Há várias modalidades de pessoas
mentirosas. Mas a pior delas é aquela que acredita na mentira que está
contando. Traiçoeira e dissimulada, nutre suas mentiras com tanta convicção que
chega a mesclar sua realidade com o seu mundo de ficções, criando assim uma
terceira via nos moldes de seus interesses mais obscuros.
Há que se ter muita cautela com
pessoas assim, porque não é difícil que ela faça a sua imagem descansar aos
cuidados do chão. Também não custa muito e pessoas de um determinado círculo
passarão a lançar contra você um olhar aterrorizador, porque ao destilar a mentira
o mentiroso acrescenta em seu tubo de ensaio o melhor de si e extrai em seu
erlenmeyer o pior da vítima, criando assim um Frankenstein argumentativo nada
salutar para quem sofre o processo.
Imagens de outrora, gestos e
hábitos ou até mesmo objetivos declarados, tudo entra na dança e serve ao
mentiroso como matéria prima de suas alucinações, demonstrando que entre ele e
as informações de que se utiliza há tão somente uma relação parasita.
Pouco importam os antigos laços,
pouco importa a opinião alheia. Tudo deve servir ao propósito maior de exaltar
a realidade que o mentiroso necessita fazer existir, porque se do contrário
for, ele mesmo não existe e assim o seu mundo particular perde qualquer
sentido. Daí a necessidade de expor a mentira, sua obra prima, para que todos a
vejam, para que todos lancem seu aval tácito e assim coroarem o mentiroso com
gestos de aprovação e moções de apoio.
Diante de um veneno tão bem
inoculado, por vezes a vítima acaba por não saber o que fazer e comete o erro
de tentar retrucar a mentira. Ledo engano...Mal sabe ela que assim a encrenca
se amplia. Há certas situações que demandam tão somente o silêncio. Impassível,
no primeiro tempo se mostra fraco e impotente, mas quando aplicado de forma
determinada, revela-se a contraface que escancara as ânsias do mentiroso,
fazendo-o se recolher, ao final, à insignificância de suas opiniões maquiadas.
Rafael Guerreiro
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