segunda-feira, 16 de abril de 2012

E AGORA JOSÉ?


E de repente, não mais que de repente, a Península Ibérica separa-se do continente europeu, transformando-se em uma imensa “Jangada de Pedra”. A morte para de exercer suas costumeiras atividades, deixando incomodados os capitalistas do ramo defuntístico e aflitos os entes que, vendo seus velhos não morrerem, anseiam pelo fim das “Intermitências da Morte”. Uma epidemia de “Cegueira” culmina com respeitáveis senhores cedendo o monopólio da vagina de suas esposas a terceiros, tudo em nome do pão de cada dia. Maria Madalena tem sua noite de amor com um esfarrapado homem de Nazaré, contrapondo aos sagrados dogmas o “Evangelho Segundo Jesus Cristo”. A família Mau-Tempo vê suas gerações serem consumidas pelo latifúndio em uma autoritária Portugal.
E agora José morreu...
Romancista, socialista, mordaz crítico social, e porque não filosofo? José Saramago foi antes de tudo um homem profundamente sensível frente às questões sociais de seu tempo. Fez de seus romances sua arma política e o fez com uma sensibilidade, graciosidade e profundidade inconfundíveis. Sua refinada ironia, sagaz percepção e lucidez analítica, forjaram uma obra literária de inquestionável excelência, que combina os talentos estilísticos mais caros aos herdeiros de Camões com uma intensa paixão pelas causas sociais.
Nascido em 1922, José Saramago passou pelo século como uma cometa em noite escura, iluminando e deixando atrás de si a marca indelével de sua passagem. Mergulhar nas intensas e por vezes áridas páginas de sua obra, por vezes é como fazer uma viagem à uma Portugal desconhecida de nós brasileiros, e por outras, parece com um “descer às profundezas da alma humana”, onde habitam nossos desejos, instintos e receios mais inconfessáveis.
E morreu o tal José...


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