quinta-feira, 5 de maio de 2011

Pensem nos alemães...


               Uma noite dessas estive conversando com o amigo Saimov sobre os 'alemães'
           Os Alemães são mesmo um povo estranho; ao menos para mim! Todo um verniz de civilização, asseio e requinte cultural de fachada que constituem o “ponto alto” do caráter nacional alemão e encobrem, aos olhares desavisados, o lado negativo ou o “ponto baixo” que toda personalidade, identidade e nacionalidade possuem, segundo afirma o mais destacado investigador da psique humana, Sigmund Freud, cientista austríaco falante do idioma alemão.
              Este mesmo ‘asseado’ povo, como se sabe, nada tem de imaculado. Aliás, como todo o ser humano, todas as sociedades  possuem seu lado obscuro. Mas os alemães, em particular, foram os responsáveis diretos pela maior ‘assepsia’  étnica da história, o genocídio de seis milhões e meio de indivíduos do povo judeu.Os Alemães sozinhos foram os causadores, apenas no século vinte, de uma mortandade provavelmente maior  que as façanhas somadas de Alexandre Magno, Aníbal, Átila, Calígula, Genghis Kahn,  Julio César e Napoleão juntos. E pense que a ação mortífera  conjunta destes figurões levou séculos para se consumar!
              Os alemães, um magnífico e ordeiro povo, só não escravizaram todo o resto da “degradada” espécie humana porque foram detidos à tempo e derrotados por uma coalizão composta pelos países mais poderosos do mundo (depois da Alemanha, é claro), numa guerra tão  horripilante que  sombreou para sempre, em virtude dos rios de sangue que esvaíram da juventude, a fé no progresso  da civilização e na racionalidade humana. Imaginem o que seria do mundo hoje tivessem os eficientes e organizados germânicos  vencido a Segunda Guerra Mundial! Catástrofelogia premonitória comparativa, um interessante exercício mental! O perdão é divino! Sabemos. Concordamos e o praticamo-lo na medida em que nossa natureza humana nos  permite. Mas não podemos mais recair na ingênua apreciação acrítica das ‘aparências’. Se existe no mundo uma ‘consciência nacional pesada’, essa consciência deve ser  a consciência alemã. As atrocidades e perversidades cometidas pelo regime nazista não teriam ocorrido sem a conivência do povo alemão.
                 -“Mas foi outra geração!”, dizem! Isto também é correto! Mas por que, pergunta-se, temos de continuar pagando tributos laudatórios em forma de elogios, encômios e apologias aos povos do capitalismo central, entre eles os alemães? Povos que com toda a sua riqueza, produtividade, eficiência, avanço tecnológico e social, não aprenderam  ainda a viver da forma alegre e descontraída  dos brasileiros... Eles é que aprendam conosco! As únicas guerras justificáveis são as guerras defensivas, e os alemães não se envolveram neste tipo de guerra, mas na guerra ofensiva, na guerra de conquista e na guerra de extermínio. Deste ponto de vista, eles não têm nem mesmo o álibi das conjunturas geopolíticas desfavoráveis para escusá-los. Culpa, ressentimento, frustração, vícios, complexos, neuroses  e manias estão no “ponto baixo” dos elementos constituintes do caráter nacional alemão, assim como no caráter dos indivíduos, em maior ou menor grau.  Não os invejemos!  Vivamos a plenitude de nossa tropicalidade, de nossa liberdade e de nossa adolescência civilizacional, e deixemos os Alemães com suas próprias chagas. Preocupemo-nos com nossas próprias feridas, desigualdades, violências e pobrezas, que já se tornaram crônicas e seculares, mas não incuráveis! 
   O mundo germânico nos deu Einstein, Freud, Heidegger, Marx, Thomas Mann, Husserl, Max Weber, Goethe, Wittgenstein, Horkheimer, Jurgen Habermas, Kant, Schopenhauer, Erich Fromm, Hannah Arendt, Walter Benjamin, Theodor Adorno e outros. Todos pensadores austríacos e alemães admiráveis. Nas artes e na música, também é inegável o talento, gênio e a contribuição dos germânicos à humanidade. Estão aí para provar as obras de Schutz, Telemann, Beethoven, Mozart, Brahms, Haydn, Haendel, Schubert, Schumann, Mendelssohn, Gustav Mahler, Hans Henze, Stockhausen, Richard Wagner, Anton Bruckner, Anton Von Webern, Alban Berg, Arnol Schoenberg, Paul Hindemith  e Bach, o eterno, além de outros nos enchem de encanto musical. Mas infelizmente também brotou daquela terra Adolf Hitler, Goebbels, Himmler, Hermann Göring, Josef  Mengele,  Adolf Eichmann e Ilse Koch, a “cadela de Buchenwald”.

