quarta-feira, 15 de junho de 2011

XANDOVSKY

Recentemente o chefe do Serviço Secreto do Banquinho do Xadrez, o agente 171, viajou á Moscou e teve contato com a alta cúpula da inteligência russa. Nos arquivos de Moscou nosso agente se deparou com documentos ultra-secretos que colocam a nu a verdadeira identidade de nosso amigo Xandão, ou mestre Xandovsky, como viemos a descobrir.
De acordo com registros fotográficos e cartoriais, em 1910 o Czar Nicolau II teve um filho fora do casamento. Do affair de Nicolau com uma camareira do palácio, Aleksandra Kapvarovska, nasceu o jovem Xandovsky Nicolaieivich Romanov.
Por motivos óbvios Xandovsky foi criado longe da corte. Juntamente com sua mãe, foi mandado para uma aldeia siberiana onde passaram a viver da criação de capivaras brancas (Capivarus Albinus Siberians).
Mandado para longe a fim de evitar escândalos, Xandovsky não deixou de receber carinho e apoio do pai, que frequentemente visitava o “Recanto das Capivaras” – nome da fazenda onde viviam Xandovsky e a mãe – para ver seu rebento.
Em 1916 o jovem Xandovsky foi pela primeira vez á São Petersburgo passar as férias com a família real. Apresentado como um parente distante, Xandovsky se divertia com seu irmão Alexei, que adorava tirar carrapatos de capivara que infestavam o jovem Xandovsky.

Conforme a tradição da família, um tutor foi contratado para iniciar Xandovsky nas artes do xadrez. Um ano se passou – noite e dia de estudos – e o garoto ainda tomava pastorzinho. Mal sabia arrumar as peças no tabuleiro.

Foto de família: Xandovsky está atrás da cadeira do pai brincando com sua capivara de estimação.

Considerando isso uma vergonha para a família, em janeiro de 1917 o Czar Nicolau envia Xandovsky para o ISIEE (Internato Siberiano Intensivo de Estudos Enxadrísticos), onde uma junta de cinco mestres teria a ingrata missão de transformar o garoto em ao menos um “empurrador de madeira”.
Com a revolução de outubro os Romanovs foram executados pelos bolcheviques, porém, o jovem Xandovsky se salvou por estar no internato. A Cheka, polícia secreta bolchevique, logo descobriu a existência do filho não reconhecido e teve ordens de eliminar aquele que no momento seria o único herdeiro do trono imperial.
Já findava o ano de 1919 e os mestres desistiram de instruírem Xandovsky nas artes do xadrez, o garoto não levava mesmo jeito para a coisa. Aproveitando o pretexto da perseguição, colocaram Xandovsky em um cargueiro que trazia capivaras brancas para o Brasil.
Em terras tupiniquins Xandovsky foi criado em São Paulo, no bairro de Itaquera. Adotado por Tião da Fiel, o jovem foi apelidado de Mano Xandão. Com um gorrinho preto na cabeça e um pedaço de bambu com a bandeira do Corinthians, logo virou Xandão da Fiel.
Se por um lado não se deu bem com o xadrez, por outro se deu bem “no” xadrez. Preso por arruaças com a torcida organizada, Xandão foi membro fundador de uma enorme torcida surgida nos corredores do Carandiru, a Pavilhão 9.
                                      Aqui Xandão está agachado, amarrando o sapato.
                    A foto é bem clara. Xandão é o terceiro, da direita para esquerda, na quinta fileira.

Após uma fuga em massa, Xandão encontrou na “25 de Março” um tal de Klaus Decir, que lhe vendeu nova identidade e uma passagem cheia de baldeações para a Bolívia. No meio da viagem descobriram que a passagem era falsa e Xandovsky teve que descer do ônibus.
Como chegou á Franca ainda é uma questão obscura, porém, sabemos que quando ficou sabendo do Banquinho do Xadrez a emoção lhe tomou conta. Fixou residência na cidade e conforme anotações no seu diário, colocou-se um objetivo: “Даже если это займет тысячу лет будет научиться играть в шахматы”, traduzindo: “Nem que demore mil anos vou aprender a jogar xadrez”.
Pelo visto não está dando certo, mas...O milênio é longo.


6 comentários:

  1. Depois das últimas partidas disputadas por Xandovsky...Seus antepassados devem estar se revirando no túmulo.

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  2. Bem, amigos do banquinho: "rir (ainda) é o melhor remédio". "A regra é clara", assim como a foto: o terceiro da direita para a esquerda na quinta coluna (ops!) fileira.
    Achilles

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