quarta-feira, 4 de julho de 2012

Imprensa e democracia


Duas décadas de ditadura militar deixaram marcas indeléveis na sociedade brasileira e mesmo com a democracia formal já restabelecida há mais de vinte anos, os traumas da censura e das restrições às liberdades civis ainda assombram as gerações que viveram naqueles idos. Bom mesmo que assombrem, e que as novas gerações tomem em suas mãos a responsabilidade de nunca mais permitirem algo parecido como o regime instaurado em 1964. A liberdade, a crítica e a democracia são condições inclusive para pensarmos o socialismo no século XXI.
Porém, esse trauma causado pela noite que caiu sobre o Brasil após a deposição do presidente João Goulart, muitas vezes serve encobrir com o manto do “democratismo” grupos e práticas nada democráticos. Em nossos dias, qualquer referência que se faça no sentido de regulamentar ou mesmo responsabilizar setores da imprensa por suas práticas, soa como verdadeira heresia e prontamente os cavaleiros da pseudo-liberdade desembainham suas espadas.
A imprensa deve sim ser livre e desfrutar de toda liberdade, entretanto, como qualquer órgão público ou privado, precisa responder por suas práticas, se responsabilizar perante a sociedade, uma vez que está inserida até as entranhas nessa, não pairando angelicalmente e imparcialmente sobre o resto dos simples mortais. Tendo em conta, sobretudo, os grandes conglomerados de televisão, jornal, rádio e revista, temos que ponderar que tais veículos são empresas privadas, nas mãos de grupos sociais bastante específicos da elite brasileira e que dessa forma, muitas vezes possuem interesses que nada tem em comum com democracia ou justiça social. Essa gente tem interesse próprio e a preservação de seu capital e de sua influência raramente não está à frente do bem estar da sociedade.
Nesse sentido, a falta de fiscalização e de responsabilização dessas empresas de comunicação de massa, isso sim, pode representar riscos à democracia. Golpes são gestados nas páginas de revistas ou nas bancadas onde se diz “boa noite”. Governos são derrubados, planos econômicos boicotados, a “boataria” dissemina o pânico, a mentira e a calúnia denigrem biografias respeitáveis e as figuras mais deploráveis são colocadas como paladinos da virtude. A democracia é corroída, apodrece. A ilusão da falsa neutralidade obscurece os obscuros interesses de classe do “capitalista midiático”, ligado umbilicalmente aos setores mais reacionários e egoístas da sociedade brasileira.
Em uma sociedade com um judiciário independente, não atrelado ao poder executivo, parece extremamente salutar que a imprensa não fique acima do bem e do mal, como se fosse o anjo a decidir que vai pra tal ou qual barca. Só dessa forma podemos evitar que ela paire como uma guilhotina sobre a democracia.

Saymon de Oliveira Justo

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