segunda-feira, 27 de junho de 2011

O centro das coisas.

O centro das coisas.          
   Existirá um centro “fixo” para as “coisas”? Um núcleo estável sobre o qual as partes adjacentes se estruturam solidamente? Sabe-se que nem mesmo as estrelas mais compactas, as estrelas de nêutrons, possuem tal “lócus”, pois além das forças nucleares, forte e fraca, a deslocarem as subpartículas quânticas por toda a orla atômica, a força gravitacional acumula, desagrega e converte a matéria ordinária, modificando a localização do centro subatômico das massas estelares mais densas para onde converge a matéria "sugada" pela estrela. Pois bem. É válida a extrapolação das noções quânticas para o mundo dimensional humano, e especialmente para a psicologia humana? É o que tem sido feito por filósofos pósmo (pós-modernos).Vejamos como a coisa funciona; ou não funciona.
 
Se não há estabilidade “absoluta” na matéria ordinária, pode-se esperar estabilidade absoluta no universo mental dos indivíduos? Onde exatamente se localizaria o centro de uma mente humana? Qual seria o núcleo estável de uma personalidade? Sua identidade?

   A personalidade se fundamenta, sabe-se, na memória, na consciência e na imaginação. A memória armazena os dados relativos a nossa identidade social, biológica e familiar: Somos “humanos”, gênero masculino ou feminino. Apuram-se nossa hereditariedade, parentesco, paternidade e maternidade; e os registros sociais documentais sobre nossa “nascença” e filiação começam a acumular-se desde que somos paridos.  Recebemos então, ao nascer, um código gramatical cifrado, um “nome”. Ele raramente é inédito ou único. Em geral vários indivíduos partilham do mesmo código identitário social; somos em grande parte “homônimos”. Nada demais, pois outros indicadores se fazem presentes para que nos distingamos de outros seres de mesma “rotulação”. Os álbuns de fotos se preenchem de imagens de seres em constante mutação...
   Acontece que, no decorrer de nosso “desenvolvimento”, nos descamamos, nos deterioramos, nos desfazemos se refazendo simultaneamente. No processo, nossa memória e o registro social sobre nós sofrem alterações. Viemos então a saber mais sobre “quem somos”, memorizando o que nos convém a este respeito, para nosso orgulho ou desespero; e os registros sociais, cada vez mais espargidos pelos arquivos comunitários, somam informações detalhadas sobre nossas pessoas, para fins de vigilância e seguridade social.
   Mas também podemos sofrer redução de dados identitários. Um acidente vascular cerebral, um trauma crânio-encefálico, uma doença neurodegenerativa, uma lobotomia ou outra cirurgia de exérese e ablação de massa cinzenta, uma drogadição ou alcoolismo podem destruir neurônios a uma taxa capaz de nos “despersonalizar”. Os arquivos estatais são ameaçados e atacados por traças, umidade, fogo e fogueiras ideológicas que podem nos despir de todas as características sócio-identitárias, “desumanizando-nos”, como nos regimes totalitários. Aqui não se trata mais de “quem” somos, mas do “quê” nos tornamos, ou nos tornaram. Eis uma das raízes das lutas identitárias!
   A consciência, por sua vez, nos informa constantemente sobre nosso “eu”. "- Sou isso, sou aquilo; não sou isso, não sou aquilo. - Tenho isto, não tenho aquilo. - Posso isto, não posso aquilo. - Sei disso, não sei daquilo..." O que vem a ser consciência? Uma leitura atualizada da memória? Um processamento de múltiplas variantes informacionais que nos “localizam”, “indicam”, “advertem”, “temporalizam”, “relembram” ou “identificam”?
   Pois a consciência também esta sujeita a degradação instrumental, e também sofre melhoramentos qualitativos e quantitativos, praticamente pelos mesmos motivos que afetam a memória. Portanto, o que ela nos informa sobre “quem” somos, pode modificar-se no decorrer do tempo. A consciência, dizem , pode expandir-se sob o influxo de agentes neuroquímicos, enzimáticos, psicotrópicos, sob a influência de febres ou por estímulos e experiências místico-religiosas; viagens donde muitos voltam acreditando-se seres superiores, deuses, profetas, demônios, anjos, entidades renascidas, médiuns, alienígenas ou seres inclassificáveis pelas categorias normativas sociais. Pouco a comentar sobre estas alucinações e delírios. A ciência não alcançou estes limites de forma a fornecer conclusões confiáveis. Ao menos não que "eu"(sic), chamado “dúdis”, saiba. Que seja. A questão se mantém: o núcleo identitário de nossa personalidade esta em constante transmigração “interior” também no âmbito da “consciência
   Em relação à imaginação, que tanto pode ativar dados da memória para projetar cenários futuros ou passados, como bem o sabem os historiadores e futurólogos, esta também participa da construção de nosso “ego”. Mas este tripé neuro-instrumental não é suficiente para absolutizar nosso “eu”. A imaginação, tanto quanto a memória e a consciência, quase nunca “trabalham” sozinhas. Imaginar, fantasiar, sonhar e divagar são termos quase sinônimos. São ações mentais que podem funcionar como amplificadores de nosso ego quando não temos a devida vigilância sobre eles. São a sede das artes, ciências e descobertas. O propulsor primário da cultura, da moda, das inovações e das criações. A criatividade é fruto dileto da imaginação... Mas a imaginação também distorce nossas noções e percepções. Podemos nos imaginar mais “poderosos”, “sábios”, “talentosos”, “fortes” e “cativantes” do que uma avaliação imparcial, minuciosa e metódica apontaria. Podemos nos acreditar sendo “o quê” não somos. Podemos fantasiar sobre nossos atributos e qualidades. As crianças são naturalmente dadas aos encantos da imaginação, facilmente encarnando heróis e seres fantásticos. Que a imaginação “descentraliza” nosso ego poucos duvidam.  Mas, e quanto a seu papel estabilizador de nosso “centro” psíquico? Ela, a imaginação, desempenha neste quesito alguma função? O que me parece é que, sendo a imaginação uma das faculdades mais estimuladas pela abstração cultural e ideológica, sua atuação sobre o suposto centro fixo de nossa personalidade seja a menos conservadora das três, nos possibilitando até mesmo questionamentos inusitados sobre nossas crenças mais básicas como: onde fica o centro das coisas? Que coisas somos nós?! Nós somos ou apenas estamos?! Onde esta o centro das coisas que estamos sendo?
Dúdis Tozinsky Sinatra Cobain Capivarovsky, o incrédulo.

