quarta-feira, 14 de setembro de 2011

O Netuniano.


PLANETA NETUNODEUS NETUNO

Não foi difícil afogar-se imaginariamente na nublada camada gasosa azul-escura de Netuno, o filho pródigo mais afastado do pai Sol. Fisicamente, o frágil e desadaptado Homem não suportaria seus ventos planetários de 2100 quilômetros por hora, à temperatura negativa de -218° Celsius, com sensação térmica de zero absoluto, -273,15°. Entretanto, sua mente pôde afundar-se em seu gelado mar de amônia, metano e acetato, após decair livremente por sua atmosfera plasmática, turbulenta e eternamente tempestuosa, até chegar a seu núcleo massivo de rochas derretidas a 7000 graus Celsius. Assim ele tocaria as entranhas radiantes e misteriosas do orbe; sentiria seus segredos de cinco bilhões de anos sendo desvendados. Contataria sua fabulosa e hipotética fauna, evoluída sob a pressão atmosférica de trezentos quilogramas-força por centímetro quadrado! Observaria sua improvável e despigmentada flora não-fotossintética, exuberante e pitoresca sob o peso da aceleração gravitacional de onze metros por segundo ao quadrado!

Mas eis então que, ao invés de "observador" intangível e privilegiado que se acreditava, a psique extra-netuniana percebeu-se “observada” e “psicanalisada” por inteligências alienígenas superiores! Em pavor mórbido, o temerário e temeroso imaginário humano fugiu em pânico, superando abruptamente a velocidade local de escape num hiper-impulso de 23,7 quilômetros por segundo, aterrissando em pensamento no corpo adormecido de um terrestre ordinário em pleno desvario onírico. O fez em velocidade superior a da luz, que contorna a Lua e volta em menos de dois mil milésimos terráqueos!

As criaturas bizarras que em Netuno o envolveram e abduziram, com pesadelos fantasmagóricos agora o afligiam. Pois como seres leitores de mentes se especializaram, e em devoradores de pensamentos evoluíram e se adaptaram. Em festins aparatosos nossas mentalizações degustavam, e de nossa inteligência iguarias finas e muito cobiçadas preparavam!

O efêmero cérebro humano não escaparia ileso de semelhante viagem interplanetária. Ao sabotar levianamente os prosaicos padrões físicos terrenos camuflando-se de argonauta netuniano, condenou a sede de seu intelecto, sua psique, imergindo fundo demais naquelas pavorosas e sublimes condições, infectando-se por micro-criaturas psico-parasitárias. Por entregar-se inconseqüente a tais devaneios geo-cósmicos, sofreria irreversíveis dissociações com a realidade, tal qual havia sido compreendida por seus ancestrais, desde tempos imemoriais... E tendo sido fatalmente contaminado e ferido pelas afiadas lanças tridentadas, embebidas nas poções mágicas dos deuses de Neptuno, foi desde então assediado por utópica e primeva fixação pelo astro azul marinho sem estações da periferia solar, tendo seu inconsciente para sempre sugado para o interior de seus corações negro-azulados.




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