quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

As cabeças coroadas.

                                             As cabeças coroadas.

Existiram e existem ainda hoje muitos tipos de reinos e monarquias. Aristóteles, filósofo grego que viveu no século IV A.C, já havia classificado as formas de governo em três tipos principais, a saber: a Monarquia (o governo de um só), a Aristocracia (o governo de alguns), e a Democracia (o governo de muitos). Na Monarquia absoluta, muito difundida na Europa nos séculos XVI, XVII e XVIII, todos os poderes políticos do Estado se concentravam na pessoa do Rei. O exemplo mais representativo deste tipo de reinado foi o exercido pelo rei Luis XIV (1661-1715), da França, chamado Rei Sol. Este rei costumava dizer que “o Estado sou Eu”, deixando claro que todas as decisões políticas importantes deveriam passar por sua avaliação e aprovação.
    Ainda segundo Aristóteles, quando um monarca se desvia das leis pré-estabelecidas e passa a governar com desprezo pela vida e pelos direitos individuais de seus súditos, a Monarquia se transforma em Tirania, ou seja, o rei governa apenas em beneficio próprio. Na prática do governo monárquico o que se observa nos dias de hoje são monarquias mistas, ou seja, monarquias onde os poderes do rei são contrabalançados por outras fontes de poder estatal, como o Parlamento (na Inglaterra), a Constituição (em Antígua, Estado independente, integrante da Comunidade Britânica; em Barein, no Golfo Pérsico; na Bélgica; na Dinamarca; na Espanha; na Holanda; na Jordânia, país do Oriente Médio; no Kuwait; no Luxemburgo e em Liechtenstein, países europeus; na Malásia, país asiático; no Marrocos, país africano; no principado de Mônaco; no Nepal, país centro-asiático; na Noruega; na Nova Zelândia, súditos da rainha Elizabeth II, da Inglaterra; em Papua Nova Guiné, país da Comunidade Britânica, em Samoa, na Oceania; na Suazilândia, país africano; na Suécia; na Tailândia, país asiático; no Reino de Tonga, um conjunto de ilhas da Oceania), e o Estado de Direito (como em Andorra, na Europa, que possui um príncipe, mas é governada por representantes do governo espanhol e francês, com o consentimento dos representantes do Conselho Geral de Andorra).  Mas ainda existem monarquias absolutas como no Butão, país asiático a leste do Himalaia; no Catar, país do Golfo Pérsico; no Lesoto, país africano; em Omã, na península arábica; na Arábia Saudita, onde não há constituição escrita e o rei escolhe o conselho de ministros.
    O poder dos reis foi justificado pela “doutrina da natureza divina dos governantes”, sustentada por filósofos e pensadores europeus dos séculos XVI e XVII, como Jean Bodin (Os Seis Livros da República) e Thomas Hobbes (O Leviatã), e vigorou até o advento das idéias iluministas e a eclosão da Revolução Francesa, que extinguiu o chamado Antigo Regime, baseado no poder absoluto dos reis, e nos privilégios dos nobres e do clero católico em detrimento das classes populares. A doutrina do poder divino dos governantes é muito antiga, e foi tomada ao “pé da letra” em algumas épocas e lugares. Por exemplo, os Faraós do Egito, os Imperadores Romanos, Os Reis Carolíngios[1], os Príncipes Orientais (da Babilônia, da Assíria, da Pérsia, da Índia, da Armênia, e outros), os Príncipes Bizantinos, os Czares Russos[2], os Imperadores Astecas, Maias e Incas, e até o Imperador do Japão até o final da Segunda Guerra Mundial eram considerados Deuses Vivos, ou Seres Divinos. Duvidar desta condição celestial dos reis era incorrer em blasfêmia, geralmente punida com a pena capital (execução pública). Alguns reis da Idade Média, chamados “reis taumaturgos” [3] eram mesmo considerados milagreiros, e acreditava-se que um toque ou um simples olhar do soberano era capaz de curar as mais diversas e fatais moléstias.  Com o decorrer do tempo novas doutrinas políticas vieram a contestar o poder divino dos reis, mas ainda hoje se encontra pelo mundo a mistura de religião e política que faz parte da História da humanidade a milênios.


[1] Ver: Halpen, Louis. Carlos Magno e o Império Carolíngio. Editorial Inicio. Lisboa, Portugal, 1970.
[2]  Ver: Romanoff, N & Payne, R. Ivan , o Terrível. Trad. Aurélio de Lacerda. Editora Nova Fronteira. RJ, 1975.
[3] Ver: Bloch, Marc. Les Rois Thaumaturges.(1924) Ou: Bloch, M. The Royal Touch: Sacred Monarchy and Scrofula in England and France. Trad. J.E. Anderson. Londres: Routledge & Kegan Paul, 1973.

Nenhum comentário:

Postar um comentário