior do planeta; a glaciação ou o aquecimento extremo causado pela mudança climática que se aproxima; a "chuva de raios cósmicos" e a radiação ultra-violeta causada pela eliminação da camada de ozônio; mutações aceleradas e fatídicas do DNA humano; novas pestilências e doenças; a guerra atômica e a contaminação nuclear da atmosfera; o esgotamento total dos recursos naturais e a subsequente extinção das espécies animais superiores, incluindo a nossa. Estes panoramas dramáticos, por incrível que pareça, são ansiosamente aguardados por uma parcela significativa da própria espécie humana, a parcela dos que se acreditam salvos ou eleitos dentro de suas respectivas religiões e visões de mundo.
Bem, a questão é que se continuarmos sendo “teleguiados” pela niveladora e mediocrizante ideologia midiática promovida por classes dominantes e excludentes, não seremos “nós”, a maioria, a escolher qual destas alternativas, ou outras, melhor nos convém. Continuaremos seres reprimidos, domesticados e castrados, verdadeiros mortos-vivos na superfície deste maravilhoso orbe, sujeitos a decisões, a nosso respeito, tomadas por irresponsáveis, ignorantes e corruptos, que designarão o que seremos enquanto seres sociais e enquanto coletividade.