3 comentários:

  1. Esse tema realmente é bastante interessante. Muitas pessoas fora da Alemanha custaram e ainda custam a acreditar que um dos povos mais "civilizados" do ocidente foi capaz de uma “barbaridade” do porte do Holocausto. Surpreendem-se, no meu entender, porque romantizam demais nossa espécie, colocando-a num pedestal que não lhe é de direito.
    Quantas vezes, ao ouvirmos notícia do assassinato de uma criança ou de um idoso, não ouvimos pessoas aos quatro cantos dizendo que o assassino é um animal, desumano? Ora, quer coisa mais humana que matar seu semelhante por motivos fúteis? O mesmo humano capaz dos mais louváveis atos de abnegação é o mesmo que se sente saciado com o sangue do semelhante que pensa diferente ou que de alguma forma contrariou seus interesses egoístas. É comum dizer que alguém é “muito humano” quando faz algo digno de admiração, do contrário é um “desumano”. Sinceramente não concordo com esse senso-comum. Gandhi, Hitler, Stalin, Mauricinho, Beethovem, Jesus, enfim, são todos representantes da mesma espécie, todos exerceram as potencialidades inerentes à mesma. Nossa espécie é isso, capaz do melhor e do pior, muitas vezes convivendo no mesmo indivíduo em algum tipo de “meio termo”.
    Fenômenos como o holocausto, podem ser explicados de diversas maneiras, menos por uma pretensa “falta de humanidade”.
    Os marxistas ressaltam a idéia do “bode expiatório”, ou seja, a elite alemã, com receio de uma revolução socialista, utilizou-se do anti-semitismo já presente para “canalizar” o ódio dos alemães em direção aos judeus e assim, evitarem a revolução. Foi um estratagema da “luta de classes”. Os nazistas serviram á esse desígnio.
    Essa explicação, apesar de dar conta de boa parte do fenômeno, não o esgota e nesse sentido lembro do que o Rafinha disse: “o marxismo não explica tudo”. Norbert Elias propõe uma outra classe de explicação, com enfoque, sobretudo, nos aspectos culturais.
    Um outro aspecto que gostaria de ressaltar é que o anti-semitismo era bastante difundido na Europa do período. Na Rússia, Polônia, Ucrânia...os judeus sempre foram perseguidos. Os famosos progroms geralmente se davam em momentos de crise econômica, como uma forma da elite desviar a atenção do povo de suas próprias mazelas. A pergunta é: Por que na Alemanha esse anti-semitismo passou do ódio ou repulsa desordenada para um programa de Estado racional destinado a simplesmente eliminar fisicamente um povo? Quais as especificidades da Alemanha ou do Partido Nazista, ou de Hitler ou do povo alemão? Mais que uma diferença quantitativa, o nazismo representou uma mudança qualitativa no ódio aos judeus.
    Por fim, acho interessante ler os depoimentos de alguns soldados das SS ou mesmo da wehrmacht. Esse militares ou paramilitares, quando acusados pelas atrocidades cometidas, geralmente justificaram seus atos com o argumento de que cumpriam ordens.
    Para os militares, e no caso as SS tinham uma estrutura militar, o cumprimento das ordens sem questionamento, o respeito á hierarquia, são coisas praticamente sagradas. Mas até que ponto o comprometimento com uma instituição, no caso a militar, desobriga o indivíduo de responder por certos atos?
    Sua consciência não deveria estar frente de sua farda?Em minha opinião justificar atos dessa natureza pelo argumento do “cumprimento da ordem” é repulsivo. O que executou é tão culpado quanto o mandante, talvez um pouco menos pelo menor número de mortes, mas isso é irrelevante. No meu entender, no causo do holocausto, inclusive os neutros, que assistiram a tudo sem se moverem, também tem sua parcela de culpa.
    Enfim, gostei muito do texto e do debate levantado. Esse é um tema bastante relevante inclusive nos dias de hoje. O ódio ás minorias está em cada esquina. Em outro cenário temos os mesmos personagens. Temos os inspiradores do ódio, os praticantes diretos, os passivos que a tudo assistem, os que lutam contra isso e por fim, as vítimas do ódio (gays, negros, índios...). Que o debate sirva para que esses personagens não protagonizem as mesmas cenas ocorridas na Alemanha nazista.

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  2. Fresco! Seu comentário ficou bem melhor que o meu texto!! Coloque-o como publicação. Muito instrutivo e instigante.
    Capivarovsky Tozinsky.

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  3. E aí Tozinsky, posso colocar o marcador nesse texto? Coloco em "política" mesmo ou quer criar um novo marcador?

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