domingo, 25 de dezembro de 2011

Sobre grilhões, jaulas, redomas e colméias.


As pessoas pensam e sentem, em grande medida, a partir do que lhes é fornecido pela mídia que os cerca, e pela comunidade linguística na qual se vêem inseridos, por opção ou por nascença.
Algumas tentam escapar do domo cultural que as encobre e que delimita suas ações e pensamentos esquivando-se para os ângulos mais obscuros da grande estufa que alimenta seu ethos cultural. Por vezes, desta clausura, conseguem avistar o que há do lado de fora de seu domo; ou mesmo observar o que se passa dentro de zimbórios externos ao seu. Pouco importa o que avistam. Continuarão a sentir, agir e pensar o que é típico do “clima” interior de sua “estufa” ideológica.


Não teremos, não seremos e não conseguiremos o que a alfândega de nossa redoma não permitir que entre em nosso “espaço”. A aduana mais rigorosa que existe é, a meu ver, a aduana ideológica, seguida da linguística. E ela delimita não só o que vem de redomas externas, mas pior, o que deve ou não circular entre as categorias de pessoas que habitam a mesma estufa. Ou seja, o “status quo” é preservado de acordo com a vontade de pouquíssimos poderosos- ignorantes -presunçosos que mal sabem que também são meras “plantas" cultivadas dentro da “estufa” do Estado-Nação moderno.Plantas daninhas e parasitárias...
Mas há agravantes que tornam ainda mais negra esta visão do “efeito estufa mental”. As tais redomas se sobrepõe, não sendo a do Estado-Nação a última delas, o que significa que simplesmente derrubá-lo não nos libertará ou trará ar puro às nossas congestionadas mentes. A última e mais poderosa redoma é a do Capitalismo Globalizado. Esta sim é insidiosa, odiosa, e nos dita o que vestir, o que ter, o que ver, o que comprar, o que ler, o que assistir, o que querer, o que aspirar, o que ser, o que comer e beber. Ir contra este imperativo pérfido transmitido pela propaganda midiática global é “heresia”, punida com sarcasmo, bulling, deboche, esnobismo e menosprezo pelos que podem se encaixar nos protótipos e padrões de “consumidores” ideais. Tudo muito ridículo, desditoso, hipócrita, mesquinho, artificial, desumano e falso..., e assim o é.


Telefones com câmeras; tevês com karaokê, ligadas a cabos e satélites; telefone com net e visor; celulares com MP3; carros com TV, frigobar e ar condicionado; casas com sauna, piscina, sala de musculação e mirantes; computadores com memória “giga ou tera-valente”; computadores com câmeras e velocidade de recepção de dados muitas vezes além do razoável e útil; aviões particulares; helicópteros e iates de uso individual. O que é razoável e realmente necessário é irrelevante, hoje. Quem dita os caprichos da extravagância aquisitiva são os “magnatas” do domínio capitalista setentrional, auxiliados por seus cupinchas-marionetes-imitadores meridionais.
A questão é que as “ordens” que nos chegam em forma de idéias artísticas, literárias, musicais, imagéticas, científicas, econômicas, filosóficas, militares e mesmo religiosas, alcançam-nos misturadas à novos valores, à novas leituras da realidade, à novas modalidades de vivenciar o cotidiano, ao culto a tudo o que parece moderno, pop e arrojado. Mas todo o núcleo subliminar dessa massificação de hábitos, gostos e valores é de conteúdo ideológico. São pílulas douradas, atraentes e irresistíveis, que engolimos à seco sem pensar nas conseqüências; exatamente como os “ácidos” que surgem nas Raves e Techno-festas, distribuídos como agradáveis complementos para memoráveis noites erótico-dançantes. O que não se calcula é a conseqüência da inconseqüência, o desdobramento do embotamento, a subvalorização da despersonalização.