3 comentários:

  1. O centro das coisas?? Todo centro, verdadeiro, pode ser reduzido "ad infinitum". Ou seja, o verdadeiro centro é o centro, do centro, do centro, do centro, do centro, do centro... Onde se chega? Talvez ao vazio, ao nada. Mesmo nas estrelas mais densas, as quais o Srº Dúdis citou, há mais espaço entre os nêutrons do que nêutrons propriamente ditos! É possível então que, por conjectura, o provável centro esteja neste espaço vazio, oscilando em um vácuo cercado de nada, por sua vez cercado pela sopa de nêutrons. Mas existe a compactação maior dos "Buracos Negros"; e a incomensurável compactação do conceitual do "Big Bang". Neste sim, o tal centro do centro se constituiria um mistério...
    Quanto ao centro do Ego ou ID, bem, este pode estar codificado, quanto a sua forma genótipa, nas cadeias nucléicas do DNA cromossômico , aguardando a possibilidade de "vir à ser" para se preencher de conteúdo fenótipo. O centro estaria em algum ponto da substância que conforma este conteúdo. Entretanto, se o pensamento e a consciência forem apenas "vapores etéreos", ainda mais etéreo seria o centro deste. Talvez a tal "centelha divina". Ou algo muito menos glamouroso que isto...
    Anônimo.

    ResponderExcluir
  2. Gosto muito do seu blog!!!
    Hebraicos...

    ResponderExcluir
  3. Quem seria a misteriosa "B", a LINDÉRRIMA figura feminina que aparece nesse conceituado Blog. Infelizmente foi postada, justamente, ao lado de uma FIGURA HEDIONDA da linhagem do Ebola. Enigma a ser solucionado pelos integrantes do "BANQUINHO MAIS RALADO DA FRANCA". Aguardo ansiosamente, brevemente, a tão esperada resposta, a solução desse enigma!
    Ass: O CURIOSO

    ResponderExcluir