quinta-feira, 11 de abril de 2013

Muito Barulho


O Feliciano é realmente uma pessoa ímpar no cenário político. Carismático entre os seus, arrebanha multidões em enormes cultos evangélicos. Possui ótima oratória e um raciocínio rápido, elegante e lógico, conseguindo convencer milhares de pessoas. Ele maquia com maestria questões difíceis de serem digeridas por pessoas que não comungam de sua crença religiosa ou de seu posicionamento político.
As vezes fico a pensar como pessoas negras ou mestiças ou com orientação sexual diversa daquela por ele aceita ainda conseguem frequentar os cultos religiosos por ele liderados depois de declarações aberrantes proferidas em desfavor destas mesmas pessoas. O fato é que tudo reside no poder da oratória e na disposição alheia de desejar uma palavra capaz de salvá-la a qualquer custo de um mundo extremamente inóspito e causador de uma profunda sensação de estranhamento.
Curiosamente, Hitler conseguiu o mesmo na Alemanha Nazista. Da mesma forma, com seu discurso extremamente bem arquitetado, com profundo senso lógico e oratória impecável convenceu milhares de pessoas a compartilharem de uma ideia de mundo profundamente excludente e segregante. E muitas, mas muitas pessoas mesmo se sentiram amparadas dentro da esquizofrenia hitleriana.
Feliciano se diz amparado pela Bíblia, interpretada a seu bel-prazer, servindo às suas distorções particulares e inclinações sem muito pudor. Hitler, sem se dar conta de sua megalomania, mergulhava cegamente em sua eugenia iluminadora da humanidade.
O que vejo em comum entre esses dois personagens curiosos é que ambos se sentem verdadeiros portadores da verdade suprema que, na sua visão particular, se fosse aceita por toda a humanidade nos conduziria à iluminação e comunhão plena com o Sagrado.
E no meio de discursos inflamados, embebidos em lágrimas, suor e muita saliva que espuma pelos cantos de sua boca e também no microfone, Feliciano grita avidamente em favor de sua crença e contra a cor, dignidade ou, mais recentemente, contra o Deus de outras pessoas, trazendo no peito uma convicção tão contagiante que foi capaz de criar uma das maiores aberrações políticas de nosso tempo, o Deputado Feliciano, com mais de 200.000 votos e nenhum pensamento crítico.
Hitler tornou o mundo de sua época um pouco mais barulhento graças à sua artilharia disparada contra as diferenças alheias. Feliciano, por sua vez, torna, igualmente, o cenário político brasileiro um pouco mais barulhento com seus gritos e seu êxtase tão certos de si mesmo que nem se dá conta de como o mundo fica cada vez mais barulhento, cada vez mais barulhento, barulhento...

Rafael Guerreiro

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