domingo, 21 de agosto de 2011

A desnaturalização humana.

Será que podemos dizer que um dos “sentidos” é salvarmo-nos de nós mesmos? De nossa crescente idiotice? De nossa elevada cretinice? De nossa superior etapa de estupidez? De nossa expandida fase de asneira? O tempo passa e nos multiplicamos como micróbios sobre o planeta. Mesmo sabendo que praticamente já exaurimos os recursos energéticos do orbe e que já avançamos até o limite dos recursos naturais disponíveis, não paramos para medir com a lógica necessária os custos da exaustão total destes bens naturais sobre o equilíbrio demográfico e social. Ou fingimos não medir e não saber, velhacos que somos. Velhacos e espertalhões que somos, vamos deixar um mundo esgotado, que mal supre as necessidades de nossos sete bilhões de habitantes, para que as próximas e ainda mais numerosas e ávidas gerações resolvam a questão ambiental, provavelmente engalfinhando-se em horrendas guerras fratricidas em torno de alguns poços de petróleo, jazidas de minérios e fontes de água potável. O mesmo velho e previsível comportamento belicoso, bem conhecido do "Homo Sapiens". O cálculo malthusiano[1] é inexorável. A explosão demográfica sem precedentes acarretará mortandade também sem precedentes!

“- O mundo nunca esteve tão poluído!”, dizem os especialistas![2] Já estão até escrevendo a “História das Florestas”, para que as futuras gerações venham à saber o que foram estas formações naturais[3]. Num futuro não muito distante, é possível que só restem ilhotas de vegetação esparsas em um mundo aquecido, desértico e estéril; com clima instável ao extremo, com fauna e flora remanescentes só acessíveis a poucos e privilegiados observadores: ricaços, acadêmicos e ambientalistas. Os primeiros em busca do exótico "mundo extinto"; os segundos perscrutando o que restou em busca de amostras e respostas; e os últimos lamentando terem sido incapazes de evitar o “planetacídio” com o eufemístico “desenvolvimento sustentável” [4].
Enquanto o homem contemporâneo se esbalda na carne, na bebida, na droga, no sedentarismo e preguiça, no tabaco, no luxo, na luxúria e promiscuidades atuais; esquecendo-se voluntariamente de que existe um mundo natural cercando suas cidades artificializadas; os abatedouros, os matadouros, os pastos e as “plantations” tomam o lugar das antiqüíssimas e venerandas florestas que nutriram o estômago e o imaginário de nossos ancestrais, com suas ervas curativas e alucinógenas, com seus misteriosos animais e insetos. Delas e nelas surgiram lendas, contos e fábulas que enriqueceram a cultura humana como um todo. Vejam os clássicos, sempre citam a natureza, a vegetação, os animais, o clima, a topografia[5]. Vejam os impressionistas e seus quadros! Ou os modernistas e suas alusões ao “natural”. No último século, o distanciamento começou a se acelerar, e a aceleração vem aumentando, afastando-nos de tudo o que é natural, tornando nossa cultura também artificializada. Até a década de 70, cantores “folk” nos EUA, na Inglaterra e outros países, ou os sertanejos no Brasil, ainda falavam de seu contato com o sertão, com o mundo “country”. Hoje mistificamos a natureza por não conhecê-la intimamente. O Homem ainda não percebeu que a Natureza nunca foi sua inimiga. "Ela" o pariu. “Ela” o “projetou”. Ela tornou-o apto a habitar todos os seus recantos, e, ao fazer isto, selou seu próprio destino; pois a criatura esta devorando o seu criador. À "Ela", a Natureza, devíamos estar cultuando, venerando, respeitando, reverenciando e "escutando". Mas ao invés disso buscamos egoisticamente a tal "salvação" individual, iludindo-nos com sistemas teológico-filosóficos inventados artificiosamente por nós mesmos, para nos confortar com a ideia do descanso eterno e bem-aventurado. Tolos que somos.


[1] Confira o que disseram homens muito mais sábios que os de hoje sobre o assunto em: Hardin, G. População, evolução & controle de natalidade. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo. 1970.
Ver o catastrófico argumento de Malthus em: Malthus, T. R. Ensaio Sobre a População. Coleção “Os Economistas”. São Paulo: Abril S. A. Cultural. 1983, p, 271-384.
[2] Ver, por exemplo: Lovelock, J. Gaia. São Paulo: Cultrix, 2006. Flannery, T. Os Senhores do Clima. Rio de Janeiro: Editora Record, 2007. Davis, M. Ecologia do Medo. Rio de Janeiro: Editora Record, 2001.
[3] Ver: Perlin, J. História das Florestas. Rio de Janeiro: Imago, 1992.
[4] Ver: Nations, United. Basic facts about the United Nations. New York: United Nations Publication, 2004. Sustainable Development. p, 206-225.
[5] Ver: Heródoto: História. Ou Tucídides: História da Guerra do Peloponeso.

Um comentário:

  1. Boa reflexão. É patético ou irracional nosso atual padrão de consumo. Comemoramos estupidamente o crescimento do PIB sem nos darmos conta que em proporção inversa nosso planeta é rapinado por nós mesmo. Por essas e outras que sou pela economia planificada. Deixar tudo por conta do "mercado" é como dar arma na mão de macaco, ou do Luquinha.
    Agora, quanto à luxúria e promíscuidade...Não tenho nada contra...rsrsrssr. A não ser que esteja com sentido figurado.
    Mas enfim, acho fundamental essa reflexão feita pelo camarada Duds Cobain. Mas acredito que tal estado de coisas não será resolvido no capitalismo,posto que entendo que a destruição do planeta é inerente à lógica, ou falta dela, do sistema.
    Saimov comunista anacrônico

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