quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

AINDA SOBRE O ABORTO

Camarada Rafinha
Pra falar a verdade, ainda não tenho uma opinião formada sobre a descriminalização do aborto. Ao contrário do que dei a entender (em razão do enfoque que escolhi), não sou contra por princípio.
Concordo plenamente com você no sentido de que a descriminalização, acompanhada por uma “estrutura institucional mais capacitada a promover maior suporte médico, psicológico e social às mulheres que optaram pelo aborto”, preservaria bem mais vidas do que o lamentável estado em que nos encontramos hoje.
Porém, ainda me sinto incomodado com a tomada de decisão sobre abortar ou não levar em consideração, primeiramente, a mulher. Gostaria que dissertasse mais sobre isso. Por que o direito da mulher tem primazia sobre o do bebê? Ainda mais que, como bem você colocou, o bebê é um ser indefeso e dessa maneira, o Estado deveria zelar ainda mais por sua vida. Ainda penso que nem a mãe e muito menos o Estado tem o direito de decidir sobre a vida ou a morte do feto.
Salvo quando a mãe corre risco de vida com a gravidez, penso que ela e o Estado devem garantir o melhor desenvolvimento possível ao feto. Se a mãe não o quiser, depois é outra história.
Quanto a outra questão, sei que o aborto é, na maioria das vezes, extremamente traumático para a mulher e que a descriminalização provavelmente não seria acompanhada pela banalização do aborto. Entretanto, trabalho desde a mais tenra idade e já vi todo tipo de constrangimento que a classe patronal é capaz de impor. Não acredito ser tão kafkaniano assim a pressão de empresas para que suas funcionárias abortem. E nesse sentido, posto o quão traumático o aborto é para a mulher, visualizo o trauma da trabalhadora pobre, caminhando para o aborto como um boi para o abate.
Concordo com Marx de que a primeira ação humana é para obter a subsistência e assim, é a existência concreta que determina (condiciona) a consciência, e não o contrário. Por mais pudor e traumas que o aborto traga à mulher, a pressão da subsistência, a necessidade do emprego falará mais alto. A voz do patrão será a sentença de morte do bebe. Não duvide de um patrão, meu caro. Já vi coisas que horrorizariam até mesmo Lúcifer (se ele existisse é claro).
Gostaria de saber se em sua opinião, que defende a descriminalização do aborto, esse poderia ser feito até qual mês de gestação. Quando você considera que já há uma vida no ventre da mulher? Qual o mês de passagem entre a vida e a “não vida”?
Por fim, concordo e partilho de sua preocupação com o atual estado das coisas, onde centenas de mulheres morrem em verdadeiros açougues em busca de um aborto clandestino. Uma política efetiva de planejamento familiar e de conscientização, aliada a uma condição mais digna de vida, não teria um impacto mais positivo e menos problemático?
Bom, vou ficando por aqui, mas gostaria de contribuição dos colegas para o debate levantado pelo Rafinha. Do contrário, cada um ficará postando seus textos, desconexos uns dos outros, e não chegaremos a lugar algum. Assim, faço também um apelo para que o Pedrinho entre no debate.

SAIMOV KASPAROV

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