domingo, 15 de maio de 2011

MORAL E SOCIEDADE


“A moral é uma das funções ideológicas nessa luta (a luta de classes). A classe dominante impõe seus fins á sociedade e se habitua a considerar todos os meios que contradizem seus fins como imorais”.
(León Trotsky)

Ontem estava lendo um texto de Trotsky, para variar, e gostaria de compartilhar o tema do texto com alguns colegas do blog que por ventura se interessem.
Em “Nossa moral e a deles” Trotsky responde ás acusações de que os comunistas seriam “amorais”. Para Trotsky não existe uma moral “fora da sociedade”, ao contrário. Os preceitos morais seriam históricos, relativos ao desenvolvimento da sociedade.
Nessa linha de raciocínio, durante a Guerra Civil, o líder do Exército Vermelho ordenou que se fizessem de reféns os familiares dos oficiais do exército a fim de garantir-lhes a lealdade.
Ao defender a execução sumária dos inimigos ou a militarização do trabalho, deixa clara sua concepção de que os meios estão estreitamente ligados aos fins. Os meios seriam “moralmente válidos” desde que os fins também o fossem. Se executar ou torturar um refém garantir um fim “superior”, no caso a sobrevivência da revolução”, logo esses meios são válidos e “morais”.
Para Trotsky a única forma de se conceber a moral “fora da sociedade” seria através da religião, coisa que como materialista, nega veementemente.
Bem, não me deterei discutindo a moral do ponto de vista religioso, uma vez que é impossível provar que algo não existe. Mas me parece claro que muitos preceitos morais são históricos, portanto, relativos.
Entre os espartanos antigos, por exemplo, era moralmente aceitável sacrificar uma criança que nascesse com alguma deficiência física. Hoje isso seria, além de criminoso, considerado “monstruoso”.
No Brasil escravagista a moral dominante, dos senhores de engenho, apoiados na Igreja Católica, conciliava o cristianismo com o “tronco”, a “chibata” e o comércio de Seres Humanos. Não podemos esquecer que a moralidade da Santa Igreja Católica, por exemplo, justificou a fogueira para milhares de “infiéis”.
Enfim, muitos preceitos morais apareceram e desapareceram de acordo com o desenvolvimento social. Estaria a moral apenas contida nos “fins” ou existiria um “núcleo duro” inerente a espécie humana ou aos seres vivos em geral? Existiria uma “moral” fora do social, talvez ligada aos “mandamentos biológicos de preservação”?
Claro que nesse sentido, os “fins”, no caso a preservação da espécie, também justificariam os meios, porém esse fim seria a – histórico.
Resumindo, existe um “núcleo duro moral” comum, inerente á espécie, válido tanto para o católico Rafinha Batabranca, o ateu Dud’s Tozinsky, o confuso Saimov Kasparento, um servo dos tempos de Tutankamon, um guerreiro de Xerxes ou mesmo a famosa Lucy?

Saimov

2 comentários:

  1. Eu acredito em predisposições biológicas que, em suas manifestações, se equiparam a princípios morais. Mas a palavra "moral" e o conceito que representa são ainda muito datados para classificar estas tendências e inclinações. Eles são, como você diz, "históricos", e "demais". Os instintos de que falo são ancestrais, se perdem nos idos da evolução das espécies, são inerentes aos animais em geral e não poderia ser diferente com o ser humano, também um animal, no fim das contas. Quando o homem fala em "moralidade", mesmo em sentido histórico/ideológico, esta falando de rótulos justificativos ou depreciativos para amenizar ou agravar as consequências de atos desencadeados pelas "pulsões" ordenadas pelos genes. Os sistemas valorativos e seus desdobramentos culturais não geram estes atos, sejam eles sistemas políticos, ideológicos, teológicos, filosóficos...; coisas recém-nascidas em comparação com o "núcleo duro" cromossômico à que estou me referindo. Acho que, por exemplo, as mães vão continuar "amamentando seus bebês no peito, em público" enquanto as "modas" moralistas que incentivam ou condenam este impulso passam como nuvens pelo céu panorâmico das culturas humanas... Será que fui claro? Provavelmente não... Bem, estou trabalhando num pequeno ensaio a respeito e pretendo postá-lo, mas vejamos.... Boa postagem Saimov, boa mesmo.
    Dúdis.

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  2. Não, não, está bastante claro e seria interessante um ensaio a respeito.
    É interessante como estamos imersos em determinada "moralidade" e as vezes não nos damos conta, salvo com um exame corajoso de nós mesmos.
    Esses dias, estudando o período de Guerra Civil na Rússia, me deparei com as execuções sumárias feitas por um lado e outro. De certa forma, me coloquei naquele período e percebi que provavelmente seria fuzilado por "fraquejar" perante a execução de alguns "contra-revolucionários".
    Bem, no meu consciente, em princípio, formulei diversas teorias "laicas" para justificar á mim mesmo esse pudor pelas "execuções do inimigo". Porém, no fundo, percebo que essa repulsa é parte de uma moral cristã que chega muitas vezes por muitas outras vias que não a religião em sí (família, amigos, mídia...).
    Nesse sentido, lembro muito de "Memórias Póstumas de Brás Cubas", onde o personagem Bentinho formula as teorias mais mirabolantes para justificar á sí mesmo o fato de não dar esmola á um mendingo. Depois ele chega a conclusão que não deu simplesmente pela repulsa diante daquela figura.
    Enfim, mas até onde essa moralidade nos freia os impulsos? Acho que em situações extremas todo esse verniz que nos torna "civilizados" cai por terra.

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