domingo, 22 de maio de 2011

Meditações gélido-dominicais.

Seres Humanos. Obviamente animais produzidos pela evolução natural das espécies. Perfeitamente, extremamente adaptados ao meio planetário e à vida gregária. Desenvolvemos linguagem e ‘cultura’, e esta última, através da primeira, nos torna mais dessemelhantes do que já nos fez a natureza, ou o “Criador”. Linguagens incompreensíveis entre si, linguagens estranhas na boca de estranhos, e a discórdia e o exterminismo estão semeados. A explicação alternativa milenar para a origem e natureza de nossa espécie é hoje chamada, eufemisticamente, “design divino espontâneo”, ou criacionismo. A teoria da ‘evolução por seleção natural dos mais aptos’ foi recentemente elaborada, ou descoberta, e até sua difusão e assimilação o criacionismo supriu uma lacuna explicativa importante. Na religião, o homem é semelhante a Deus. Na ciência, o homem é mais um animal. O criacionismo foi eficaz até ter de enfrentar a ‘ciência’. A religião é obra revelada, mística, teleológica, insondável e atemorizadora, fruto mitológico que transcende as eras descritivas elaboradas pelos paleontólogos e arqueólogos para nossa espécie. A ciência é implacavelmente bem formulada no quesito “argumento válido”; e é obra coletiva, cumulativa e paradigmática, resultado da investigação minuciosa e destemida do homem sobre a natureza. Hoje os dois sistemas explanatórios coexistem. Um é reminiscência de uma era ingênua e crédula, de tempos obscuros ao conhecimento científico. O outro é um luminar do saber humano. Obra prima do gênio investigativo humano. Ambas sistematizações colidem frontalmente. Uma tem seus quartéis generais nos templos, basílicas e mosteiros. Outra, nos centros acadêmicos e laboratórios. Uma tem seus defensores no alto dos púlpitos e tribunas. Outra, nos seminários e congressos científicos. Uma tem seus fundamentos condensados e codificados em um único livro, e apóia-se em sistemas explicativos mitológicos de povos de todo o mundo. Outra tem seus fundamentos e princípios expostos em diversos livros que se complementam, em artigos, ensaios, relatórios de pesquisa e resenhas científicas. Uma tem a fiel adesão de algo em torno de 94% da população mundial. Outra tem seguidores céticos que não chegam a 5% da população mundial. Numa, os adeptos estão calados e guardam reservadamente suas dúvidas temendo a ira potencialmente desencadeada por seu Soberano, por seus ‘representantes’ terrenos e suas instituições e por seus irmãos de crença, que abominam a descrença. Estes temem a excomunhão e a condenação eterna. Noutra, os seguidores são ao mesmo tempo perseguidores incansáveis de provas e contraprovas, são curiosos e sempre desconfiados. Acreditam na possibilidade de ‘melhorias’ no sistema explicativo de seu paradigma científico, e em geral não temem poderes "sobrenaturais", por simples coerência. Em uma, os seguidores são grandes rebanhos silenciosos, mansas manadas prontas a prostrarem-se ante as mais extravagantes e insustentáveis explanações. Em outra, os seguidores são desinquietos, barulhentos e ativos, prontos a apontarem falhas lógicas, erros de cálculos e distorções interpretativas em suas próprias fileiras.

Paradoxos. Ambas colocaram a coletividade humana em risco, tanto apocalíptico quanto cataclísmico, por puro capricho. O valor de cada uma é "absolutamente" relativo. Paradoxos.

Linguagens diferentes. Uma, mitológica, cifrada, supersticiosa, revelada a “escolhidos” e interpretadas por sacerdotes privilegiados, cheia de tabus indiscutíveis e inquestionáveis que deixam seus adeptos em um desconfortável consolo. Outra, matematizada, livremente pensada, cheia de dados estatísticos, totalmente compreensíveis apenas a uns poucos e também privilegiados iniciados; mas aberta ao debate, ao confronto e a crítica. A religião queimou cientistas. A ciência destronou os sacerdotes religiosos. Há uma batalha sendo travada nos substratos institucionais que as representam? Faz-se necessária a escolha entre uma das opções? É possível uma conciliação, como tentam alguns esforçados pacificadores ? Linguagens semelhantes. “Concílios”, assembléias de teólogos. “Sínodos”, reunião de párocos e padres. “Simpósios”, assembléias de cientistas e tecnólogos. "Congregar", existir simultaneamente...

4 comentários:

  1. O pior de tudo é a hipocrísia, na maioria das vezes da boca que saí as mais fervorosas orações sai também a intolerância ao diferente (gays, lésbicas...). Da mão que colocou o dízimo estalou o açoite no escravo. Dos joelhos suplicantes, "humildemente" colados ao chão, veio o golpe nos "pagãos". A mão que acendeu a vela foi a mesma que incendiou a biblioteca de Alexandria. Enfim, o cristianismo chega ao nosso século "pingando sangue de todos os poros", pois foi construído sob os ossos de milhares de inocentes.
    Deixando a "capivara cristã" (que é longa e mais suja que pau de galinheiro) de lado, ainda tem as consequências para o mundo presente.
    Enquanto no cristianismo o homem, criado a imagem e semelhança de Deus, é o ápice da criação e pode dispor da natureza ao seu bel prazer, na concepção "darwinista" ele é apenas mais uma ramificação da árvore evolutiva, por natureza, nem pior nem melhor que as outras espécies.
    As implicações desse pensamento para a nossa convivência com o meio ambiente, com nossa espécies irmãs, são enormes.

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  2. Podes crer!! Ou não crer..., never mind...

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  3. Saymon, que comentariozinho mais preconceituoso, cara! Totalmente desprovido de fundamentações. Vc começa afirmando a intolerância do cristianismo, mas conseguiu ser mais intolerante que qualquer deles.

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  4. Caro Rafinha, fundamentos não faltam para sustentar o que falei. A cabeça de Galileu; as cinzas da Biblioteca de Alexandria; os milhares de escravos mortos nos famosos "tumbeiros" (a Santa Igreja justificava a escravidão dizendo que era benéfica á eles); as centenas, senão milhares, de mulheres queimadas acusadas de bruxaria, enfim, não é sangue suficiente pra você?
    Olha, nem que tivesse mil vidas conseguiria ceifar tantas como fez a Santa Igreja. Sou praticamente um Gandhi perto da "capivara" dos cristãos.
    Meu conceito sobre os cristão, em especial sobre a Igreja Católica, é fundamentado em pesquisas sérias das mais diversas tendências historiográficas. O que não faltam são provas para as afirmações que fiz.
    E sua análise, é baseada no que? Nos livros de catecismo?

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