E como as pessoas passam a acreditar que este “modus vivente” é o único viável e válido? Através do “número”. O peso do “número” dos envolvidos na engrenagem de produção/consumo da modernidade é tão abrangente que não se cogitam modos alternativos de vida. Ou não se cogitam seriamente, sendo estas tentativas relegadas ao marginalismo e ao opróbrio de alcunhas depreciativas como “superado”, “obsoleto”, “atrasado”, “terceiro-mundista”, “desvairado”, “contraproducente”, “inviável”, “aloprado”,"utópico", etc.
A doutrinação, aceite-se ou não, começa na infância, no seio familiar, apoiada pela onipresente mídia; e se desenvolve exponencialmente na escola, na religião, no trabalho e na sociedade. E enfim, têm-se mais uma “abelhinha operária” submissa e lobotomizada a serviço das “benevolentes rainhas” setentrionais da grande colméia ...
Inverdades são engolidas como soluções; explorações são suportadas como desígnio divino; humilhações são subentendidas como resultado de diferenciações “naturais” entre os homens; indignidades são sofridas em silencioso amedrontamento; a mente é lavada e ensaboada com a espuma tóxica e fantasmagórica do "politicamente correto e conveniente"...Poucos "zangões" escapam deste hipnótico e zoófago estado de coisas, só para morrerem solitários em pleno vôo libertário!




Dividir e subdividir para melhor controlar estes exércitos de trabalhadores alienados e estranhamente satisfeitos. Eis o método. Criam-se modas, clubes, manias, esportes, entretenimentos e estilos de vários gêneros de bens de consumo cultural para que os indivíduos percam seu tempo em altercações de pequeno porte, esmagados sobre as unhas micóticas do gigante, sem nunca suscitarem a imensidão de seu verdadeiro tamanho, e nem a enormidade da guerra a travar.






“- Não deixemos que pensem, distraiam-nos com brinquedos!”.
“- Não deixemos que se rebelem! Dêem-lhes as quinquilharias digitais hipnóides que tanto apreciam, e que nos enriquecem mais e mais!”.
“- Não os incentivem a liberar seus potenciais energéticos, mantenham-nos no ócio para que a inércia os apodreça”.
“- Forneçam-lhes as quimeras fictícias tradicionais, céu para os bons, inferno para os maus, recompensas no “além”, eternidade para os eleitos, haréns para os mártires, etc.”
“- Paguem-lhes sempre o mínimo possível, mantendo-os em subjugação econômica dissimulada em independência e autonomia”.
“- Sejam implacáveis na arrecadação de impostos! Assim trabalharão mais para arcarem com a carga deles”
“- Não deixem, nunca, que se aliem em grandes multidões a reivindicar direitos ou ‘justiça’, para que nunca venham a conhecer o poder que detém”.
“- Tirem o máximo proveito das festas, dos carnavais, das gratificações, dos direitos concedidos, dos jogos e distrações populares para que pareçam dádivas de um Estado benfeitor e paternal que sempre acudirá os ‘desesperados’ nos momentos de crise”.
“- Criem uma capital distante dos grandes centros industriais, para que o operariado não marche nunca em direção ao congresso e ao palácio do governo nacional”
“- Deixem que rezem, que orem, que peregrinem, que cultuem, que venerem. Quanto mais poder atribuírem ao sobrenatural, mais poder natural exerceremos sobre eles”
“- Que se entreguem aos vícios e jogos, contanto que controlemos os preços e a oferta dos primeiros e a contabilidade, regras e prêmios dos segundos”
“- Que se acomodem com suas supostas soluções simplistas e metafísicas; que sejam obtusos e ignorantes. Importante é que mantenhamos as rédeas do domínio”
“- Crucifique-os !”. “- Enjaulem-nos !”. “- Às masmorras com eles !”. “- Jogue-os aos leões !”.
“- Queimem-nos nas fogueiras !”. "- Apedrejem-nos !". “- Enforque-os !”. "- Fuzilem-nos !". "- Bombardeie-os !". "- Empalem-nos !". "- Emudeçam-nos !". “- Eletrocutem-nos !”. "- Entorpeça-os !".
“- Desumanize-os !”...

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