quarta-feira, 7 de setembro de 2011

ENSAIO SOBRE O ANONIMATO

O coronelismo foi uma prática bastante característica em algumas regiões do Brasil até o século passado, sendo que de certa forma e com algumas modificações, subsiste até os dias de hoje em alguns rincões do país. Grosso modo, o coronel (geralmente um proprietário de terras) constrangia seus apadrinhados ou seu curral eleitoral a votar nos candidatos que apoiava, seja por meio de violência física, econômica, moral...Em um contexto desses o direito ao voto secreto, ou anônimo, é uma medida altamente progressista de aprimoramento democrático.
            Em um regime autoritário, como o instituído no Brasil pelo golpe militar de 1964, o anonimato, mais que uma garantia de se conseguir expressar certas idéias, era também condição para a manutenção da própria vida. A panfletagem, a pixação e várias outras formas de manifestação contra o regime podiam ser punidas com as medidas mais repugnantes possíveis e o que preservava a integridade física dos dissidentes era justamente o anonimato.
Atualmente, em nossas casas parlamentares, seja senado, câmara dos deputados, dos vereadores, o direito ao voto secreto, ao anonimato, pode assumir um caráter bastante retrógrado e nefasto, posto que preserva os interesses corporativos em detrimento das demandas públicas. Se em determinados regimes políticos o voto secreto serve para proteger o parlamentar dos constrangimentos de um executivo, em outras ocasiões funciona como escudo da corporação contra o controle popular.
Em um blog onde não há nenhuma forma de constrangimento aos comentadores, a não ser as próprias tréplicas; onde qualquer um com acesso a internet pode postar sua opinião sem nem mesmo os inconvenientes daquelas letrinhas chatas de verificação; onde não existe qualquer tipo de represália ou moderação, o anonimato pode assumir a forma de covardia, vilania, baixeza das mais baratas. O comentador anônimo pode, em alguns casos, usar desse expediente para passar da crítica à provocação e às ofensas pessoais, escondendo-se covardemente por detrás de sua megalomania. Tal qual o pedófilo virtual, esse anônimo priva seu interlocutor dos meios necessários para se defender. O “atacado” não pode conhecer a totalidade dos argumentos do anônimo, não consegue utilizar suas próprias contradições e muitas vezes nem mesmo sabe se dois textos são do mesmo anônimo. O anônimo pode incorrer nas mais absurdas contradições e ficará protegido por sua covardia. É uma luta injusta e covarde, tal qual o bandido armado contra o cidadão desarmado.
Apesar disso o direito ao anonimato deve ser preservado, podemos ser contra o uso do anonimato, mas não contra o direito dos comentadores escolherem entre se mostrarem ou não. Em muitas ocasiões o anonimato é apenas um expediente inocente para poupar trabalho de se identificar, ou um lapso ou mesmo fruto da legítima timidez. Nesse sentido, o anonimato não é bom ou ruim a priori, podendo assumir desde a face da auto-preservação e timidez até a covardia e a vilania.

SAIMOV

P.S. Por favor, não estou propondo executar os anônimos, mesmo porque seria difícil identifica-los (rsrsrssrrs) e muito menos propondo acabar com o direito ao anonimato, bem ao CONTRÁRIO. Acho que deixei isso claro no texto, mas...Nunca se sabe como um anônimo pode entender.

Um comentário:

  1. Não ficaram claros em seu texto os motivos pelos quais o anonimato deveria ser preservado. Eu já me posicionei acerca do assunto há tempos atrás, e mantenho minha visão de que o anonimato não deveria existir em nosso blog.
    Depois de mim, os anônimos são os mais perseguidos aqui no banquinho. Mas dou razão a isso pelos seguintes motivos que passo a elencar.
    A liberdade da qual dispõe o nosso blog não pode ser confundida com o direito ao anonimato. Em um meio de comunicação como o blog, onde impera a escrita como principal forma de nos comunicarmos, deve haver o respeito ao conhecimento da fonte que escreve. Do contrário, incorremos nos excessos já presenciados aqui das mais variadas maneiras, onde pessoas se utilizam da máscara do anonimato para abaixarem o nível das discussões e proferir ataques desagradáveis e muitas vezes mal-educados.
    Na democracia em que vivemos, temos o direito de ser livres para expressar nossas opiniões, seja qual a forma que desejarmos utilizar. Mas isso não significa estarmos despojados do dever de responsabilidade que paira sobre todos os maiores de 18 anos de responder pelos atos que praticam.
    O contexto em que nos deparamos aqui neste humilde blog não é diferente. Até mesmo porque se apenas nos posicionarmos a favor do direito ao anonimato, corremos o risco de sermos injustos e omissos com o direito do qual dispõe a pessoa que sofre a crítica de saber suas razões e sua origem.
    Se alguém deseja se comunicar com outra pessoa através dos Correios, p. ex., necessariamente deverá apôr em sua carta a origem da correspondência, sob pena de não a ver devidamente encaminhada ao seu destino. E isso não representa qualquer censura, antes, denota segurança e respeito para com quem recebe a correspondência.
    Aqui no blog lidamos com correspondências eletrônicas, seja na forma de uma publicação, endereçada ao público em geral (leitores), ou tão somente como um comentário (endereçado ao escritor de certa publicação). Sinceramente, não vejo razões práticas para tratarmos essas modalidades de correspondência de forma distinta das tradicionais cartas.
    Recentemente, eu fui mais uma vez mal interpretado pelo nosso querido e anacrônico marxista de plantão, quando este jovem e mais promissor detentor da verdade universal me acusou de praticar censura em meu blog particular (www.ficcoesdoespirito.blogspot.com). Só o Ivan, criado, diga-se de passagem, por este mesmo marxistazinho, para ser mais tosco que isso.
    Oras, se me dou ao direito de criar um blog, nada mais normal do que criá-lo da forma como desejar, afinal, sou o único responsável pelo seu conteúdo e manutenção. E mais normal ainda que eu deseje saber a natureza e a origem das opiniões que se formam ao redor das ideias ali por mim publicadas.
    O grande problema que presencio por aqui é justamente o excesso de zelo de alguns por um, de certa forma, anômalo conceito de liberdade de expressão, o qual essas mesmas pessoas adoram defender com unhas e dentes, porém, sem as devidas críticas e, sobretudo, sem analisar corretamente os dois polos da questão. Olha-se com muita facilidade e com toda empolgação das doutrinas libertárias para esta suposta liberdade de expressão, mas nem de longe analisam a outra extremidade da discussão, o escritor que sofre passivamente as pedradas anônimas. O mais interessante é que os mesmos que defendem este anonimato quase sagrado, são os mesmos que choram quando são atacados e depois instigam os anônimos a dizer seus nomes. Não me parece uma medida das mais razoáveis e lógicas!

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