terça-feira, 4 de outubro de 2011

The Damned of Shiprock.























Nos confins da Terra, no território dos abismos, a luz das fontes inspiradoras é tênue demais para aquecer e iluminar a etérea alma sofredora, que lamenta plangente ter deixado como inacabada sua obra. Retomá-la é-lhe impossível, pois a memória antes espontânea e até constrangedora, tornou-se inválida, inútil e ameaçadora. Só serve agora para acusar-lhe insistentemente a falta grave e negligente; só lhe traz o aviso da obra inacabada, como lembrança imorredoura.

Essa obra guarda a história, a origem e a trajetória de eventos, que um dia agitaram multidões de seres à espera de milagrosos adventos. Ela contaria a verdade escondida e há muito tempo lacrada, que fez dos livres e valentes uma escória desprezível de anulados dementes.

Nas masmorras enegrecidas insetos devoram dejetos, em meio à lama fria e pegajosa do que antes foram resplandecentes e valiosos objetos. Nelas, mascaras de pele, osso e mofo ocultam o rosto culpado de infelizes criminosos no fundo do poço. Esquecidos pelos vivos que os odeiam, aguardados pelos mortos..., que os anseiam.

Da existência fácil, fútil e confortável, guardam apenas lembranças que em nada amenizam seu estado deplorável. Preconceitos e ódios, orgulhos e vaidades, em corpos fortes e belos, altos e ágeis. Combinação explosiva de atitudes abusivas. Destempero e vingança prodigalizaram com crueza, tirando dos fracos e indefesos o apoio da vital esperança, fazendo de suas infâmias atos explícitos de ousadia e leviana proeza.

Juízes e carrascos de si mesmos, com voracidade agora se consomem; espantalhos irreconhecíveis do que antes eram homens. Tudo o que antes lhes era óbvio, íntegro e amoral, agora lhes parece estranho, corrompido e anormal. Uma grande peça lhes pregou a consciência ao manter-se viva e lúcida desmentindo o que lhes vinha afirmando sua terrena ciência. Veredito condenatório lhes foi pronunciado. E não há acordos, recursos ou expedientes que lhes livrem da redoma invisível com que seu próprio juízo agora lhes prende.

E sabe o que é que acontece, moço?

A pedra se transforma em areia e esta em poeira...

O corpo se transforma em esqueleto, e este em pó...

A fé se transforma em descrença, e esta em indiferença...

O amor se transforma em amizade, e esta em cumplicidade...

A semente se transforma em árvore, e esta em morada de aves...

O Sol se transforma em gigante vermelha, e esta em anã branca...

A carne se transforma em carniça, e esta em necrochorume...

A beleza se transforma em lembrança, e esta em lapsos incoerentes...

A vitória se transforma em derrota, e esta em lamento...

O verso se transforma em inverso, o vice em versa...

O calor se dissipa e o frio o substitui, o tempo passa e a hora se perde.










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