segunda-feira, 30 de maio de 2011

Caminhada.

É. O Homem caminha sem rumo sobre a superfície da esfera planetária; carregando consigo seu próprio juízo. Com este instrumento ele julga, absolve ou condena a si e aos outros. Suas punições variam do auto-extermínio de si, ao desprezo pelo próximo, a quem condenou e condena sumariamente.  Quando se faz juiz severo de casos mal estudados pode decidir pelo extermínio alheio, e se executa esta pena, encontra seu próprio julgamento pelos magistrados seculares. O Homem também aprende e desaprende. Lembra-se de diversas coisas, e esquece-se de uma enorme quantidade de dados. Ele acredita em muita coisa duvidosa, e duvida de muita coisa real. Ele não discerne corretamente entre ‘real’ e ‘irreal’; ao menos não discerne corretamente em todas as situações em que esta distinção crucial se faz necessária. Isto ocasiona fanatismo, superstição, medos, neuroses, psicoses e alienação.

Portanto, como é inegável que todos se confundem, esporadicamente,  ao avaliar o correto ‘status quo’ das coisas que se lhe apresentam a apreensão cognitiva,  temos a condição de que todos vivemos, em parte, de ilusões.
Tudo depende, é claro, da particular estruturação da psique individual, dos dados e informações que lhe “informam” sobre as próprias informações, em um círculo hermenêutico/cognitivo de difícil decodificação e adequada “visualização” pelo entendimento humano. Mas a influência dos poderes sociais constituídos sobre as mentalidades leva os homens a aceitarem mentiras e invencionices como verdades e realidades. Disto sobrevivem estruturas de poder arcaicas, totalmente obsoletas, sem relevância alguma para o bem coletivo. Arcaísmos vivos que se alimentam dos temores e culpas que os seres humanos criam para si, incapazes e temerosos que se fizeram para olharem para fora das grades invisíveis que ajudaram a erigir sobre si mesmos. Assim, com o tempo e a incessante doutrinação midiática, acabam por avaliar como justa sua condição alienada, submissa e patética.
Algozes sedentos de ingenuidade para dela abusarem; hienas transvestidas de dóceis ovelhas. Carrascos cumprindo com prazer seu maldito dever;  seres nascidos das entranhas da distorção maniqueísta do Bem e do Mal.  Anfitriões das ilhas paradisíaco-infernais do vício e da escravidão, propagandeando suas boas intenções com sorrisos e promessas de alívio e solução imediata para angustias eternas, perenes, que só a sincera reflexão e meditação introspectiva poderiam alentar. O que será do Homem em sua caminhada errática pelo orbe dependerá de sua disposição para enfrentar sua própria fraqueza, para se desvencilhar de suas mal justificadas inclinações indolentes e inconseqüentes frente aos vícios e facilidades momentâneas. Dependerá de como metabolizará toda sua História de fracassos, violências e desperdícios em uma cultura futura de paz, sobriedade e fraternidade reais; jogando aos porões do desuso as ideologias mesquinhas do individualismo, do consumismo, do imediatismo e do conforto fácil. Dependerá, em parte, o futuro do Homem, de como ele resolverá a incógnita esfíngica de sua própria imagem arruinada em um espelho que reflete o que ele não é, mas o está sendo por pura indolência.
Dúdis Capivarovsky Tozinsky, o tolo.

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