Acatando o convite feito pelo ilustre Saimov, passo a integrar a plêiade de pensadores e filósofos do banquinho e faço vênia a este carismático debate.
Pois é, caro Saimov, suas indagações são claustrofóbicas, dignas de um ardido gole de absinto.
Questionar o “onde” inicial de toda essa empreitada universal é tarefa das mais árduas. A essência de todo o movimento que conhecemos não nos é dada e não faz parte de nossos sentidos conhecê-la como conhecemos a uma maçã.
Essa condição a qual está submetido o Ser Humano, ou seja, de não conseguir nem mesmo saber as razões primevas de sua própria origem enquanto hóspede do cosmos que habita, pode até parecer uma afronta a sua dignidade, uma sarcástica brincadeira do universo que só faz esculhambar com nossa doce e ilusória fantasia megalomaníaca.
Mas, talvez (e aí passo a temperar o debate), questionar o “onde” não seja tão essencial, apesar de clássico. Questionar onde tudo começou, de onde tudo saiu e se organizou como concebemos etc, é uma atitude filosófica e perene, que em muito nos ajuda, trazendo, inclusive, lampejos de uma sensação de inclusão, ou, quem sabe, até mesmo o sentimento de que se o universo nos desafia em sua grandeza, devolvemos o troco com nossa incessante busca pelas razões primordiais que nos cercam. Ilustro esse pensamento com uma célebre frase de D. Paulo Evaristo Arns, que certa feita, pude apreender ao ler um editorial do Jornal “O Estado de S. Paulo”: “a busca pela verdade distingue o homem, nossa paixão por ela nos dignifica”.
Buscar a origem, desbravar os mistérios da cosmologia que nos cerca, portanto, é tarefa intrigante, desbravadora, digna das almas mais seletas e incômodas. Mas, como eu disse, talvez conhecer o “onde” não seja assim tão essencial.
Prefiro lançar-me aos interrogativos de um belo Por que! Por que tudo começou? Por que existe essa matéria primal, esse “ovo” que eclodiu em tantas buscas e anseios humanos e também não humanos, alienígenas, quem sabe?
Talvez trocar o “onde” por um “por que” não responda à indagação lançada pelo “onde”, mas não é menos intrigante.
Contudo, um fato a diferencia do “onde”: as crianças possuem abstração para responder ao “por que”. Ele se aproxima delas como duas extremidades opostas de um íma. Por que?
Porque, acredito, assim como faz parte de nossa configuração humana conhecer e desbravar as origens de nossa condição, também o é questionar as razões de sermos como somos, capazes de altas expressões de amor e também de baixíssimas demonstrações de torpeza.
E se percebermos o universo como linguagem, ou seja, se o que muitas vezes definimos como Deus for uma “intenção” que quis por si só criar tudo o que vemos e não vemos, então o “por que” ganha um brilho inconfundível, porque nos faz filhos de uma paternidade universal. Mas se de fato o “ovo primal”, que não sabemos “onde” se originou, tinha a intenção de se originar, então qual é essa intenção? Por que ela se fez presente e impôs estas Leis universais das quais conhecemos algumas?
Não ouso responder a tais perguntas, mas arrisco afirmar que se há uma intenção, um por que, então há igualmente uma ligação entre nós e o cosmos, e essa ligação deve transcender as barreiras de nosso plano físico. E essa transcendência, só a podemos conhecer com o olhar de uma criança.
Rafinha Capa Blanca
13/01/2010
Quanta modéstia na escolha do cognome hein Rafa?? Eu trocaria Rafinha "Capablanca" por Rafinha "Batabranca".
ResponderExcluirPalmas!! Aplausos extasiados!! Enfim encontrei o par autoral adequado (ainda que eu preferisse uma Dama) para valsar no salão sideral ao som do Danúbio Azul terreal! Optimus! Dud's.
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